Capítulo 15: Pedro Ferraz

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PEDRO FERRAZ

Minha animação se resumia a ficar dentro do meu quarto, sem falar com ninguém. Ou melhor, era o meu desejo não conversar com qualquer pessoa que fosse. Mas, meus pais não compreendiam. Sempre queriam saber como eu estava.

Depois que conversei com Cecília, no sábado, voltei para minha casa. E me fechei em meu quarto. Até o jantar, quando pude conversar com os meus pais e falar da minha decisão. Ir para a EEEA o mais rápido que podia.

Eles eram meus pais. Óbvio que perceberam que havia alguma coisa errada. Então, contei a eles sobre o que aconteceu entre eu e Renata. Sobre ela não ter gostado de eu ter falado ao meu pai sobre o seu sonho e a nossa briga pouco depois.

Meu pai confirmou que Henry e John gostaram de Renata (Henry profissionalmente, já John, eu tinha minhas dúvidas). E que estavam dispostos a fazer o que fosse possível para levar ela para a EAJA. Seria bem mais fácil se Renata parasse de ser tão orgulhosa e aceitasse.

Meus pais não gostaram nada da minha decisão. Chamaram ela de precipitado (queria ver se eles estivessem em meu lugar e se pensaria diferente). Mas, não escutei nada do que meu pai me falou. Só queria ir para longe. Eu não aguentaria ver minha amiga sendo tão fria comigo. E preferia não ver ela mais do que ver ela sendo indiferente comigo.

No fim, acabei conseguindo fazer com que meu pai confirmasse minha ida para a sexta feira, para que eu pudesse me organizar na escola e iniciar as aulas na segunda feira. Apenas uma semana para que eu me organizasse e me mudasse. E uma longa semana para conviver com a minha melhor amiga sendo indiferente comigo. Eu não conseguira.

Decidir que não iria à aula nos próximos dias. Não queria estar no mesmo ambiente que Renata. Minha mãe não gostou nada da minha atitude. Meu pai também não. Mas, pelo menos ele estava ao meu lado. 

Me sentei na grade da varandinha que havia em meu quarto, com as costas escoradas na pilastra, um pé sobre a grade e o outro no chão. De lá, conseguia ver a entrada da minha casa. A esperança de que ela aparecia e que a gente se acertasse crescia em meu peito. Mas, conhecendo ela como eu conhecia, sabia que não aconteceria.

Entretanto, vi quando Cecília chegou. Não demorou muito para que escutasse alguém dando dois toques na porta. Pedi para que entrasse. A porta se abriu e Cecília entrou. Ela se aproximou, mas não muito. Ela não era muito fã de altura, mesmo morando no segundo andar, em uma casa acima da residência de sua avó. Bem diferente de Renata.

— Que bom que você ainda está aqui. — ela disse aliviada — Você não foi à aula. Pensei que tinha ido para a EEEA.

Não vou negar que fiquei feliz com a sua visita. Cecília era minha amiga. E, ter amigos ao nosso lado durante tempos difíceis era muito importante. Mas, ainda assim, eu queria que Renata estivesse em minha frente.

— Eu não fui. Ainda. Vou nessa semana. Na sexta feira.

— Mas, já? — ela perguntou, assustada.

— Para que achou que eu já tinha ido, você ficou bem surpresa.

Dei um pequeno sorriso (era o máximo que eu conseguia). Ela cruzou os braços, fechando a cara. Se eu tivesse em meus melhores dias, eu teria rido muito. E ela provavelmente iria querer me bater por debochar dela.

— Para de brincadeira, Pedro. Pensei que você tinha ido embora sem se despedir de mim.

— Eu nunca iria embora sem me despedir dos meus melhores amigos.

E, por melhores amigos se entendem Renata, Ricardo e Cecília. Havia outros colegas que eu considerava amigos, como o pessoal do time de basquete. Mas, eu não estava com animo para me despedir de ninguém. Aliás, odeio despedidas. E seria melhor assim. Não quero correr o risco de alguém fazer algum tipo de festa. Apesar de que, todos do time deveriam saber da proposta que recebi e que iria aceitar. Não só eles, mas outras pessoas da escola. Explicaria o número de mensagens que eu recebi, mas que não abri.

Sonhos Possíveis [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora