O Servidor Da Noite

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Uma desilusão amorosa o fez fazer um ritual que ele encontrou em um site na internet. Arrependido, tentou para o ritual na metade, mas não existia essa possibilidade...

A moça loira na tela de TV caminhava com apreensão exagerada por um estreito corredor fracamente iluminado. À sua frente a porta entreaberta de um quarto que prometia, junto de uma sinistra música de volume crescente, presentear o espectador com uma revelação ou um grande susto. Mas antes que a cena fosse concluída a imagem da velha TV desapareceu, mostrando no lugar o reflexo de um jovem frustrado.

Um latido ecoou em algum lugar.

Jackson xingou baixinho e, sem se levantar do sofá, esticou o braço esquerdo preguiçosamente, tateando a parede até encontrar o interruptor de luz. Apertou o botão e nada aconteceu.

- Sem energia, droga - disse a si mesmo, dando um longo e tedioso suspiro em seguida, voltando a encarar o próprio reflexo fracamente discernível no televisor. Encarou a si mesmo, os cabelos escuros desgrenhados e os olhos que mais pareciam dois pequenos buracos negros num rosto redondo e pálido, e então se deu conta do inevitável: O filme não o estava agradando mesmo, era apenas uma tentativa de fuga, de distrair seus próprios pensamentos, e aquela queda de energia era como se a vida estivesse lhe dizendo que não adiantava tentar escapar, a realidade o alcançaria mais cedo ou mais tarde, então que a encarasse agora. Afinal, ele a havia perdido, sabia disso. Por mais que tivesse lutado para mostrar o quando a amava e o quanto estava disposto a ceder e sofre por ela, nada adiantou. "Você é alguém muito importante pra mim, Jack, mas eu não acho que posso corresponder o que você espera de mim", ela disse da última vez, após aquele beijo estranho, um beijo por obrigação. Ela estaria com aquela maldita pessoa agora? Bem provável. enquanto ele, Jackson, estava ali, solitário no escuro, um brinquedo descartado.

E havia feito tanto por ela, até mesmo...

Novamente os latidos na rua e mais nenhum som, como se toda a cidade tivesse desaparecido junto com a energia, deixando para trás apenas a sua casa e um cachorro vagabundo qualquer do lado de fora.

Ele andou até a janela da sala e olhou para a rua. Sim, pelo jeito o bairro todo estava às escuras; apenas a fraca iluminação de uma lua minguante dava contornos aos telhados e muros, e a um robusto cachorro preto sentado sobre as patas traseiras diante de seu portão. Os olhos luminosos do bicho causou-lhe um súbito arrepio.

Jackson se afastou da janela e voltou para o sofá, dominado por presságios.

Um cachorro. Lembrava-se de um cachorro na ilustração daquele site. Será que... não, era apenas mais um desses sites idiotas feito para idiotas, e mais idiota ainda fora ele por recorrer a meios tão desesperadamente patéticos. Mas o que foi isso agora, aquele barulho no quintal? Não seja idiota, reprimiu a si mesmo em pensamentos, encarando o rosto assustado no reflexo. Estava triste, frustrado e sozinho no escuro... e com medo. Medo do quê? Da coisa que ele podia ouvir novamente caminhando pelo quintal. Passos leves e ritmados de patas.

- Apenas um site idiota - repetiu, balançando a cabeça, e, para seu total espanto, o reflexo não repetiu o mesmo movimento, ao invés disso arregalou os olhos e apontou em direção à janela. Jackson não precisou mover o olhar para onde seu reflexo apontava para saber que estava sendo observado.

Num rompante, deixou escapar um grito agudo e pulou do sofá, tropeçando e engatinhando desesperado até conseguir se levantar e correr para seu quarto, trancando a porta em seguida e indo se encolher num apertado espaço entre a lateral do guarda-roupa e a parede.

Estava ficando louco, só podia ser isso.

Barulhos novamente, vindos do local de onde ele havia acabado de fugir, como se algo tivesse saltado e aterrissado no piso da sala. E agora, que som era aquele? Algo farejando. Um objeto metálico caindo no chão.

Relatos de História de terror Where stories live. Discover now