Quatro

3.3K 284 89
                                    

Eu como seu melhor amigo, prometo te proteger e te apoiar quando você precisar.

A lembrança dessa frase dita há anos atrás ainda era fresca na minha mente, eu sempre servi como um escudo para Louis, ele sabia que poderia vir até mim quando precisasse e eu também, mas conforme o tempo às coisas foram mudando um pouco. Eu sabia que Jay tinha problemas relacionados a álcool e também psicológicos, mas não falava muito sobre isso com Louis, pois claramente ele ficava chateado. As irmãs dele quase não passavam em casa, Lottie levou todas consigo alegando que a mãe estava louca demais para cria-las, o único que ficou foi ele. Muitas vezes Louis saia durante a madrugada em busca da sua mãe e os vizinhos até se acostumaram a avisa-lo quando fosse necessário. Ele dizia para si mesmo que não queria que a mãe fosse para uma clinica por acreditar que ela iria melhorar, mas na realidade ele tinha medo da solidão e de encarar os próprios problemas de frente, claro ele teria meu apoio, mas pra ele isso se resumiria em ser sozinho, afinal ele não ouvia as coisas que eu dizia.

Além da escola, eu fazia boxe, por ser perto da minha casa facilitava as coisas e me relaxava. Eu não conversava com muitas pessoas, sempre fui tímido, então complicava as coisas. Durante todo esse tempo na academia eu comecei a conversar com Harry, às vezes corríamos juntos por fazer parte dos nossos treinos, ele fazia apenas musculação e eu lutava. Na escola, sempre fui bom aluno, mas nos últimos anos eu perdi a vontade de estudar, então Louis me empurra para fazer as tarefas que os professores passam.

Ontem eu havia se lembrado dos exercícios de matemática (o que é um milagre) e pesquisei um pouco, conseguindo fazer. Não era nada de tão complicado, mas também não era fácil. Coloquei as folhas dos exercícios em minha mochila e como eu estava atrasado para aula, fui correndo.

- Cara você ta atrasado, você percebeu?

- Apenas cinco minutos, eu consigo correr rápido o suficiente, esqueceu?

- Não, claro que não, mas vamos que eu preciso copiar os exercícios.

- C-Como? Tommo precisando copiar os meus exercícios? - Observei que após a pergunta ele abaixou a cabeça com uma feição triste.

- Ei, desculpa, o que aconteceu?

- Nada demais Liam, é que cansa toda hora você ter que buscar sua mãe na casa das outras pessoas por ela estar bêbada e falando coisas que não deve ou arrancando plantas de um jardim qualquer. É complicado não ter apoio de ninguém da sua família pra isso.

- Oh, eu entendo, mas você esqueceu? Quantas vezes eu já te disse que você pode me chamar quando precisar?

- Obrigado cara. Tive uma ideia, porque você não passa uns dias lá em casa para me ajudar a organizar?

- Me chamou só porque eu tenho TOC relacionado à organização.

- Também, mas é porque eu preciso mesmo de ajuda, eu não consigo ajeitar tudo sozinho.

­ - Ok Mr. Tommo. Depois da aula eu passo em casa e pego umas roupas e ai vou pra sua casa, quantos dias?

- De hoje até segunda pode ser?

- Ótimo, agora vamos que a aula vai começar.

Dessa vez parecia diferente, Louis nunca ficava tão para baixo quando sua mãe fazia essas peripécias. Eu não sei o porquê, mas algo o incomodava profundamente. Rezei para que as aulas passassem logo. Não prestei atenção em quase nada, apenas quando recebi um elogio do professor de matemática pelos exercícios tão bem resolvidos. No intervalo não sai da sala tentando enfiar na minha cabeça algo sobre história, pois a avaliação seria na ultima aula. Não reparei a hora passar enquanto fazia e finalmente ouvi o sinal, mas um dia concluído.

Nossas casas eram em ruas diferentes, mas o caminho era quase o mesmo. Eu e Louis caminhávamos em silêncio e eu olhava para os meus pés, pensando em qualquer coisa que vinha pela frente em minha mente.

- Cara, eu estava pensando, se eu colocasse minha mãe em uma clínica... Como eu iria pagar? - deixando de olhar para meus pés, olhei para os olhos azuis do garoto ao meu lado e pude observar uma pequena porcentagem de água se formar em um canteiro do mesmo, praticamente imperceptível.

- Você teria que arrumar um emprego. Sua mãe ainda recebe aquela ajuda dada pela empresa que ela trabalhava?

- Sim, mas ela nunca me deixa mexer com isso e acaba usando todo o dinheiro pra beber.

- Entendo, vou te ajudar a encontrar uma clínica boa... Meus pais tem um amigo que é dono de uma, posso ver com ele como funciona e te passar.

- Vai ser muito útil. Eu preciso fazer isso, não dá mais. - sussurrou as últimas palavras, fazendo um barulho com a garganta.

Permaneci calado até virar a esquina e acenar para ele. Em minha casa, peguei as roupas rapidamente e o número da clinica, em uma das agendas telefônicas que havia na minha casa e fui à cozinha, onde estava minha mãe e a avisei que passaria o resto da semana dormindo na casa do Louis. Eu sentia que ele precisava mesmo dessa ajuda e eu como um bom amigo sabia que eu deveria estar lá, o apoiando e o guiando para as escolhas certas. Chegando à rua da casa do Louis, vi Lottie passando com Fizzy e estranhei, pois era rara a presença dela por aqui. Dei de ombros, caminhando mais um pouco e finalmente chegando em frente a casa do garoto, observei o jardim com a grama mal cortada e girei a maçaneta da porta, em seguida entrando na casa do Louis.

Twitter DepressionWhere stories live. Discover now