Day twenty - L'amour.

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Música do capítulo: L'amour est un oiseau rebelle.

Blanche's POV

Sábado, 02 de outubro de 1943 - 05:24 AM.

Abri os meus olhos apenas para ouvir Habanera vindo do andar de baixo.

Era meu aniversário, data onde eu comemoro mais um ano de vida, mas também era a data que minha mãe completa mais um ano de morta.

O meu pai sempre tentava me fazer esquecer esse último detalhe, mas não era uma coisa fácil saber que você foi a culpada pela morte da sua própria mãe.

A única coisa que ele fazia nesse dia que me fazia lembrar a minha mãe era tocar Habanera, de Georges Bizet.

Ela gostava.

Eu já tentei me dizer que culpa não era minha, eu fui planejada, afinal.

Mas nada tirava essa dormência do meu peito.

Me levantei da cama e prendi o cabelo antes de sair do quarto. Assim que abri a porta a música ficou mais alta e adentrou meus ouvidos com mais intensidade.

- Jesus Cristo, filha! - Meu pai riu quando me viu no topo da escada. - Há quanto tempo você não penteia esses cabelos?! - Eu tive que rir.

- Eu queria dormir até um pouco mais tarde, é meu aniversário! - Eu desci as escadas e o encontrei lá embaixo.

- Eu sei que é, por isso você um bolo! - Ele sorriu e eu o olhei incrédula antes de caminhar ate a cozinha.

O bolo estava em cima da mesa.

Não tinha nada de muito especial, nem velas ele tinha, mas ainda era um bolo.

- Como pagou por ele?! - Perguntei sabendo que não tínhamos dinheiro para esse luxo.

- Foi um presente de Ludovica. - Ele deu de ombros e eu respirei fundo. - Eles virão para um jantar hoje a noite! - Eu o olhei incrédula outra vez.

- Que jantar, papai?! Sequer temos algo para nós, quem dirá para oferecer... - Ele riu e me interrompeu.

- Você se preocupa demais, Blanche! - Ele passou a mão na minha cabeça. - O amor é um pássaro rebelde. Que ninguém pode domar, e é em vão que chamamos isso. Se ele concorda em recusar. - Ele pegou a minha mão e começou a me fazer dançar enquanto eu ria.

Nada ajuda, ameaça ou ora.
Um fala bem, o outro fica em silêncio.
E é o outro que eu prefiro.
Ele não disse nada, mas eu gosto.

Amor!
Amor!
Amor!
Amor!

Eu ri entre lágrimas ainda embaixo do chuveiro.

A água quente escorria pelo meu corpo encharcado e tomava as lágrimas, misturando-as e tornando-as águas únicas quando chegavam ao ralo.

Eu nunca vi ninguém dançar uma ópera, meu pai fazia de tudo para me fazer feliz.

Essas datas comemorativas eram as piores, mas ele me fez aprender a deixar a culpa de lado. Aos poucos eu aprendi a lidar com a culpa que sentia, mas isso não significa que ela ainda não parecia para dizer olá de vez em quando.

- Parabéns, menina! - Martha desejou assim que eu saí do banheiro devidamente seca e vestida.

- Obrigada, Martha! - Eu sorri animada ao ver um envelope em suas mãos. - É para mim? - Ela assentiu rindo.

1943's Battle Where stories live. Discover now