Capítulo 5

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Melinda acordou pela manhã com o seu celular tocando a música da segunda abertura de Death Note, nada melhor do que uma gritaria melodramática para começar o dia.
Ela desligou o aparelho e se levantou num pulo, correndo até o banheiro, onde tomou um banho demorado.
Apesar de Melinda sempre tomar banho a noite para poder dormir cheirosa e acordar no dia seguinte sem precisar tomar banho pela manhã quando estivesse um frio de matar, para o primeiro dia de aula, ela queria ir o mais perfeita possível, e isso incluía estar mais perfumada possível.
Ela saiu do banho e se enrolou na sua toalha rosa da Barbie, que ela tinha desde os 11 anos, que ainda lhe servia para uso já que devido ao seu crescimento precoce, ela parou de crescer cedo demais.
Ela foi até o quarto e sua roupa estava posta na cama, passada e arrumada. Ela se vestiu rapidamente e passou seu perfume preferido, arrumando seu cabelo em seguida, dessa vez deixando algumas mechas soltas, dando um ar delicado ao rabo de cavalo.
Depois de se olhar no espelho, ela sentiu que faltava algo e foi até o quarto da irmã, acordando-a para que ela a ajudasse a fazer uma maquiagem, Melissa reclamou mas como já tinha sido acordada, viu que não adiantaria reclamar e fez a maquiagem para a irmã.
Depois de pronta, Melinda colocou seu óculos e os pequenos e delicados brincos de margaridas, e, antes de sair do quarto, ela foi até um porta retrato que tinha uma foto de sua mãe, beijando sua mão e colocando-a no rosto delicado da mãe, depois pegou sua mochila e foi até a sala de jantar.

— Bom dia, Melinda — Fafá a cumprimentou, servindo um pedaço de bolo de queijo pra ela.
— Fafá, não precisava ter feito o café tão cedo por minha causa, sei que o povo daqui vai acordar só mais tarde — Indagou Melinda se sentando na cadeira e colocando um pouco de café em uma xícara — E ainda fez meu bolo preferido, você é um anjinho mesmo.
— Eu quis que você começasse bem na escola, ela já é ruim demais pra você ter que já sentir vontade de morrer desde antes de sair de casa.
— Não diga isso, Fafá. Escola é meio ruim as vezes, mas eu estou esperançosa que esse ano as coisas vão ser melhores.
— Eu espero que sejam mesmo, eu pensava assim e hoje sou empregada.
— Fafá!
— Brincadeira, boba. Você sabe que eu amo o que eu faço, eu amo sua tia e não consigo me ver sem ela, eu bem poderia estar num outro emprego, você sabe que Fafá não é pouca bosta né?
— Claro que não — Melinda riu — Você sempre me dava aulas de francês quando eu vinha dormir na minha tia.
— Exatamente, falo três idiomas além do português e sou formada em letras, eu poderia usufruir disso e conseguir outro emprego mas eu não teria tanta paixão por ele quanto tenho por esse, que aliás, é digno como qualquer outro.

Melinda sorriu, ela tinha muito orgulho de Fafá, pois ela realmente gostava do que fazia e não pensava somente em dinheiro e luxo. Fafá venceu muitas barreiras chegando onde chegou, sendo uma jovem negra e periférica, ela usou de seu conhecimento para ajudar crianças pobres a terem algum conhecimento a mais, dando aulas gratuitas de francês e alemão nas favelas de São Paulo, coisas que ela continuava fazendo mesmo depois de conseguir o emprego, nos fins de semana.

— Come logo antes que esfrie — Fafá interrompeu os pensamentos de Melinda, lhe servindo mais uma fatia de bolo e saindo da sala em seguida.

Melinda terminou de comer o bolo e tomar o seu café e saiu de casa, caminhando até a escola, que por sorte, ficava a apenas duas quadras de sua casa, enquanto a casa de Tom, ficava a três quadras. Haviam atalhos mas se Tom quisesse, ele poderia passar na casa da amiga antes de ir sem que fosse contramão.
Melinda finalmente chegou na escola, ela sentiu um frio na barriga e sua boca secou, o portão já estava aberto e alguns alunos estavam do lado de fora conversando enquanto outros já entravam, ela decidiu entrar também, já considerando que toda a atenção se voltaria pra ela.
Mas isso não aconteceu.
Apesar de Melinda ter esperado um pouco para entrar em um momento em que ninguém mais estivesse entrando, ninguém a notou, era como se ela fosse só mais uma aluna comum, o que de certa forma, era o que ela era mesmo.
Mesmo sendo um rosto novo, ninguém se importou ou reparou sua presença, pareciam todos ocupados com suas próprias coisas, o que fez com que todo o seu sonho de primeiro dia de aula perfeito fosse por água abaixo.
Ela seguiu andando pelos corredores quando encontrou Léo, encostado de lado em uma coluna, conversando com alguns amigos. Não tinha muito o que falar sobre o visual de Léo já que sempre parecia que ele usava a mesma roupa, trocando apenas um pequeno detalhe ou outro, mas mesmo assim, um colírio para os olhos de Melinda.
Ela começou a se aproximar para cumprimentá-lo, quando uma garota apareceu antes dela, abraçando-o por trás, fazendo com que ele virasse e lhe desse um beijo.
Melinda sentiu as lágrimas se formarem em seus olhos e ela respirou fundo para que elas não escorressem, seu coração estava despedaçado e nada mais importava, se não, que aquele dia terminasse logo.
Ela suspirou e procurou por sua sala, onde entrou e sentou-se perto da parede, vendo os alunos entrarem um a um, até que entraram Léo e Tom, que a viram e se sentaram perto dela.

Apenas mais um clichêWhere stories live. Discover now