Dez

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Porque ele é completamente louco e eu não faço a mínima ideia do motivo?

Não parecia uma resposta boa o suficiente, mas era o que eu pensava naquele momento, ignorei a mensagem, voltando a focar no trabalho, seria um dia longo, porém divertido. Andei pela loja mais algumas vezes e parei para ler um livro cujo titulo parecia agradável. Foi um dia tranquilo, sem muito movimento apenas algumas encomendas, acabei me sentindo como cliente e não funcionário.

- Louis, você já pode ir. - o Sr. Smith disse e me observou.

- O Senhor tem certeza de que não que eu fique até fechar?

- Claro meu filho, você passou praticamente o dia todo sozinho nesse balcão enquanto eu arrumava o estoque, deve estar cansado de ficar em pé, então vá descansar. - Sr Smith disse em tom agradável e cuidadoso, era boa pessoa, parecia o pai de todos. Eu me lembro de quando era um pouco mais novo e ele em datas especiais fazia distribuição de livros e balas para as crianças que fossem até lá, claro, eu tinha todos os exemplares, desde que eu era criança frequentei essa loja e despejava meus problemas quando me aprofundava em um livro.

- Muito obrigado, até amanhã então.

- Até amanhã.

Peguei minha mochila e desliguei o computador, sai e logo estava no trajeto de volta para minha casa. Eu me sentia mais leve ao saber que chegaria em casa e não teria de sair correndo atrás da minha mãe na casa de um dos vizinhos. Agora ela estava segura. Liam possuía um peso grande nisso tudo, afinal se não fosse por ele não teria jantar e eu comeria o restante da pizza do almoço (então Harry também é importante, pois se não fosse por ele....) chacoalhei a cabeça afastando esse tipo de pensamento e continuei a andar.

Passei a mão no bolso e peguei as chaves, entrei e joguei a mochila torcendo para que não caísse no chão, mas no sofá.

- Liam, cheguei. - Não ouvi resposta, mas sim o ruído da agua caindo do chuveiro então presumi que fosse ele. Subi as escadas e entrei no quarto, joguei meus sapatos e a calça em algum canto e vesti um short, aproveitei para colocar o celular para carregar e então desci em direção a cozinha. Havia uma espécie de macarrão com alguns legumes e frango em cima do fogão, parecia apetitoso, coloquei em um prato e me sentei logo ouvindo a porta do banheiro abrir e a figura de Liam apenas coberto por uma toalha aparecer no meu campo de visão.

- Boa noite bro, espero que goste, é yakissoba, só não tem o hashi, mas o garfo terá a mesma funcionalidade.

- Isso ta m-muito bom - Eu disse em meio à mastigação.

- Agora come porque falar de boca cheia é feio - Ele disse saindo.

Comi em silencio focado no meu prato, o tic tac do relógio me faziam companhia, eu estava ansioso para que domingo chegasse, seria a primeira vez que veria minha mãe após a internação, segundo Des é de extrema importância a companhia dos filhos nesse momento para que a paciente possa se sentir segura e amada pelas pessoas que estão a sua volta e ver que estar ali não é sinônimo de vergonha e sim de superação. Coloquei o prato e os talheres usados na pia e então peguei meus livros para ver os exercícios já que os de Liam estavam jogados no sofá eu aproveitei para consultar.

- Li, páginas 56, 57 e 60 do de matemática e 80 a 84 do de química?

- Isso, espera um pouco que eu já vou fazer também.

Sentei-me à mesa de jantar com os meus cadernos e os livros olhando os exercícios, não que eu odiasse números ou cálculos, mas seria uma carreira que com certeza eu não seguiria. Lembrei-me de quando era mais novo e tive que fazer um experimento citado no livro para a aula de ciências, tudo correu bem até que eu quase deixei uma colega de classe cega quando o liquido voou para fora do recipiente, comecei a rir sozinho e finalmente Liam sentou-se.

Meia hora após ter começado eu queria algo para comer, não que eu estivesse com fome, mas seria uma forma de distração. Liam desde sempre O - D - E - I - A fazer tarefas ouvindo musica, já eu coloco no volume máximo, fico mais concentrado. Fui até a cozinha e peguei uns marshmallows e alguns chocolates, além de um copo de refrigerante grande para cada um, levei tudo em uma bandeja e voltei aos exercícios. Matemática havia sido finalizada com sucesso, agora seria a parte um pouco pior.

Por sorte os exercícios do livro se tratavam de um dos assuntos que eu dominava bem, então foi fácil. Terminei primeiro que o Liam, mas continuei a mesa com os livros abertos e o caderno, nós não gostávamos de fechar, parecia uma forma de desafio ou mesmo de humilhação, pode parecer besta, mas é o nosso jeito. Comi os meus chocolates e então ataquei os dele, por estar na academia ele mantinha uma dieta regrada, às vezes abandonava para poder beber e comer o que quisesse e logo depois voltava ao seu foco. O Boxe havia transformado Liam em uma pessoa melhor, ele passou a pensar mais antes de tomar atitudes e não brigava nas ruas como fazia antes, afinal no fundo ele não passa de um grande urso de pelúcia em versão humana.

Aproveitei o tempo e resolvi uns exercícios de inglês que estavam pendentes, mesmo que fosse para a próxima semana, eu sempre gostei de adiantar tudo. Enquanto fazia, citei algumas frases com o intuito de interagir com ele, então respondíamos e dávamos risada. Eu reconhecia que melhor amigo que ele eu não poderia encontrar. Ouvi de longe o toque do celular de Liam, mas como ele não se incomodou em atender fiquei quieto. Uma, duas, três vezes haviam ligado ele não tinha percebido. Na quarta eu resolvi falar.

­ - Bro, seu celular ta tocando faz séculos, você não ouviu?

- A cinética di... O que?

- Seu celular, está tocando.

- Ah sim, atende pra mim, está lá no banheiro.

Sai correndo pra pegar e nem olhei quem era, apenas deslizei meu dedo pela tela.

- Alô?

- É, oi, com que eu falo? - Ouvi uma voz lenta e rouca do outro lado da linha.

- Aqui é o Louis, você quer falar com o Liam né, eu vo...

- Então muito prazer, Harry.

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