Capítulo 1: Shit

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Frio. Frio é um sentimento que, em um dia como aquele, pessoas normais não estariam surpresas em sentir. Eu não sentia frio. Eu não era normal. Neste dia eu sentia raiva. Raiva por coisas que pessoas normais não sentiriam. Raiva por estar vivo ou ver o outro vivo. E mais raiva ainda, por não poder descontá-la, e sim, aprender a viver com ela. Quando alguém arranca a sua liberdade por conta de um simples deslize, é normal, de fato, esse sentimento. Eu, porém, perdi o meu controle.

Controle. Controle é uma escolha, um direito. Uma característica ou caracteriza alguém por não possuí-lo. Eu perdi totalmente o meu controle. Se valeu a pena? Não, não chegou nem perto. O que nasceu como arrependimento se tornou passa-tempo e, após, um vício.

Esse vício faz parte de mim, infelizmente. Nunca vou me livrar dele e tenho consciência disso. Não adianta quantos remédios tomarei ou serei forçado a ação. Não importa quantos anos passarei sozinho. Se estou machucado ou não também não é importante, pois fiz outros sentirem dor e ri, explicitando meu prazer.

Anos vão se passar e eu terei uma  segunda chance. Não irei usá-la. Não posso usá-la. Meu objetivo é me afundar mais e mais. Eu não mereço uma segunda chance. E não deveriam me oferecer uma segunda chance.

Pessoas como eu não pensam, não raciocinam. Elas vão atrás de algo para se aliviarem, para " só mais uma vez e eu paro". Tolo. Você não irá parar. Tentará, porém, falhará. Eu falhei.

A minha vida era para se basear no sucesso da carreira da minha mãe. Como ela era vista por todos e como era amada por mim. Isso nunca foi real, nada disso. A minha mãe é uma mentirosa. Ela cria mentiras e incluem todos ao seu redor somente para se auto beneficiar. A minha vida era uma mentira e eu não posso  mudar isso. Fui deixado de lado, não era importante. Fui esquecido, quem me lembraria? Nunca fui amado e isso nunca mudaria.

Talvez fosse para ser assim. Talvez eu fosse uma pessoa ruim em outra vida e esse era o meu castigo. Talvez esse sofrimento fosse merecido. Eu só queria me livrar dele.

Agia como se não fosse nada. Como se nada estivesse acontecendo. Todo aquele desespero e eu não sentia nada além de alívio.

Às vezes o silêncio é o melhor pedido de ajuda.

"Gi- Naum :)"

Primeiro dia de aula. Aquele dia que você  espera depois de tanto tempo em casa e, em menos de uma semana, você já quer férias de novo.

Comigo, pelo menos, era assim.

Ficava as férias inteiras esperando para o último dia que é quando a minha mãe resolve ir comprar o material escolar, só pra depois da primeira aula de física querer tudo de volta.

Que grande ciclo.

Mas este ano eu estou decidida. 100% decidida de que tudo vai mudar.

Quero gente nova legal na escola, não aguento mais olhar na cara das mesmas pessoas todos os dias.

Quero variar um pouco nas amizades. Não quero deixar todos os meus amigos de agora de lado, mas, as coisas mudaram. Eu só não consigo mais forçar amizade com quem eu não gosto, entende?

Por isso estou decidida de que quero novos amigos, meninas ou meninos.

-Bom dia! - digo pegando uma maçã

-Bom dia! Animada? - pergunta a minha mãe.

-Por incrível que pareça, não. Acho que estou assustada mesmo.

-Por causa dos alunos de transferência? - ela pergunta sem hesitar.

-Por causa dos alunos de transferência. - minha resposta foi tão imediata quando a sua pergunta. Talvez tenha falado demais do meu medo dos alunos de transferência.

Sweet Lie I Min YoongiOnde as histórias ganham vida. Descobre agora