Sonhos Possíveis [Concluído]

Capítulo 03: Renata Martins

RENATA MARTINS

Faltava menos de dez minutos para o show de Cecília. E, como era de costume, em todas as noites de sábado, a Lanchonete Estrelas Naturais estava lotada de pessoas. Todas as mesas ocupadas. E algumas pessoas até de pé. E tínhamos que ter o dobro de atenção.

Eu não estava mais tão atarefada quanto algumas horas antes. Isso porque, durante as noites de fim de semana, além de mim e do meu irmão, havia mais três garçons. Diogo, Cesar e Tia Gizelly.

Estava no balcão, esperando Vicente trazer mais uma bandeja, quando Pedro apareceu e sentou na banqueta que tinha ficado vazia poucos segundos atrás. Ele parecia um pouco decepcionado. Desde que ele saiu da lanchonete depois de ficar uns bons minutos me ajudando, não conversamos mais.

- Estou vendo que não dá para a gente conversar.

- Pois é! Mais tarde, depois do show, deve ter menos movimento. Então, pode dar para a gente conversar. Você me espera?

Pedro confirmou com a cabeça. Em seguida, se levantou e foi para a mesa onde seus pais estavam sentados.

As 20h, em ponto, Cecília subiu ao palco. E todos os olhares da lanchonete fora, direcionados a ela, que se posicionou, como era de costume. Ela cumprimentou os presentes e fez uma pequena apresentação. O que nem era preciso. Todos de Traunge conheciam Cecília Victoria.

Quando ela começou a cantar a música "Meu Dia Perfeito", da Kamilly Kessyly, eu pude ver os sorrisos de satisfação dos clientes. As canções que ela tocava podia ser tensent, normalmente escrita para o público mais jovem. Mas, minha amiga conseguia agradar todas as gerações.

Porém, a pessoa que estava mesmo encantado com a artista no palco era o meu irmão. Ele estava escorado em uma das paredes da lanchonete, com um sorriso gigante. Faltava pouco para que ele começasse a babar em cima de Cecília.

- Sua amiga canta muito bem, filha. - meu pai falou, saindo de dentro da cozinha com a bandeja nas mãos.

Confirmei com a cabeça. Cecília tem um talento incrível. Canta. Compõe. Toca. É uma artista completa. Só faltava alguém com o poder o suficiente para fazer que ela brilhasse nos palcos de Reilarand.

Eu, Ricardo e Pedro dávamos um empurrãozinho. Postávamos vídeos dela cantando no Frenddynet e compartilhamos. Até que tinha muitas visualizações. Mas, não o suficiente para fazer ela se tornar uma estrela do tensent como sua ídola Kamilly Kessyly.

- Por que você não vai aproveitar o show junto com seus amigos?

Foquei em meu irmão. Ele continuava com aquele sorriso bobo no rosto. Ricardo sorria constantemente da mesma forma sempre que Cecília cantava no palco da lanchonete. Era como se ela fosse uma maren. No bom sentido, óbvio.

Desviei o olhar do meu irmão e fitei Pedro. Ele estava sentado com seus pais e também os pais de Cecília em uma das mesas. Os adultos conversavam animados, sempre olhando para o palco. Mas, Pedro não parecia feliz como nas outras apresentações de nossa amiga. Acho que o assunto que ele queria ter comigo era mais sério do que eu imaginava. E eu não lhe dei a devida atenção.

Definitivamente, eu era uma péssima amiga.

Voltei a olhar para o meu pai. Ele parecia bem cansado. Afinal, estava trabalhando desde as sete da manhã. Ele precisava de mim. E eu não podia deixar ele na mão.

- Não. Eu vou continuar trabalhando. - disse, convicta de minhas palavras.

- Não se preocupe, filha. Tem pessoas o suficiente trabalhando. Não é justo que apenas seu irmão aprecie o show e você aqui.