Capítulo 14: Cecília Britto

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CECÍLIA BRITTO

Kamilly estava sentada em uma mesa da Lanchonete Estrelas Naturais, mexendo no celular. Deveria está cansada e entediada de tanto me esperar. Olhei para o relógio local. Estava dez minutos atrasada (culpa de quem? Da minha mãe). O estabelecimento não estava muito cheio para o horário. Quatro mesas ocupadas (aparentemente, todas já foram atendidas), além da que eu me sentaria com a Kamilly.

Aproximei de Kamy, envergonhada pelo meu atraso. Assim que ela em vê, se levantou e me deu um abraço. Eu. Vou. Surtar. Kamilly Kessyly estava me abraçando. De novo. Nunca me acostumaria a ser tratada como uma amiga pela minha ídola.

Sento na cadeira de frente para ela. Observei suas vestes. Uma blusa branca, de mangas longas, com um cachecol xadrez no pescoço e seus cabelos soltos, formando lindos cachos. Usava uma calça verde e uma bota cano alto preta. E fiquei aliviada por ter escolhido uma blusa verde e branca, listrada, de manga longa, uma calça preta e um cachecol branco. Eu estava bem vestida. Melhor do que com o vestido de gala que minha mãe comprou para mim.

— Desculpe o atraso. Tive que convencer a minha mãe de que não iríamos a uma festa de gala.

— Não se preocupe, Cecília. Você não está tão atrasada assim. — disse Kamilly, guardando seu celular dentro da bolsa preta, que estava pendurada na cadeira.

Renata aproximou de nós, com o bloco de anotações e uma caneta nas mãos. Ela sorria. Mas, não era o mesmo sorriso que minha amiga me dava. Mas, era o sorriso que a garçonete dava aos seus clientes.

— Boa tarde. Bem vindas a Lanchonete Estrelas Naturais. Já sabem o que vão pedir?

Bom… pelo menos ela usou o plural. Ela não estava ignorando a minha presença. Era um bom sinal. Ou não. Não. Ela só estava sendo educada, como era com todos que entravam no estabelecimento. Ela agiria assim até mesmo com Fernanda e suas amigas insuportáveis.

— Ainda não.

Kamilly pegou um dos quatro cardápios que estava em cima da mesa. Eu não precisava. Conhecia todos os lanches do estabelecimento. Desde que os pais de Renata abriu a Estrelas Naturais, alguns anos atrás, ela se tornou meu lugar preferido.

— O que você sugere? — Kamilly perguntou.

Sabia exatamente quais seriam as palavras usadas por Renata. Quantas vezes eu ouvi ela repetir? Incontáveis.

— Temos uma variedade de sucos naturais. Além dos nossos sanduiches. Eles são super saudáveis. O sanduiche mais pedido aqui é o “Sanduiche Nature”. Natural. Saudável. Saboroso. Ainda ajuda a manter a boa forma. No cardápio tem suas principais informações e também de outros lanches que vendemos aqui.

Kamilly observou o cardápio. Enquanto eu, olhava para minha amiga (se eu ainda podia chamar Renata assim). Ela não olhou para mim em nenhum momento.

— Parece delicioso. Adorei a sugestão. Vou querer um “Sanduiche Nature” e um suco de laranja.

Renata anotou o pedido de Kamilly no bloquinho. Em seguida, olhou para mim. Pelo menos ela não iria ignorar completamente minha presença. Ela podia até estar com um sorriso no rosto. Mas, seu olhar era gélido. Pedro estava correto. Comecei a me perguntar se estávamos em um inverno normal em Reilarand ou em um rigoroso na Groelândia.

— E você? — ela me perguntou.

— O mesmo de sempre. — respondi, desviando o olhar.

Eu poderia dizer “o mesmo que Kamilly”. Mas, preferir falar “o mesmo de sempre”. Queria ver ser ela diria alguma coisa. Porém, ela não falou nada além de “ok, já volto com seus lanches”.

Sonhos Possíveis [Concluído]Donde viven las historias. Descúbrelo ahora