15 | p e s a d e l o s

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"É difícil ser corajoso quando você está sozinho no escuro
Eu disse a mim mesmo que não ficaria com medo, mas ainda tenho pesadelos
[...]
Escavando velhas lembranças, mantive meus medos em uma mala
Eu os tranquei em um lugar
Que eu não encontraria, mas eles ainda me assombram"
— Nightmares, All Time Low.

]Escavando velhas lembranças, mantive meus medos em uma malaEu os tranquei em um lugar Que eu não encontraria, mas eles ainda me assombram"— Nightmares, All Time Low

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Eles sorriem um para o outro, mamãe rindo de uma piada que meu pai acabara de contar. A gargalhada dos dois massageia meus tímpanos, macias. Surreais.

Os olhos escuros de mamãe encontram os meus pelo retrovisor, brilhantes. "Filho", ela me chama. "Coloque o cinto."

Eu tento, mas não consigo. Ele não encaixa, não prende. Logo as mãos da minha mãe estão sobre as minhas, seu corpo se esticando para alcançar o meu do banco da frente.

Ela também não consegue. Está irritada, percebo. Não sorri mais.

Papai vira o rosto para trás, revezando sua atenção entre dirigir e acompanhar a saga do cinto de segurança.

Ele também não sorri mais.

Mamãe começa a reclamar. Ela diz que o cinto está quebrado, que já deveria ter sido consertado. Papai diz que não teve tempo, que trabalha o dia todo, todos os dias.

Agora eles estão brigando. Suas vozes alteradas acertam meus tímpanos como pregos sendo martelados, dolorosas. Irreais.

Mamãe ainda não parou de tentar encaixar o cinto. Papai se vira para trás mais uma vez. Questão de segundos, até milésimos.

E, no instante seguinte, tudo escurece. Um grito feminino e agudo é a última coisa que escuto. Um grito assustado, cheio de pavor. Um som horroroso.

Silêncio.

Então, uma voz infantil surge, cabelos ruivos deslizando por entre meus dedos.
Quando levanto os olhos, quase posso escutar o oceano de suas íris. As ondas alcançam a costa, deslizando pela areia. Um cheiro salgado me invade.

"Quer ver uma coisa legal?", ela me pergunta, me puxando pela mão. Eu a sigo sem falar nada.

Estamos no orfanato. Nos jardins, embaixo de uma macieira gigante. Clare ri, me largando apenas para escalar a grande árvore. Sua agilidade é surpreendente. Quando dou por mim, também estou me pendurando no tronco. O rosto da menina brilha, as sardinhas sendo as estrelas de uma constelação. De uma galáxia inteira.

O cheiro salgado fica mais forte. Insalubre demais. Insuportável.

O rosto de Clare não brilha mais. Está amedrontado, os traços contorcidos em uma careta.

Perigo.

O oceano se transforma. As ondas selvagens alcançam uma altura inimaginada, a água escura escondendo milhares de monstros em sua profundeza.

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