Vinte e um

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— Chegamos.  – Eu disse apontando para a porta e me soltando do seu abraço.

— A vizinhança já sabe que a casa agora é sua. – Parou na porta e olhou para a Sr. Brooke que regava as flores do quintal.

— Os vizinhos são uns fofoqueiros, eu não consigo conviver bem com nenhum deles, a única pessoa próxima daqui que é legal é sua mãe. Os outros são legais comigo por pena, ou por curiosidade de saber o quão na merda eu estou. Senta, eu vou pegar água. – Eu disse enquanto entrava e largava a mochila no sofá.

— Então, quer começar por onde? - Zayn gritou da sala.

— Na verdade, de qualquer parte que eu começar vou chorar, então você se importa?

— Claro que não, eu já disse Louis, eu estou aqui pra isso.

— Tudo bem... Eu fui a uma festa ontem e bebi, Harry me beijou, Nick tirou fotos e agora todos na escola estão me zoando, acho que seja isso.

— Harry é o garoto dos olhos verdes, não é?

— Sim, ele mesmo. Ele é amigo do Nick e... PORRA! FOI ELE QUE FEZ ISSO DE PROPÓSITO! – Eu me entreguei e comecei a chorar, deixei que aquilo tudo que estava guardado saísse e fiquei de joelhos no chão enquanto murmurava diversos não para mim mesmo. Em um dia eu estava dizendo que não cairia no jogo dele e no outro eu havia caído. É Louis, a vida é uma grande merda.

— Louis calma, como assim ele fez de propósito? Ele te defendeu aquele dia na escola, não é possível que tudo isso faça parte de um grande teatro.

— E o prêmio de melhor ator vai para... Harry, claro, fazendo o papel de mentiroso no filme Vida do Louis.

— Ei, calma, porque você não fala com ele?

— PORQUE ELE É UMA MERDA ZAYN! ELE É PIOR QUE O NICK! O QUE ELE FEZ É DESUMANO! O QUE ELE FEZ COMIGO NEM ANIMAIS FAZEM COM OUTROS! – Carreguei com mais força as palavras e suspirei buscando fôlego para liberar ainda mais lágrimas que vinham.

— Louis, eu não acho que ela tenha te enganado. Todas as vezes que eu o peguei olhando para você o verde se tornava mais intenso, ele parecia aflito para que você estivesse se sentindo bem. Ele queria ter isso atrás de você, mas o Liam não deixou, ele disse que você queria ficar sozinho.

— Nessas horas eu percebo como o Liam me conhece, se vocês tivessem ido atrás de mim provavelmente eu não teria saído daquele banheiro.

— Então, quem tomou a iniciativa de querer ir foi o Harry, eu não vejo aonde se encaixa ele estar mentindo.

— Eu vejo, e muito bem, ele é só mais um, só isso. – Eu disse e abaixei a cabeça me segurando para não deixar com que o nó na minha garganta me atrapalhasse.

— Louis, eu já passei por muita coisa complicada na minha vida também, você quer me ouvir pra se sentir mais a vontade?

— Se não for te incomodar.

— Claro que não, vamos lá. – Ele respirou fundo e tomou fôlego – Louis, desde quando eu era criança eu sofri por diversas coisas, ou por estar magro demais, por estar fora do peso, por deixar o cabelo crescer, por deixar o cabelo curto, por andar de um jeito ou andar de outro. Quando eu tinha sete anos fui chamado para fazer uma peça de teatro na escola e tentei perder a vergonha, um garoto me chamou de tímido e disse que eu tinha o jeito muito mole, eu fui correndo para o banheiro e fiquei chorando até minha mãe vir me buscar.  Logo que eu completei dez anos meus amigos começaram a me zoar porque eu nunca tinha beijado, então me forçaram a dar um selinho em uma garota. Eu disse que não gostei e ficaram me chamando de veadinho, mais uma vez eu sai correndo e ai foi a primeira vez que eu achei uma forma de alívio. Eu me arranhei. Meus ombros sangravam com a força que eu coloquei nas minhas unhas e diversos vergões ficaram ali. – Mais uma vez o fôlego se fez necessário e então eu afaguei seus cabelos.

— Se não quiser continuar tudo bem ok? - Eu disse, tentando de alguma forma o confortar. Eu nunca fui bom em fazer coisas desse tipo, mas era um amigo e eu tinha que tentar.

— Eu preciso Louis, é doloroso, mas me alivia, posso continuar? – Eu apenas assenti e dei espaço para que ele continuasse. – Com doze, eu comecei a sair mais e em uma dessas vezes um dos garotos mais velhos escondeu um pouco de droga no meu bolso. A polícia me pegou, meus pais tiveram que pagar um valor em dinheiro para que eu saísse. Eu contei quem tinha feito isso. Uma semana depois o garoto tinha sido pego. Duas semanas depois mataram meu pai. Nós continuamos morando na mesma cidade, mas constantemente algo acontecia, então nos mudamos pela primeira vez. Era uma cidade bem perto dessa e bem tranquila, foram anos sossegados e sem problemas até que eu encontrei um antigo companheiro meu, aquele mesmo, o que eu entreguei para a polícia, e passei três dias seguidos com uma arma sendo apontada para minha cabeça, até que por um milagre me encontraram e ele foi detido mais uma vez. Nos mudamos para cá faz uns três anos e logo que eu cheguei me envolvi com um cara que usava drogas e acabei me envolvendo com maconha, e logo ele me colocou nesse meio. Eu ficava sabendo de todos os esquemas e foi ai que eu conheci Nick. Ele costumava frequentar o ponto para comprar um pouco de erva e alguns gramas de pó, ia ao menos duas vezes na semana, um pouco depois ele reduziu a quantidade e também a frequência, aparecia uma vez no mês. Phelipe, o garoto que eu me envolvi, achou estranho e mandou uns capangas dele irem atrás de Nick durante uma visita para ver se ele andava comprando em outro lugar, mas não, eles só descobriram que os amigos dele estavam cansados de bancar o vício e que os pais de todos haviam descoberto. Com ordens expressas, Phelipe mandou um dos capangas se envolver com Nick para que ele ficasse por ali e não divulgasse. Uns meses depois Nick tinha se tornado a puta do ponto, todos transavam com ele a hora que bem queriam e ele sempre estava disponível para mais. Os amigos dele voltaram a frequentar e gastavam um pouco mais, só que Nick recebia em troca dos seus favores sexuais drogas. A última vez que eu convivi com isso foi quando ele se submeteu a transar com os cinco capangas de uma vez e até a apanhar para ganhar um carro. Phelipe não apreciava a atitude totalmente, mas ele tinha um nome a zelar então não proibia. Em uma conversa tranquila eu disse para ele que não queria mais isso, eu tinha os meus planos de ir para a faculdade e crescer e então ele chorou no meu ombro dizendo que queria ter forças pra fazer o mesmo e me deixou de presente dinheiro e um pouco de erva. Eu passei a fumar apenas cigarros e as vezes apareço por lá para comprar algo, mas é raro, Phelipe me trata muito bem, ele me vê nessa situação e mareja, não consegue guardar os sentimentos, e é de praxe, todas as vezes que eu apareço por lá ele diz: Arrume alguém que seja forte como você e te ame, seja muito feliz. 

Zayn olhou para mim e eu o abracei de lado, tentando de alguma forma ou outra confortar o garoto de topete, que vestia roupas pretas e que aparentava ser alguém perigoso, mas que tinha um grande coração, o qual infelizmente, ou felizmente, poucos enxergavam.

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