Capítulo 8 - Serena

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O coração dela estava descompassado. Toda a pele arrepiada devido ao frio. Os braços em volta do corpo não passavam de uma medida meramente paliativa.

Serena tinha os olhos no mar porque não queria olhar em volta e ver-se perdida. Perdida em todos os sentidos possíveis.

Aparentemente o vexame que passou por causa de Hector não só a fizera perder o emprego na antiga companhia de modelos, mas em qualquer uma. Eles não queriam empregar alguém que ficara difamada por pular a cerca do casamento com o influente empresário Hector Ferraz.

E agora, ela simplesmente não conseguia parar de pensar que talvez devesse estar passando por aquele sofrimento. Afinal, se ela ao menos fosse mais agressiva, e fizesse qualquer coisa além de ter esperanças que Hector mudasse...

Coração gigante. Era o que o pai dizia dela, para depois completar que aquela era uma característica boa e mal. Pessoas como ela faziam um mundo melhor, mas pessoas ruim...a usavam.

Ela engoliu em seco, tomando nas mãos o celular desligado. Com todas as contas bloqueadas devido à medida judicial que Hector movera contra ela era difícil ter algum dinheiro, e principalmente, pagar um plano de internet.

Serena não tinha onde ir. Estava escuro, e tudo o que tinha da cidade em que se encontrava era um mapa que pegara no apoio de turistas no aeroporto. Se sentia idiota, mas não ia atrapalhar a vida de Bruno. Ele talvez nem viesse em seu socorro mesmo.

Uma música sem ritmo começou a sair de sua boca, tentando eliminar a solidão e o medo daquela cidade grande. Ela abraçou ainda mais o próprio corpo quando ouviu passos por perto. Talvez a boa hora de fazer uma oração...

- Serena.

Ela se virou. Bruno estava ali, em pé a um pouco mais de um metro de distância, a expressão carregada de seriedade. A cabeça protegida por um boné. No corpo, o mesmo calção que usava quando o havia deixado em casa. O peito nu, suado. O tronco extremamente definido e tatuado.

Lágrimas estavam brotando de seus olhos, lágrimas de puro alívio. Ele estava ali. Bruno conseguira, viera procurá-la. 

Ele a analisou com aqueles olhos sagazes. 

- O que foi? Alguém te machucou? – Agora ele averiguava o ambiente sujo e malcheiroso que ela estava, uma mistura ocre do cheiro de urina e maresia.

- Você veio. – Murmurou baixinho. Ele parou de olhar os arredores, agora mirando-a com as sobrancelhas franzidas.

- Sim, estou aqui. - Ele disse, assentindo levemente a cabeça. 

Sem saber o que dizer, ela correu até ele, o abraçando. Seu corpo frio se chocou contra o corpo quente e quase nu dele.

- Obrigada. – murmurou perto da nuca dele enquanto tentava conter as lágrimas. Sem jeito, ele lhe proporcionou um rápido afago nos cabelos. Ela o soltou.

- Dá próxima vez, peça ajuda.

- Eu não quero atrapalhar a sua vida. – Ela disse. Ele meneou a cabeça e começou a andar.

- Já está um pouco tarde para isso, e me atrapalha muito mais saber que você corre perigo...Então, da próxima vez, peça ajuda.

- Não vou precisar pedir – ela tentava acompanhar as passadas rápidas dele enquanto passava uma mão na outra para se esquentar. – Vou dar um jeito de colocar crédito, e também...- Bruno parou e a segurou nos ombros, fazendo-a encará-lo.

- Serena, prometa que vai pedir ajuda. Para qualquer coisa, até ir num mercado... Mas se não quiser pedir, pelo menos avise. Eu não preciso ir com você, não é isso. Só preciso que me diga para onde vai, caso eu precise encontrá-la.

Me Deixe Amar Você - Livro 1 Duologia Amor em JogoOnde histórias criam vida. Descubra agora