「Capítulo Um」

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Dove Cameron POV
Morumbi, São Paulo
05 de maio de 2022

Sabe quando sente que um pedaço de você foi arrancado e que provavelmente nunca será devolvido? Bem, é assim que sinto desde o sumiço da Sofia. São os quatro meses mais infernais de toda a minha vida, quatro meses que não tenho ela em minha vida. Hoje é mais um dia sem ela comigo, mais uma noite sem dormir direito, mais uma noite em que os pesadelos me assombram.

A questão é que desde o abandono dela não conseguir ter uma noite sem pesadelo ou que eu consiga dormir direito sem derramar uma lágrima, sempre acabava acordando duas ou três horas após pegar no sono e ir para perto da janela no intuito dela aparecer, de chegar em casa reclamando de um dia cansativo na empresa, ou, do quão chato é o seu cliente. Porém, isso não acontece há 4 meses. 4 meses desde que ela sumiu da minha vida sem deixar nenhuma pista de onde está, 4 meses que não tenho uma notícia concreta de onde se meteu, 4 meses onde espero ansiosamente ela voltar, 4 meses que choro todas as noites.

São 4 meses que fico trancada dentro de casa sem querer contato com ninguém, 4 meses da polícia atrás dela e prometendo boas notícias, 4 meses sem ir trabalhar, 4 meses sem ela comigo. Sabe quando sente que seu mundo desmoronou e existe apenas uma pessoa capaz de fazê-lo voltar ao normal? Sofia é a única capaz de fazer que todo o caos habitante em mim vá embora.

Todos os dias sinto meu peito apertar de saudade de ver o sorriso que tanto me deixa apaixonada, de ver os olhos dela que reflete minha imagem, dos lábios maravilhosos e viciante dela, do cheiro, do toque, das brincadeiras, do carinho, dos beijos. Do jeito em que as bochechas ganham uma coloração avermelhada com um elogio meu, da forma que ela esconde o rosto no meu pescoço quando está cansada ou querendo algo, do jeito manhoso em que ficava de manhã ao acordar e ter que ir para empresa.

O mais doloroso disso tudo é ter que ver o nosso filho sofrer com a saudade dela, de escutar ele perguntar quando a mom volta de viagem e do motivo dela não ter ligado para ele. No fundo, sei que ele sabe o que aconteceu, Dave é um garoto muito esperto para sua idade e apesar disso sabe quando algo de errado está acontecendo. Vê-lo chorar chamando por ela é de cortar o coração, todos tentavam colaborar da forma em que dá, porém estamos cientes que tudo isso iria acabar com a volta dela.

Desviei meu olhar da foto que tirei de Sofia em um dos nossos encontros, para observar Dave se mexendo na minha cama e alguém abrir a porta devagar. Observei meu pai entrar no quarto com uma bandeja em silêncio, levantei da poltrona e caminhei até a cama, onde sentei pegando meu filho no colo vendo ele um pouco sonolento. Abaixei a blusa, sentindo ele logo abocanhar meu seio e sugar com um pouco de força, ajeitei os travesseiros atrás de mim, encostando neles depois. Meu pai deixou a bandeja no final da cama, sentando ao meu lado, segurou meu rosto dando um beijo na minha testa, encostei a cabeça no ombro dele e permaneci em silêncio.

— Trouxe o café da manhã de vocês, principalmente o seu — indagou olhando para mim — Você precisa se alimentar direito, filha!

— Não sinto vontade de comer, pai — respondi, levando a mão até o cabelo do meu filho.

— O policial investigativo vem para cá daqui a pouco junto com o delegado, querem passar algumas informações.

— Talvez sejam as mesmas de sempre — suspirei um pouco cansada. Dave largou meu seio, arrumei minha blusa vendo ele sentar no meu colo.

— Polícia? — perguntou curioso — Puque?

Olhei para meu pai sem saber o que dizer, toda vez que os policiais vinham para cá ele perguntava o motivo, não queria contar para o mesmo sobre o sumiço da mãe e que ela não saiu para viagem de trabalho.

— É coisa do trabalho da sua mãe, Dav — meu pai veio ao meu socorro.

— E é coisa de adulto, não para criança — apertei levemente o nariz dele, escutando sua gargalhada.

Sua gargalhada é idêntica a da Sofia… não é novidade para ninguém que ele é parecido com minha esposa, havia puxado tudo dela, exatamente uma cópia masculina dela. Por mais que ele não soubesse do desaparecimento dela, Dave está sofrendo igual a eu. É notório a falta que ela está fazendo para ele, sempre pedindo para ligar pra Sofia ou perguntando quando ela vai voltar, perguntas para as quais não tenho respostas e nem sei quando vou obter. Não sabia até quando continuaria omitindo a verdade dele.

Não sei até quando continuarei aguentando essa saudade, até quando continuarei aguentando receber poucas notícias sobre o paradeiro dela. Até quando a polícia ficará com essa enrolação? Só quero ela de volta. De volta para mim, de volta na nossa casa, de volta para mim e para nosso filho.

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 𝐉𝐮𝐫𝐚 𝐉𝐮𝐫𝐚𝐝𝐢𝐧𝐡𝐨 Where stories live. Discover now