1797
Já fazia algumas horas desde que Clarissa saiu para andar no parque da cidade com sua mãe, as duas sempre caminhavam nas manhãs de sábado para conversarem à luz do sol, era relaxante.
- A Sra. Thompson já debutou a filha? - Clarissa questiona, virando a cabeça na direção da mulher mais velha.
- Sim.
- Pobre Victoria. - ela responde com um leve suspiro.
- Pois saiba que essa foi a melhor decisão que ela poderia ter tomado para sua amiga.
- Ora? Qual o objetivo de entregar a menina tão cedo nas mãos de um homem qualquer?
- Clarissa Stuart Williams, que modo de falar é esse? Um homem nunca será um qualquer na vida de uma dama. Pelo contrário, é uma benção. Um cavalheiro sempre tirará uma mulher da solidão e lhe dará uma moradia e uma família. Isso vai muito além de sua birra com a minha vontade de arrumar um casamento para você.
- Já disse que não irei me casar agora, mamãe. Sabe muito bem por quem espero...
- Oh querida, aquele lá retornará apenas como o novo duque.
- Mamãe! A senhora não pode falar assim! - Clarissa interrompe os passos abruptamente. Elas já estavam descendo a velha ponte do lago, prontas para dar a volta e seguir o caminho de casa.
- Mas é a verdade, oras! Ralph amava a senhorita Kate, mais do que o recomendado. É previsível que não suporte a dor da perda mesmo anos depois. - Elas voltam a andar. - Pobre homem... - Ava estava com os olhos fixados à sua frente, a pena estava estampada em seu rosto. - Portanto, - ela continua - se Ruel só retornará quando o pai for capaz de aguentar viver na antiga casa de sua família, isso não acontecerá enquanto o duque estiver vivo.
Clarissa odiava concordar com a mãe, mas ela estava certa dessa vez.
E também odiava o fato de que se a mãe estivesse certa, não veria Ruel nem em um milhão de anos.
- Eu fiz uma promessa e irei cumpri-la.
- Você tinha sete anos, era uma criança.
- E mesmo agora que acabei de completar quatorze possuo o mesmo sentimento. Ouso dizer que até mais forte.
- Você está arriscando suas chances, Clarissa. Não quero uma filha solteirona, quero vê-la casada com um homem real, não com a memória de um jovem menino que pode ter mudado completamente ao passar dos anos e correr o risco de quebrar seu próprio coração com a imagem que inventou dele.
As palavras da mulher mais velha atingiram Clarissa como uma faca. A ideia de Ruel não sentir mais o mesmo por ela lhe dava dores incontroláveis no peito. Joshua a convencera do contrário, mas ela não sabia por quanto tempo aquilo poderia ser chamado de esperança e não de engano próprio.
- A senhora me prometeu um limite, se lembra? Dezoito anos. Até meus dezoito anos terei a liberdade de esperar quem eu quiser, certo? Promessa é promessa.
- Como pode ser tão teimosa com um homem como o senhor Bassett rastejando aos seus pés?
- Mamãe! Joshua e eu somos apenas amigos. Casar com ele seria quase como me casar com meu irmão.
- Clarissa, - ela olhou confortavelmente para a filha, como se tentasse lhe explicar algo - não existe amizade entre um homem e uma mulher.
- Pois então Josh e eu somos a exceção à regra. - Ela sorri desdenhosamente para a mãe.
- Seria uma pena, pois Joshua é um baita cavalheiro. Pensa que não sei? Sempre que precisa ele está lá, correndo para protegê-la.
- Como Ruel costumava fazer...
- Por Deus, Clarissa. Esqueça esse menino. - A mulher já estava impaciente, mas não podia negar que a filha puxara sua força de decisão. Quando punha algo na cabeça, não havia algo nem ninguém que pudesse mudar, e é por isso que os conflitos eram comuns na relação das duas.
Depois de quase duas horas de passeio, mãe e filha chegam em casa. Clarissa tira o chapéu branco que estava usando para combinar com seu vestido azul claro e entrega para o mordomo.
- Senhorita. - ele a cumprimenta, fazendo um movimento de reverência com a cabeça. Ela corresponde com um sorriso simpático. - Mais cedo quando as senhoras estavam de saída, uma correspondência chegou para a senhorita. Está em sua penteadeira.
Uma correspondência? Em seu nome? Seria de Ruel? Não poderia ser...
Ou poderia?
- Obrigada por me alertar.
Ele acena com a cabeça e se retira do ambiente.
Ao mesmo tempo que Clarissa queria sair correndo diretamente para seu quarto e rasgar o envelope do que quer que fosse essa tal correspondência, tinha medo. Medo de qual conjunto de palavras teriam sido formados pela tinta em uma pena caso fosse a tão esperada carta que sonhava receber todos os dias desde a partida de um jovem loiro de sua cidade.
Ela subiu as escadas de madeira com a menor velocidade possível. Quando chegou ao corredor, ficou encarando a porta de seu quarto, como se fosse um monstro prestes a atacá-la.
- Vamos lá, Clarissa. - Ela diz para si mesma. - Não era isso o que você tanto queria? Se for de Ruel é claro...Tudo bem. Vamos lá.
Ela gira a maçaneta e empurra a porta com uma velocidade que até o homem mais rápido do mundo não deveria ter alcançado ainda. O medo da coragem desaparecer no meio do caminho era maior do que ela.
Quando olhou para a penteadeira, lá estava ele. Um retângulo de papel amarelado e dobrado, se destacando contra a madeira escura do móvel. Ao se aproximar mais, observou o selo vermelho colado para segurar o triângulo de abertura do envelope com as iniciais VVD. Vincent van Dijk.
Era dele.
Era ele.
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Through the time • Ruel
RomanceRuel, Joshua e Clarissa são melhores amigos desde que nasceram. Suas famílias, pertencentes à alta elite da Inglaterra, eram conhecidas e próximas graças aos títulos que possuíam. Clarissa e Ruel tinham uma conexão superior, brincando de serem um pa...