𝐍𝐄𝐏𝐇𝐈𝐋𝐈𝐌 ━ ᵏˡᵃᵘˢ ᵐⁱᵏᵃᵉˡˢᵒⁿ

══ 𝐏𝐫𝐨𝐥𝐨𝐠𝐮𝐞

BEACON HILLS DEVERIA ser um refúgio pacato e comum, onde crianças como Arabella poderiam crescer sem nenhum problema ou interferência sobrenatural. Deveria. Mas não foi bem assim que as coisas aconteceram.

Desde que se entendia por gente, Arabella podia considerar sua vida bastante comum, para os termos sobrenaturais. Nascida em Baltimore, tinha apenas alguns meses de vida quando sua tutora a levou para Beacon Hills, onde fora criada por dezesseis anos. Fora as visitas anuais de um ou dois anjos leais ao Senhor, não havia muito que se destoasse da vida normal de uma adolescente de sua idade.

Isso é, até que seus dois melhores, e únicos amigos, a arrastaram no meio da noite para procurar um corpo na floresta. Fazer parte de uma estranha e disfuncional matilha não estava nos planos de Bella, mas graças a Stiles e seu admirável dom para mexer em coisas que não são da sua conta, aconteceu.

Em sua experiência, toda a coisa da matilha também era sinônimo de problema. Muito problema.

Arabella desceu as escadas em passos rápidos enquanto vestia sua jaqueta jeans, o celular continuava a vibrar em seu bolso, e ela estava considerando dar um calmante para o seu melhor amigo ou, talvez, apenas diminuir a quantidade de cafeína que Stiles consume diariamente.

— Ei, ei, onde vai? — Ela rapidamente se virou, com seu maior sorriso inocente, e encarou Irina, que lhe olhava casualmente por cima de um jornal.

A mulher - anjo - era o mais próximo que Bella tinha de uma mãe desde... bom, desde que a verdadeira não sobrevivera ao parto. Afinal, humanos não eram feitos para suportar a graça angelical que nefilins carregavam.

— Até a casa do Stiles. — Respondeu a mais nova, girando os calcanhares e voltando a andar para a porta.

— Calminha aí, Bella! — Ela parou, a mão pairando na maçaneta, os lábios apertados enquanto encarava a parede em sua frente. — Se lembra que dia é amanhã? — Arabella fez uma careta.

— Eu sempre tento esquecer. Mas você me lembra todos os anos. — Resmungou com petulância infantil.

— É a graça dos aniversários, eles são anuais. — Ironizou Irina, deixando o jornal de lado para poder se levantar e caminhar até a nefilim.

Não é que Arabella odiasse seu aniversário, ela apenas odiava o que acontecia todos os anos no início do dia. Algumas pessoas tinham a tradição de viajar no aniversário, outras jogavam boliche ou assistiam filmes com os amigos, ou ganhavam festas no quintal de casa. A "tradição" de Arabella consistia em ficar sentada em uma sala enquanto dois anjos mexiam e cutucavam, invadindo seu espaço pessoal com a justificativa de que precisavam avaliar o quão nociva ela era desde a última vez que checaram.

Uma situação adorável, realmente.

— Eu estarei aqui antes de amanhecer. — Ela garantiu, dando a Irina seu melhor olhar de súplica. — Estamos perto de descobrir quem é o Kanima, mas Derek também está, então temos que impedir que ele assassine alguém inocente que nem sabe o que está fazendo. — Argumentou em um fôlego só, respirando fundo enquanto esperava que sua guardiã entendesse a proporção de seu desespero.

Irina a encarou, inexpressiva, por longos segundos, e então balançou a cabeça com resignação.

— Eu queria tanto que pelo menos uma das frases que você diz não envolvesse seres sobrenaturais ou mortes. — Ela reclamou, fazendo Arabella sorrir suavemente e encolher os ombros.

— Talvez algum dia, não perca a esperança.

— Tem que estar aqui antes da meia-noite. — Lembrou Irina, e o sorriso de Arabella caiu lentamente.