delirium

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Como de costume, o alarme de seis da manhã soou pelo quarto, mas não que eu precisasse dele, porque eu não havia conseguido pregar os olhos. Flashes do desfecho da noite passada ecoavam em minha cabeça e me faziam questionar o que viria a acontecer se a consciência de Karla Camila não tivesse aparecido.

"– Se você quer que eu vá, fale agora. É o único momento em que posso parar. – Sua voz saiu firme e encarei seus olhos mais uma vez. Me devoravam. E aquilo foi o suficiente para acabar com o resto de sanidade que eu tinha.

– Fique.

Senti sua respiração pesada contra meu rosto, pude notar o quanto seus olhos castanhos estavam escuros naquele momento, seu maxilar travado indicava o quanto tentava resistir a si mesma.

– Você é, realmente, uma caixinha de surpresas, senhorita Jauregui. – Ela disse voltando a se afastar, ficando ereta em minha frente.

Eu poderia dizer o mesmo de você, Karla Camila.

Pude ver Camila balançando a cabeça negativamente, como se tentasse acordar daquilo tudo.

– Eu tenho que ir agora, obrigada pela noite. – Ela sorriu sem graça e começou a caminhar para o elevador. Foi questão de dois segundos para que algo piscasse em minha mente e eu entendesse que ela estava indo, mesmo depois de tanto querer ficar.

– Camila... – Chamei baixinho quando capturei seu pulso esquerdo e parei atrás dela, fazendo com que a mulher se virasse.

Estávamos de frente uma para a outra, nossa diferença de altura sendo notada já que ambas estávamos descalças. Eu tive que inclinar um pouco a cabeça para conseguir focar em seus olhos. Karla Camila era cerca de oito centímetros mais alta que eu, o suficiente para fazer dela uma mulher intimidante.

– Eu já disse que pode ficar. – Repeti o pedido para a mulher a minha frente. Em todos os anos de minha vida eu nunca havia implorado para alguém ficar. Mas havia algo nela...

– Eu não posso, Lauren, me desculpe. – Senti novamente o ar alcoólico sair de seus lábios e encontrar meu rosto, eu gostava tanto daquele vinho.

– Mas você acabou de...

– Lauren, eu estava prestes a cometer um erro. – Ela sussurrou baixinho, mais para ela do que para mim, minha boca torceu para o lado em desgosto, porque eu sabia que ela dizia a verdade. Nós éramos um erro. Sim, nós éramos. Um erro que pesava mais para mim do que para ela, porque eu tinha tudo a perder. – Escute. – Ela levou ambas as mãos ao meu rosto e segurou em minhas bochechas, se inclinando um pouco para manter meu olhar no seu. – Você é uma mulher incrível, senhorita Jauregui, e eu estaria mentindo se dissesse que nesses últimos anos eu não me senti atraída por você em nenhum momento. A diferença é que eu sabia que não podia, afinal, você tinha alguém, mas agora... No momento em que eu soube sobre o fim do seu relacionamento eu senti algo diferente, não sei. Talvez o desejo de poder finalmente te provar. Porque eu juro por tudo o que é mais sagrado, Lauren, você é uma mulher interessante demais para não ser desejada.

Senti suas mãos acariciarem minha bochecha, ainda firmes para me manter ali. Mas ela realmente não precisava. Eu estava tão hipnotizada pela mulher em minha frente que não moveria um dedo sequer para sair dali. A verdade em suas palavras era algo que eu nunca antes havia escutado.

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