𝗔 𝗙𝗿𝗶𝗮 𝗦𝗮𝗹𝗮

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Belch Huggings se revirava em sua cama como um frango frito. Não entrava em sua cabeça o fato de que enquanto tinha uma macia cama para ter os melhores sonhos Charlotte estava lá. Algo dizia no seu coração para salvar a menina, então, as três horas da manhã o menino pegou seu carro e se dirigiu pequena floresta atrás da imensa escola pública de Derry.

Pegou uma lanterna e começou a procurar pelo corpo. Lá estava ela, com o sangue ainda quente e molhado por todo o seu corpo, mas a fratura que mais chamava atenção era um "H" na parte inferior de seu pulso.

Sua pele estava pálida como porcelana, e o seu respirar era a cada vez mais breve. Mesmo com todos os hematomas ela ainda sim estava linda. Ele a pegou nos braços e colocou no banco do passageiro da frente.

Quando chegou em casa desceu ao laboratório de seus pais com ela. A deitou em uma maca gelada de alumínio e cuidadosamente colocou uma máscara de oxigênio nela.

Ambos os pais do menino eram legistas e, na última semana haviam viajado para o maior congresso dos Estados Unidos. Não era uma raridade que conversassem sobre más companhias com o menino.

Mas nada disso importava agora, a não ser que Charlotte ficasse bem.

Depois disso tudo desceu o seu colchão e dormiu ali mesmo, no frio laboratório feito para cadáveres, mas que agora abrigava um dos mais belos milagres que já existiu.

[...]

- Belch ? O que está acontecendo ? - Ela acordou e pulou da maca fria.

- Finalmente você acordou ! Graças a Deus, Charlotte, como se sente ?

- Onde estou e por que estou aqui ? - Examinou seus pulsos com atenção e começou a chorar.

- O seu irmão. Ele te deu algo ontem e te espancou.

- Eu ... eu sabia que ele tinha má índole ! Mas não ao ponto de tentar me matar ... meu Deus, como vou sair daqui agora ? Victor também ajudou ?

- Sim - o menino fitou seus olhos para o nada, pensando no que iria fazer - olha, pegas essas roupas aqui e toma um banho. Depois vemos o que vamos fazer.

- Que horas são ?

- 4:27.

- Eu preciso voltar para Londres agora, mamãe sempre esteve certa. Meu lugar não é aqui, simplesmente não é !

- Vamos ? - Pegou a mão dela e a conduziu até o andar de cima, onde havia um banheiro lindíssimo com mármore no pavimento.

Sem falar uma palavra Charlotte tomou um banho, talvez o mais longo e pensativo da sua vida. Para ela, nada daquilo era verdade, para ela, acordaria novamente com sua avó brincando com os seus cabelos no seu apartamento na Oxford.

Olharia para aquele rosto suave como uma brisa de verão e nunca mais teria curiosidade de saber sobre seu pai, além do mais, a bondade de sua avó bastava.

A água do chuveiro doía em meio todas aquelas feridas, então, cansada de tudo aquilo a menina se sentou no chão do lugar, fechou os olhos e esperou acordar novamente, mas nada daquilo que ela planejava aconteceu. Abriu os olhos e as feridas ainda estavam lá.

[...]

- Está com fome ?

- Sim, morrendo de fome por sinal.

- Toma - entregou pizza em um prato descartável para a menina e se sentou no sofá, ao lado dela - quer ver algum filme ? Não passa nada demais de madrugada.

- Qual você tem ?

- De Volta Para o Futuro, Curtindo a Vida Adoidado ...

- Qual o seu favorito ?

- Sinceramente? - Charlotte sorriu, curiosa com o que o menino iria dizer - Sexta-Feira Treze.

- Acredita que nunca vi ? É de terror né ? Provavelmente vou me cagar toda vendo. - A menina se acomodou no sofá. Era engraçado vê-la com roupas que não eram suas.

- Não tem problema, vou pular as partes mais "cagáveis".

[...]

- Ei, Reginald, obrigaa por tudo. Não sabia que era tão incrível assim, mas eu preciso ir embora e pedir ajuda.

- Só fiz o meu trabalho. Não se preocupe, eu tenho um plano. Eu encontro alguma maneira de sair daqui com Henry e nesse meio tempo você vai para casa pedir ajuda.

- Entendi. Mas precisamos de algum sinal, algum horário ou algo do tipo.

- 12:00, se nesse horário eu ainda estiver em Derry você pode fazer o que quiser comigo.

- Obrigada Belch.

[...]

O despertador tocou, era 12:00 e a britânica não via a hora de sair daquela casa que, por sinal era linda, mas sem significado nenhum.

Pegou seu vestido de baile, colocou em uma sacola e saiu perambulando, como se nada de ruim houvesse acontecido. O blusão amarelo do menino cobria as feridas, e era isso que importava.

Entrou pela parte de trás da casa, chamando pelo seu pai, desesperadamente. Um silêncio ensurdecedor era notável.

- Papai ? - Se dirigiu a cozinha e não encontrou o homem, sabia que aquele era seu dia de folga. - Pai ! Cadê o senhor ! - Gritou mais forte ainda, dessa vez se dirigindo a sala com passos longos e lentos.

- Acho que o papai não está mais aqui - a menina avistou Henry, com uma faca recém enfiada no pescoço do pai.

- Não! Você ... você não fez isso ! Não! Nunca ! - Então desmaiou e, o irmão, por sua vez fez a mesma coisa com a irmã.

[...]

Richie:
- Tem certeza que não viu ela ? Não faz ideia pra onde ela foi ?

Bill:
- N-não! Beverly sabe muito bem disso.

Beverly:
- É, Henry a levou pra casa e então desapareceu. Liguei dez mil vezes e nada.

Mike:
- Acho que devíamos ir na casa dela ver se está tudo bem.

Ben:
- Concordo, eu ia querer que procurassem por mim.

Eddie:
- Será que a coisa pegou ela ?

Stanley:
- Eddie ! Vamos deixá-la em paz, pelo menos por enquanto.

Richie:
- O que foi Stanley, beijou mal ontem ? Falou alguma coisa errada ?

Beverly:
- Eles se beijaram sim, eu vi ! E ela amou.

Richie:
- Até ela vomitar do nada no banheiro e quase morrer lá dentro.

Mike:
- Ei ! Vamos lá ou não?

Stanley:
- Pode ser perigoso. E se o pai dela estiver lá? Vamos morrer na certa.

Ben:
- Vamos !

Então o grupo dos excluídos se dirigiu para a casa da menina e lá encontraram o corpo cheio de sangue, posto com cuidado no meio da sala e com um "H" no pulso. Nenhum daqueles meninos nunca mais foi o mesmo, e ela fazia falta todos os dias, principalmente para Stanley.

A sua mãe entrou em um processo contra o próprio filho e teve uma recaída. Mas um ano depois se recuperou do vício das drogas e adotou um menininho e o chamou de "George".

Charlotte, por sua vez foi enterrada ao lado de seu pai, e na sua lápide estava escrito em letras douradas :

"Meu pequeno anjo, minha querida, minha estrela cadente, te encontrarei onde é que você esteja.

Ass: Mamãe."

FIM.

A Extraordinária História de Charlotte Bowers (PRIMEIRA VERSÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora