CAP. 2 (Kayn)

323 30 33
                                    

O rosto pálido da garota dos olhos negros está ficando mais distante, com dois homens por detrás dela, vejo seu incandescente traje desaparecendo da minha visão. Não precisou pronunciar-se para que eu percebesse o ódio e a tristeza que ela carrega.

Por alguns instantes deu para esquecer a dor ardente em meu braço, não sei com exatidão qual dos homens me atingiu, muito menos como e com o quê, mas seja qual tenha sido, fê-lo muito bem, pela dor árdega, acredito que fui covardemente atingido pelo estilo fogo.

Pelas suas vestes escuras, com certeza são guerreiros de Koblák, é inevitável pensar, por qual motivo chegariam eles tão próximo do reino? sabendo que os nossos guerreiros sem tardar os notariam, e seifadas seriam suas vidas. Ao ponto de  arriscarem-se dessa forma, é  porque a menina dos olhos negros deve representar muito para eles.

Espero que dêem  logo pela minha ausência, aqui rastejando sou um alvo fácil, se o meu pai estiver certo: os varredores podem chegar a qualquer momento. Por razão alguma devia eu cruzar os portões do castelo, por outro lado, foi o único dia que me senti realmente feliz. O que você acha que eu devia fazer? Ficar ou sair? Pois espere, você ainda não sabe o que aconteceu, vou contar a historia do início. 

Começou nessa manhã: os raios de sol passavam pela enorme rede em minha janela, iluminando um gigantesco cômodo de livros. O vento batia suavemente em meu rosto, me permitindo fechar os olhos, sentir a brisa, e por alguns segundos sentir-me do outro lado. Da janela mais alta do castelo, podia ver todo reino. Com certeza seria um dia perfeito.
Sempre me perguntei, como devia ser poder correr de um lado para o outro nas ruas do reino, sem se preocupar com alguém seguindo você, provavelmente querendo levar-te com ela. Quem dera se eu fosse um comum filho de um Zeus com uma Safira, guerreiros que depois da destruição de Blákard, escolheram servir ao meu pai, eles são comandados pelas Jasps.

A ideia de ser o futuro rei de Thámblak, não me fascinava mais. O facto de ter crescido preso no castelo, porque existem bruxas comandando monstros voadores, cuspidores de ácidos verdes, intitulados varredores aos arredores do reino, caçando o filho do rei, contribuiu imenso nessa decisão. Tudo seria diferente se estivéssemos em Blákard, com o poder que a Renekton deixou em sua joia, o reino era impenetrável. Mas em Thámblak, o único lugar seguro é o castelo, mesmo com as Safiras e os Zeus sempre de prontidão, é inevitável que as bruxas invadam o reino.

Li algumas vezes sobre as  bruxas: Elas em seu vale, vivem num sistema de monarquia absoluta, comum na maioria dos reinos na sérvia. São governadas pela bruxa vermelha, todos recusam-se  a falar sobre seu aspecto, então imagino ela tendo dois grandes chifres em sua cabeça, olhos negros, garras afiadas, e pelo seu nome, imagino que ela vista-se de trajes vermelhos.

Recorrendo a um dos livros em meu reino, duma caçadora que dedicou a vida buscando por vingança, “Uma Flexa Para As Bruxas”*, retirei o seguinte pensamento: “As bruxas sentem-se sozinhas, as vezes por pura maldade: elas amaldiçoam alguém quando estão confusas ou com raiva, sem se importar com as consequências das suas acções. Outras fazem por puro prazer, elas acham divertido ceifar a vida de inocentes com um sorriso sádico no rosto. Algumas só precisam se alimentar, querem roubar a vida não importa de quem seja, invejam a felicidade alheia e querem tudo para si.” E também são as bruxas responsáveis pela existência dos varredores.

Por mais que o meu pai tenha tido razão em dizer: “sair do castelo pode ser perigoso”, por mais que existam realmente varredores aos arredores do reino, eu não podia continuar lá preso, imaginando como seria a vida aqui fora, afinal tenho só treze anos. Foi aí que eu decidi sair, o castelo tem inúmeras saídas, algumas muito vigiadas, e outras com nem tanta segurança, a minha mãe, rainha Shadir, é a líder das Jasps que por sua vez são lideres dos Zeus e das Safiras. Sempre pelas manhãs a rainha costuma acompanhar o treino dos guerreiros, o meu pai Veigar, é o rei, ele tem assuntos do reino por tratar. Então ninguém daria pela minha falta, pelo menos não pelas próximas horas.
Sair do castelo não foi muito difícil, pelas manhãs os corredores ficam mais vazios por causa  do treino dos guerreiros.

Conseguia ver a luz bem ao fundo do corredor, quando dei por mim estava correndo em direção a um enorme jardim, com belas flores de diferentes espécies, e diversas cores. Não conseguia conter a minha alegria, fiquei ali as voltas até decidir partir para as ruas do reino, era tudo tão estranho. Estava acostumado a ver as ruas de lá do castelo, imaginado como seria poder correr nelas. Apesar das vestes distintas, e de ter todos os olhares voltados para mim, não precisei esconder meu rosto, a maioria dos Thámblakianos  nunca viu o seu príncipe.

Continuava apreciando tudo no reino, aproveitando cada instante quando deparei-me com a garota dos olhos negros, com seu cabelo longo, traje incandescente, ela parecia assustada.  
— Hei. — Gritei chamando sua atenção, de seguida colocou-se em fuga.
Quando dei por mim estava a seguindo, ela corria em direcção a saída do reino.
-–Pare, não vou te fazer mal.  Não precisa ter medo de mim. — Gritava na esperança de que ela abrandasse e eu a alcançasse, mas isso não passou de mera esperança. Já tínhamos deixado o reino para trás a algum tempo, por conta cansaço achava eu, ela parou, e quando chegava perto dela fui arremessado para longe. 

Agora as minhas esperanças vão reduzindo, estou sem folego. Pouco a pouco vou cedendo ao peso dos meus olhos. Espero  que os Zeus estejam a caminho, porque aquilo se aproximando ou é um pássaro gigante, ou é um varredor.

—————————————————
O seu voto e comentário é muito importante.

Obrigado por acompanhar a história.❤️




EVELYN o fruto dos bosques Where stories live. Discover now