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Já passava das onze da noite. Em um dia comum eu estaria em um sono profundo, mas hoje não era qualquer dia. Tudo havia mudado. Depois de atender Camila, servi-me de um jantar simples que havia preparado. Eu precisava melhorar meus dotes culinários. Lavei a louça calmamente e escovei meus dentes, estava preparada para deitar quando o celular tocou.

James.

Suspirei derrotada, sabendo que, mesmo se eu quisesse, não conseguiria recusar aquela ligação.

– O que você quer? – Minha fala saiu mais rude que o esperado, mas necessária. Não havia cumprimentos ou saudações, não precisávamos disso.

– Podemos conversar? – Sua voz soou baixa, estava diferente. – Estou aqui embaixo, Henry não me deixa subir...

– Tudo bem...

Repousei o aparelho em cima da mesa de cabeceira, aproximando-me do interfone de meu quarto para poder falar com Henry.

Então eu estava ali, no hall de entrada do apartamento, coberta por meu moletom preto e descalça, com os braços cruzados em frente ao elevador, esperando sua chegada. Estava nervosa, tinha todos os motivos para estar. O bipe do elevador soou mais alto que o normal e antes que as portas se abrissem completamente eu pude ver seu rosto, estava... caído.

Ele deu dois passos e esperou que a porta se fechasse para poder me olhar. Assim como eu, ele também tinha os olhos marejados. Isso me quebrou. Mais.

– Lauren, eu... – ele se aproximou pra tentar me abraçar mas eu me afastei. Não estava pronta. Apenas caminhei até o sofá e esperei que ele imitasse meus movimentos, sentando-se na outra extremidade.

– Se você veio pedir desculpas, James, já pode se retirar.

– Mas você não entende! – Ele passou a mão sobre as lágrimas que lhe molhavam o rosto. – Amor, foi tudo um mal entendido.

– Eu acho que ainda não fiquei surda e entendi muito bem cada palavra que saiu de sua boca. – Sentia como se pudesse ter uma síncope a qualquer momento. Eu precisava ser forte.

– Você sabe que eu passei toda a semana nervoso com a construtora, eu sei que errei e não deveria ter descontado em você, mas, amor, eu preciso que você me ouça.

Encarei o painel de TV a nossa frente. Nossa foto favorita ainda estava lá. Suspirei. Meus dedos fizeram movimentos involuntários sobre a jóia em meu dedo anelar da mão esquerda. Quando aconteceu? Lembranças do dia anterior inundaram meus pensamentos.

Eu estava tão feliz com minha nova conquista, tudo parecia um sonho. Meu artigo sobre Terapias Alternativas seria publicado em uma revista importantíssima da área da saúde. Cheguei mais cedo que o habitual em meu consultório e liguei para James pedindo que viesse me ver, e ele veio. Chegou cerca de meia hora após minha ligação e quando abriu a porta de minha sala eu soube que tudo estava perdido.

– Querido, o que houve? – Suas mãos tremiam e seu rosto estava vermelho. Raiva. – James...

– Eles recusaram! Por Deus! Eu trabalhei feito um louco nesse projeto e eles nem sequer consideraram!

– Querido, se acalme...

– Me acalmar? Lauren, você não faz ideia do que é ter o trabalho da sua vida jogado fora!

Mas eu sabia.

– James, eu... nem sei o que dizer.

TwistedWhere stories live. Discover now