Capítulo 1

732 45 24
                                    

Melinda enrolava suas mechas em seu indicador, balbuciando qualquer coisa já que ninguém iria ouvir, devido ao volume alto do som.
Será possível que todo mundo estava tão indiferente com o fato de sua mãe ter acabado de morrer? Parecia ser só mais uma segunda-feira comum e não um dia após um velório.
Ela olhou para o lado, lá estava sua irmã, perfeita como sempre. Nenhum sinal aparente de luto ou sofrimento, pelo contrário, ela parecia radiante como de costume.
Ela passava um gloss cereja em seus lábios, seu cabelo estava perfeitamente partido ao meio e suas bochechas coradas denotavam saúde. Apesar dela ser sua irmã gêmea, a única coisa que Melinda e Melissa tinham em comum era a data de aniversário.
O pai das duas estava no banco da frente do carro, dirigindo a caminho da escola. Seria o último dia de aula delas antes de se mudarem para outra cidade. Claro que Melinda preferia estar em casa e não ver ninguém, assim como qualquer pessoa que tivesse acabado de perder a mãe, mas seu pai não se importava com isso.
A morte da mãe de Melinda, fez com que a vida dela tomasse um destino inesperado. Já que seu pai trabalhava em um navio e passava boa parte do tempo fora de casa, ele não podia deixar as filhas sozinhas e elas tiveram que ir morar com a tia, saindo da zona leste e indo pra zona sul de São Paulo.
O carro parou e Melissa guardou seu gloss na mochila e desceu, se despedindo do pai, que logo acelerou o carro de novo e aí, sim, Melinda desceu também.
Melissa não gostava de ser vista com a irmã na escola porque achava que isso seria "suicídio social", já que ela era bonita, desejada, popular e Melinda era.. a Melinda.

- Ei, Melinda!

Melinda se virou e recebeu um abraço caloroso.

- Eu sinto muito, amiga.
- Eu também, Dani - Melinda segurou as lágrimas e se aconchegou no abraço da amiga, a ficha de que ela nunca mais veria sua mãe ainda estava caindo.

Elas ficaram assim por alguns segundos na porta da escola antes de serem interrompidas pelo sinal.
As duas entraram e foram a caminho da sala de aula, conversando sobre outras coisas aleatórias para que Melinda pudesse se distrair de seus pensamentos.
Chegando na sala, diante de sua mesa, havia uma caricatura de Melinda com os dizeres "Monstro".

- Ei - Dani puxou a folha da amiga e a amassou - Ignora isso.

Todos os dias Melinda era ridicularizada na escola, e por mais cruel que possa parecer, ela já havia se acostumado com aquilo.
O fato dela ser um pouco acima do peso e não se arrumar muito, usando seu óculos redondo e seus suéteres listrados, fazia com que ela se destacasse de maneira negativa, atraindo todos esses comentários maldosos.
Melinda suspirou, o que ela mais queria era mudar o conceito que as pessoas tinham sobre ela, ela era mais que uma nerd estúpida que não tinha vaidade.
A conversa com Dani seguiu normalmente até chegarem na mudança de Melinda.

- Então você vai se mudar? Não acredito, lindinha - lamuriou Dani. Era assim que ela chamava a Melinda, por mais tosco que Melinda pudesse achar - Pra onde você vai?
- Ah, é aqui em São Paulo ainda, só vou pra zona sul. Felizmente não vou sair da cidade, assim, ainda posso te ver de vez em quando.
- É, menos mal, por mais que vá sentir sua falta de qualquer forma. E aonde é que você vai morar?
- No Brooklin.
- Brooklyn? Você vai se mudar pro Brooklyn, Melinda? - Intrometeu-se Giovana, uma garota que sentava atrás de Melinda e Dani na sala.
- Hã.. sim?
- Duda, a Melinda vai pro Brooklyn, você acredita? - virou-se pra amiga que estava ao seu lado, que até então estava usando fones de ouvido.
- Mentira! Sério, Melinda? - perguntou a morena tirando seus Airpods falsificados.
- É gente, qual o problema de eu me mudar pro Brooklin?
- Gente, a Melinda vai pra Nova York - berrou Duda.
- Nova York? - Dani e Melinda se olharam confusas.

As garotas estavam pensando que Melinda na verdade estava se referindo ao Brooklyn, que é uma cidade de Nova York, quando na verdade ela estava indo pro Brooklin, que é só um bairro da zona sudoeste de São Paulo.
O fato é que, logo depois disso, todos na sala ficaram eufóricos, perguntando informações pra Melinda sobre a sua mudança, mesmo que muita gente não tenha acreditado e achasse que ela estava falando aquilo pra chamar atenção, um professor entrou e deu "veracidade" para as suas palavras.

Apenas mais um clichêOnde histórias criam vida. Descubra agora