therapist

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– Eu sinto a presença dele em alguns momentos, doutora, isso é normal?

– Defina esse "sentir". – Ajeitei os óculos no rosto e cruzei as pernas enquanto esperava Jasmine continuar.

Era sexta-feira, eu havia começado os atendimentos em meu novo consultório. A senhora em minha frente se remexeu de forma incomodada na poltrona.

– Eu vou usar como exemplo o que aconteceu ontem. – Ela apertou as mãos. Estava nervosa. – Eu tinha acabado de dar banho em meu neto e o levei para meu quarto, havia deixado a roupinha dele lá. No momento em que entrei no cômodo, um calafrio percorreu meu corpo e eu posso jurar que senti o perfume de meu marido.

Jasmine contou que nas últimas semanas estava sentindo coisas estranhas, uma delas era a "presença" de seu falecido marido.

– Jasmine, nós já conversamos sobre isso. George se foi.

– Eu sei, doutora, mas pareceu tão real, sabe? Eu realmente senti o cheiro dele e ninguém usa esse perfume na casa de minha filha.

– Quando foi que isso começou mesmo?

– Há três semanas.

– Certo. – Anotei em minha caderneta. Retirei os óculos do rosto e apoiei na mesinha ao lado. Movi a página no pequeno caderno e escrevi alguns números antes de rasgar o papel e estender para a mulher a minha frente. – Jasmine, este é um telefone de um colega meu. Eu sugiro que você ligue e marque uma consulta.

A mulher puxou o papel de minhas mãos e me encarou em choque após ler seu conteúdo.

– Um psiquiatra? Doutora Lauren, eu não estou ficando louca.

– Eu sei disso, Jasmine. Sabia que psiquiatras não atendem apenas pessoas "loucas"? As pessoas têm essa predefinição da profissão porque, de fato, a maioria desses profissionais atende pessoas com algum tipo de problema mental, mas não é só isso que um psiquiatra faz. Um psicólogo atende seus pacientes para ajudar de forma lógica e racional, mas um psiquiatra estará mais aberto ao lado emocional. O psiquiatra é sim responsável por tratar certos transtornos, mas também é responsável pela prevenção deles. – Fechei minha caderneta e encarei a velha senhora de forma séria enquanto levantava. – Peço que abra sua mente um pouco e pense sobre isso, tudo bem?

– Sim, doutora. Pensarei. – Jasmine sorriu envergonhada e guardou o papel em sua bolsa, levantando-se da poltrona para me acompanhar.

– Pense com carinho, Jasmine. – Abri a porta do consultório e me despedi da velha senhora. – Vejo você semana que vem.

Jasmine agradeceu e caminhou até a saída. Me inclinei um pouco para fora da sala para visualizar minha secretária em sua mesa. Impecável.

– Normani? – Chamei calmamente. A mulher levantou os olhos do computador para me olhar. – Mais alguém para hoje?

– Não, doutora. A paciente das 17 ligou desmarcando, problemas pessoais.

– Certo. Eu já estou indo para casa então. Você também está dispensada, Srta. Kordei.

Minha secretária sorriu e agradeceu, eu voltei até minha mesa para arrumar as coisas em minha bolsa e pegar a chave de meu carro. Por coincidência, era a mesma bolsa que estava usando no dia em que Camila foi até meu apartamento. Eu não havia pegado nela até então, e só agora me lembrei do envelope que estava ali dentro.

Como pude esquecer?

Recolhi meus pertences e tranquei a porta de minha sala. Me despedi de Normani e caminhei apressadamente até o elevador, apertando o botão para a garagem.

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