10 - The one that got away

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1799

22 de maio de 1799. Há exatamente 1 ano, Ruel enviava sua última carta para Londres. Clarissa esperou. Todos os dias, semanas, meses...Mas nenhuma chegou. A menina tentava dizer para si mesma que tudo estava bem e só se preocupava demais. Talvez ele estivesse ocupado, quem sabe? "Mas ninguém fica ocupado por um ano" seu subconsciente lhe dizia.

Nos primeiros meses, Clarissa tinha esperanças em cada batida na porta da frente de sua casa. Em cada visita. Talvez algum dia acordasse e Ruel pudesse estar em pé no saguão de entrada, mas nunca aconteceu.

Ela agia como se nada houvesse acontecido. Quem estivesse de fora poderia perceber um incômodo na menina, mas nada para se preocupar. Somente ela sabia sobre o sumisso de Ruel, pois não contara para ninguém e ninguém se interessava em saber. Talvez estivesse adiando o inevitável e seus pais descobririam um dia e então a obrigariam a entrar na próxima temporada mesmo sem nenhuma confirmação da notícia repassada. Portanto, a jovem preferia não compartilhar a informação, pois aquilo não fazia sentido para ela. Se ele se fora, por que os Lancastre ainda não tomaram Norfolk? O castelo estava vazio, apenas alguns empregados dos Vincent habitam o lugar. Clarissa fez questão de se certificar incontáveis vezes. Por que nenhuma carta foi enviada pelo atual duque com um comunicado? Suas famílias eram tão próximas! São tantas perguntas...

Durante a noite, Lady Williams sonhava apenas com a presença de Ruel. Durante o dia, verificava com o mordomo se havia chegado alguma encomenda em seu nome e lhe pedia para não mencionar sobre o assunto perto de ninguém. À tarde, saía para caminhar e todo homem loiro que passava, seu coração tamborilava dentro do peito, mas nenhum deles era Ruel. Com o tempo, à noite tinha medo de dormir e sonhar com ele, pois a tristeza que sentia quando despertava e percebia que aquele momento não era real não era nem um pouco reconfortante. De manhã, apenas se sentava no sofá da sala e tomava um pouco de chá com biscoitos. À tarde, ficava em casa, sentada, observando. Clarissa nunca foi de se abrir com as pessoas, na maioria das vezes a jovem guardava tudo o que estava sentindo para si até que o sentimento desaparecesse. E era isso o que ela estava fazendo e planejava fazer.

Ava começou a estranhar o comportamento diferente e fechado da filha, então começou a fazer de tudo para que ela saísse de casa, mas nada adiantava. Conversar poderia ser uma solução para a maioria das famílias, mas a marquesa lhe conhecia e sabia que a menina iria enrolar até que ela esquecesse do que estava falando no início da conversa.

Clarissa estava evitando tanto as visitas e caminhadas que alguns boatos de que estava doente começaram a se espalhar por Londres. Seus pais tentaram desmentir em alguns eventos e conversas com conhecidos, mas foi uma atitude completamente inútil contra as versões contadas pelas fofoqueiras da cidade. Afinal, como não acreditar nelas quando a jovem não saía de casa havia dias?

Pela surpresa de Ava, Joshua foi o primeiro à visitá-la. Apenas ele, pois seus pais saíram em uma viagem à negócios e voltariam em uma semana.

Ava estranhou quando a filha permitiu que Joshua entrasse para vê-la. Geralmente ela expulsava os próprios pais dos cômodos para deixarem-na sozinha.

Clarissa estava lendo um livro no sofá da sala quando o jovem visconde finalmente entrou.

— Clare?

— Joshy, — ela sorri e põe o objeto de lado — entre, por favor.

— Com licença — ele a cumprimenta, acenando com a cabeça — Fiquei sabendo de alguns rumores sobre a senhorita. Aconteceu algo? — ele pergunta, se sentando no estofado à frente do dela após ela convidá-lo a se sentar com um aceno de mão.

— Claro, por que não estaria? — respondeu com um sorriso que poderia convencer a todos de que era verdadeiro, mas não a Joshua.

— Sabe que não acredito em você, não é?

— Então por que veio até mim? Já tem a resposta que quer formada em sua cabeça. — disse rapidamente em defesa.

— Clare, sou tudo menos burro, consigo ver que está mentindo a um quilômetro de distância.

— Joshua, já disse que estou bem. Já tem sua resposta, agora vá embora.

Ouch. — ele coloca a mão direita no peito como se tivesse sido ferido. — Já está me dispensando? Achei que era diferente das outras.

— Você é um idiota, sabia disso?

— E você uma mentirosa.

— Como tem tanta certeza de que estou mentindo então?

Joshua respira por um momento e finalmente diz:

— Porque ele também parou de escrever para mim.

Rapidamente, de sarcástico, o rosto dos dois ficou sério. Clarissa encarava o chão agora.

— Quando foi? — ela pronuncia depois de um longo tempo sem saber o que dizer.

— O que?

— Que ele falou pela última vez com você.

— Há mais ou menos um ano. E você?

— A mesma coisa.

Ambos estavam nervosos, não conseguiam se encarar ou sustentar uma conversa por mais de dois segundos.

— Não é nada com você, está bem? — Clarissa finalmente quebra o silêncio — Só...prometi à mim mesma que não irei falar disso com ninguém. Achava que você não tinha percebido por não falar com ele com tanta frequência como eu.

Joshua apenas balançou a cabeça em afirmação.

— O que você acha?

— Sinceramente, não sei o que pensar.

— Ou está se recusando a pensar? — Joshua disparou em troca.

— Como?

— É tempo demais, Clare. Ele estava em uma guerra.

— Pare de se referir à ele no passado.

— Só estava querendo dizer que...

— Não interessa. — ela o cortou — Ele não está...

Morto? — ele completa.

— É fácil para você acreditar nisso. Não consi...

Fácil? — seus olhos se encheram de mágoa e dor com uma rapidez espantosa. Ele se levanta. — Está brincando comigo, não é? Só porque vocês estavam prestes a se casar não significa que seja fácil para mim. Ruel era meu melhor amigo, meu irmão. Perdê-lo seria como perder uma parte de mim. Então não, Clarissa. Não é mais fácil para mim. Pare de agir como se a senhorita fosse a única que tem sentimentos aqui, pois não é! — ele explode de vez.

A menina ficou apenas o encarando respirar pesado. Joshua parecia guardar aqueles sentimentos por muito tempo e finalmente os cuspiu para fora. Era como um peso a menos nas costas e infelizmente Clarissa era o único alvo presente.

Por mais que seus amigos formassem um casal romântico, Joshua nunca se sentiu excluído ou deixado de lado, até o momento em que Clarissa pronunciou as palavras erradas.

Nenhum dos dois trocou palavra alguma. Lady Williams apenas andou lentamente até ele, que não estava mais olhando para ela, e então o abraçou. Um abraço de conforto, pois acima de tudo, Joshua era seu melhor amigo, vê-lo machucado fazia com que ela colocasse todos seus problemas para trás apenas para ajudá-lo. E saber que era a razão dessa dor quebrava seu coração.

— Me desculpe.

Ele retribui o abraço fechando os olhos.

Joshua sabia que ela não havia falado de propósito para feri-lo, estava apenas em negação e qualquer um que tentasse convencê-la do contrário seria recebido a tiros.

— Está tudo bem. — finalmente pronunciou.

E eles ficaram ali, por um bom tempo, abraçados.

Naquele momento, ambos sabiam, algo havia mudado entre eles.

Through the time • RuelWhere stories live. Discover now