Capítulo 28

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Sentada próximo a uma fonte de água no pátio da fundação ela tinha em suas mãos um livro que achava que lia mas sua mente estava naquele homem que roubou sua vida, e a destruiu por dentro. Ela via seus olhos famintos se aproximarem dela, seus lábios se movendo falando com ela, ele lhe dava água e num instante surtar e atacá-la daquela forma, a dor invadiu seu corpo ela gritava , rolava no chão e pedia que ele parasse que estava a machucando ela pedia por socorro, alguém a abraçou e apertou-a forte contra seu peito. _ Agora estás segura. Ele não vai mais te machucar. Confia. Urbi ainda tremia, estava vermelha.

Anelisse e Saicu chegaram e encontraram-na ainda trêmula e soluçando nos braços do Savimbi, ele parecia chorando também. Os três a levaram para dentro. Savimbi só queria ajudá-la. Ele sentia-se culpado por ter demorado a prender aquele psicopata, ver o sofrimento da Urbi incomodava-o bastante, sabia que ela viveria com aquela dor para sempre.

_ Urbi meu amor, por favor eu preciso de ti, preciso que sejas forte como sempre foste. Precisa encarar os seus demónios e não cair na depressão. Anelisse falava enquanto acariciava as mãos da amiga.

_ Eu sinto muito. Sinto tanto, por tudo que aquele desgraçado fez. Savimbi falava com o rosto no chão, ele realmente estava envergonhado.

_ Não. Não é culpa sua. Ele trabalhava aqui connosco, estava o tempo todo ao lado dela, ele podia atacá-la a qualquer momento. Nós é que fomos ingênuos demais. Saicu falou encarado Savimbi.

Todos sentiam culpa pelo acontecido, todos até as crianças que sobreviveram, elas achavam que elas eram culpadas por terem nascido albinas, talvez Urbi não teria que lutar por elas e ser alvo de um psicopata. Urbi também sentia-se culpada, por ser albina, por ser mulher e por querer ajudar os outros.

Mustafá não foi apagado da história, as pessoas precisavam lembrar dele para se precaver. A morte não acabou com o problema dos albinos, talvez a sua história só tenha atiçado a curiosidade de alguns feiticeiros. Mas Savimbi estava pronto para lutar e ele estava mais disposto do que nunca, ele tinha Marcelo do seu lado e dessa vez o estado também ia apoiá-los, a caça e morte do Mustafá lhes rendeu fama e muitos benefícios, eles já podiam caçar e prender todos os bruxos, feiticeiros, caçadores e assassinos de albinos. Tinham fundos, materiais , armas e espaços nas cadeias suficientes.

Marcelo sorria enquanto dirigia para mais uma caçada ao lado do seu parceiro, ele iria honrar o trabalho da Urbi e falando nela, ele estava receoso de ir vê-la mas, prometeu que assim que voltasse daquela caçada iria visitá-la.

É difícil dizer quando começou o massacre dos albinos em alguns países africanos. O ser humano está cada vez mais cruel e ambicioso, começou a vender tudo para poder satisfazer suas luxúrias. Marcelo e Savimbi viram de tudo durante muito tempo mas sempre se surpreenderam com a audácia dos caçadores e feiticeiros de albinos.

A luta de todos era/é espiritual, tocar a alma das pessoas, a mente delas, o coração delas para que possam um dia perceber que estão erradas mas , enquanto a ambição e a ilusão estiveram a andar de mãos juntas o homem ainda estará tentado a fazer tudo por dinheiro para sustentar suas maldições.

Reeducar as pessoas é um trabalho árduo e duradouro. É preciso não desistir e persistir se quisermos deixar pessoas melhores para o mundo.

Em frente ao espelho ela chorava e apertava suas mãos uma contra a outra, ela só queria entender como seria conviver com aquela dor mas, sentia falta de seu trabalho, cada vez que pensava na sua fundação ela lembrava do dia horrível e da sua consequência. Sentia nojo dela mesma, sentia vontade de desistir mas o seu ego a alertava para não perder o foco porque toda a luta tem suas perdas mas sempre valerá a pena lutar por aquilo que queremos. A dor da desistência poderá ser maior que a cicatriz de uma ferida conseguida ao longo da luta. Ela sabia que não seria fácil mas, precisava se esforçar e sair às ruas de novo, ver o sorriso daquelas crianças. Ela precisava abraçar a sua amiga e parabenizá-la pelo casamento e dizê-la como ela está feliz por ela.Sua dor iria acompanhá-la por toda a vida e ela precisava aprender a conviver com ele e fazer dele sua arma, sua âncora, porque o passado não se apaga mas sim aprende-se com ele. Ela pegou no seu telemóvel e ligou para sua amiga.

Fim!


Deixem a vossa opinião do que acharam da história até aqui.

Obrigada por me  acompanharam até o final, especialmente para Caroline Factum que dede sempre tem me incentivado muito.

Rosa Carvalho pelo incentivo e pela amizade. A todos vocês um beijo grande. 

Xi corações.

Urbi- Massacre de AlbinosOnde histórias criam vida. Descubra agora