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Sofia Carson POV
San Onofre Beach, Califórnia
15 de Julho de 2022

Paro de andar para poder respirar, não senti que estava prendendo o ar até sentir falta dele. Olho ao redor para poder me localizar, estou longe da casa da praia, mas ainda estou na praia, só que em outro lugar. Mas à frente vejo um senhor de idade alugando algumas bicicletas por um valor ótimo, eu preciso ir para algum lugar menos movimentado para poder pensar nas descobertas de hoje. Ainda bem que estou com meu celular e algum trocado, ou eu teria que ir andando de volta para casa. O lugar que não quero ir agora. Aluguei uma bicicleta por três horas, subo e saí pedalando sem rumo pela ciclofaixa da praia, dividindo o espaço com outros ciclistas e corredores. As luzes dos postes, da lua e dos estabelecimentos iluminam a rua, vários carros andando pra lá e pra cá; os bares e restaurantes ficando cheios a altura que a noite avança.

Então, permito-me pensar nos últimos minutos, pelas novas informações que descobri sobre mim. Eu sou casada. Tenho um filho que vai fazer 3 anos amanhã. Tenho uma irmã mais velha. Um trabalho. Pais. Um cunhado. Uma vida no Brasil. Por causa de um maldito acidente eu não lembro de nada, somente da minha vida após o acidente. Penso no quanto eles devem ter sofrido com a falta de informações sobre mim, sobre as notícias falsas e o arquivamento do meu caso. Será que eles estavam prontos para seguir em frente sem mim? Será que haviam aceitado o fato de eu, possivelmente, estar morta? Será que a Dove cogitou a ideia de seguir em frente e se relacionar com outra pessoa? Será que ela chegou a ficar com outra pessoa depois do meu sumiço? Será que eles contaram a verdade para o Dave?

Se eu não tivesse saído de casa naquele dia, como estaríamos agora? Seríamos uma família feliz? Eu ainda estaria grávida? Se eu tivesse deixado para sair em outro dia, eu teria perdido a memória? Se eu tivesse mudado a rota, eu não teria perdido a memória? São tantos “e se” que não tenho as respostas, talvez ninguém terá respostas. Apenas fico me perguntando o que será daqui para frente. Desde que acordei do coma, em um hospital de Los Angeles, com a Scarlett do meu lado, eu não havia questionado a minha perda de memória ou muito menos achado que ela é um problema até agora. O meu lapso de esquecimento é temporário ou permanente? Um dia eu voltarei a lembrar da minha vida antiga? Ou terei que aceitar o fato de ter que recomeçar do zero?

Recomeço…

É o que estou fazendo, certo? Precisei recomeçar em um país novo, sem conhecer ninguém, nem mesmo a mim. Precisei adotar uma nova identidade, um novo lugar para morar, uma nova família, um emprego… as coisas estavam indo tão bem, sem maiores questionamentos. Até a chegada da Dove e o pessoal. Algo dentro de mim reconheceu eles quando ficamos juntos no mesmo lugar pela primeira vez. De alguma forma, eu ainda lembro deles, só preciso alcançar essa partezinha minha que lembra deles. Eu quero lembrar. Quero poder lembrar de todas as histórias que vivi ao lado da minha irmã, dos meus amigos, de como eu conheci a Dove, de como acabamos ficando juntas, do nascimento do Dave, de tudo.

[...]

Não faço ideia de que horas sejam, deve ser muito tarde, pois não tem ninguém andando pela rua ou praia em um raio de 1km. Está tudo deserto. Talvez eu esteja levemente alcoolizada por beber três taças de vinho em um bar que encontrei durante meu passeio, eu precisava beber vinho ou ia enlouquecer com tudo o que está acontecendo. Abro a porta sem fazer barulho, todos devem estar dormindo por causa do horário e eu não quero acordar ninguém. Deixo minhas chaves no aparador ao lado da porta, colocando meus chinelos na sapateira, é só então notei a luz da sala de estar, franzi o cenho ao ver a luz ligada em meio ao breu do resto da casa. Será que alguém está acordado? Nas pontas dos pés caminho até a sala de estar, escutando algumas vozes baixas saindo da televisão, indicando que tem alguém acordado ali. Quando chego na porta da sala de estar, acabei flagrando uma cena de aquecer o coração, Dove está dormindo toda encolhida no sofá, com o fino lençol cobrindo as suas costas desnudas, ela está deitada de bruços com um dos braços caindo para fora do sofá. Sua expressão é serena, a boca entreaberta deixando algumas lufadas de ar sair.

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