5 - Helpless

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Já fazia algumas horas desde que Clarissa saiu para andar no parque da cidade com sua mãe, as duas sempre caminhavam nas manhãs de sábado para conversarem à luz do sol, era relaxante.

- A Sra. Thompson já debutou a filha? - Clarissa questiona, virando a cabeça na direção da mulher mais velha.

- Sim.

- Pobre Victoria. - ela responde com um leve suspiro.

- Pois saiba que essa foi a melhor decisão que ela poderia ter tomado para sua amiga.

- Ora? Qual o objetivo de entregar a menina tão cedo nas mãos de um homem qualquer?

- Clarissa Stuart Williams, que modo de falar é esse? Um homem nunca será um qualquer na vida de uma dama. Pelo contrário, é uma benção. Um cavalheiro sempre tirará uma mulher da solidão e lhe dará uma moradia e uma família. Isso vai muito além de sua birra com a minha vontade de arrumar um casamento para você.

- Já disse que não irei me casar agora, mamãe. Sabe muito bem por quem espero...

- Oh querida, aquele lá retornará apenas como o novo duque.

- Mamãe! A senhora não pode falar assim! - Clarissa interrompe os passos abruptamente. Elas já estavam descendo a velha ponte do lago, prontas para dar a volta e seguir o caminho de casa.

- Mas é a verdade, oras! Ralph amava a senhorita Kate, mais do que o recomendado. É previsível que não suporte a dor da perda mesmo anos depois. - Elas voltam a andar. - Pobre homem... - Ava estava com os olhos fixados à sua frente, a pena estava estampada em seu rosto. - Portanto, - ela continua - se Ruel só retornará quando o pai for capaz de aguentar viver na antiga casa de sua família, isso não acontecerá enquanto o duque estiver vivo.

Clarissa odiava concordar com a mãe, mas ela estava certa dessa vez.

E também odiava o fato de que se a mãe estivesse certa, não veria Ruel nem em um milhão de anos.

- Eu fiz uma promessa e irei cumpri-la.

- Você tinha sete anos, era uma criança.

- E mesmo agora que acabei de completar quatorze possuo o mesmo sentimento. Ouso dizer que até mais forte.

- Você está arriscando suas chances, Clarissa. Não quero uma filha solteirona, quero vê-la casada com um homem real, não com a memória de um jovem menino que pode ter mudado completamente ao passar dos anos e correr o risco de quebrar seu próprio coração com a imagem que inventou dele.

As palavras da mulher mais velha atingiram Clarissa como uma faca. A ideia de Ruel não sentir mais o mesmo por ela lhe dava dores incontroláveis no peito. Joshua a convencera do contrário, mas ela não sabia por quanto tempo aquilo poderia ser chamado de esperança e não de engano próprio.

- A senhora me prometeu um limite, se lembra? Dezoito anos. Até meus dezoito anos terei a liberdade de esperar quem eu quiser, certo? Promessa é promessa.

- Como pode ser tão teimosa com um homem como o senhor Bassett rastejando aos seus pés?

- Mamãe! Joshua e eu somos apenas amigos. Casar com ele seria quase como me casar com meu irmão.

- Clarissa, - ela olhou confortavelmente para a filha, como se tentasse lhe explicar algo - não existe amizade entre um homem e uma mulher.

- Pois então Josh e eu somos a exceção à regra. - Ela sorri desdenhosamente para a mãe.

- Seria uma pena, pois Joshua é um baita cavalheiro. Pensa que não sei? Sempre que precisa ele está lá, correndo para protegê-la.

- Como Ruel costumava fazer...

- Por Deus, Clarissa. Esqueça esse menino. - A mulher já estava impaciente, mas não podia negar que a filha puxara sua força de decisão. Quando punha algo na cabeça, não havia algo nem ninguém que pudesse mudar, e é por isso que os conflitos eram comuns na relação das duas.

Depois de quase duas horas de passeio, mãe e filha chegam em casa. Clarissa tira o chapéu branco que estava usando para combinar com seu vestido azul claro e entrega para o mordomo.

- Senhorita. - ele a cumprimenta, fazendo um movimento de reverência com a cabeça. Ela corresponde com um sorriso simpático. - Mais cedo quando as senhoras estavam de saída, uma correspondência chegou para a senhorita. Está em sua penteadeira.

Uma correspondência? Em seu nome? Seria de Ruel? Não poderia ser...

Ou poderia?

- Obrigada por me alertar.

Ele acena com a cabeça e se retira do ambiente.

Ao mesmo tempo que Clarissa queria sair correndo diretamente para seu quarto e rasgar o envelope do que quer que fosse essa tal correspondência, tinha medo. Medo de qual conjunto de palavras teriam sido formados pela tinta em uma pena caso fosse a tão esperada carta que sonhava receber todos os dias desde a partida de um jovem loiro de sua cidade.

Ela subiu as escadas de madeira com a menor velocidade possível. Quando chegou ao corredor, ficou encarando a porta de seu quarto, como se fosse um monstro prestes a atacá-la.

- Vamos lá, Clarissa. - Ela diz para si mesma. - Não era isso o que você tanto queria? Se for de Ruel é claro...Tudo bem. Vamos lá.

Ela gira a maçaneta e empurra a porta com uma velocidade que até o homem mais rápido do mundo não deveria ter alcançado ainda. O medo da coragem desaparecer no meio do caminho era maior do que ela.

Quando olhou para a penteadeira, lá estava ele. Um retângulo de papel amarelado e dobrado, se destacando contra a madeira escura do móvel. Ao se aproximar mais, observou o selo vermelho colado para segurar o triângulo de abertura do envelope com as iniciais VVD. Vincent van Dijk.

Era dele.

Era ele.

Through the time • RuelWhere stories live. Discover now