Capítulo 03: entre karaokês e ciclones

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— Mas o que foi aquilo? — Bárbara me interrogou assim que consegui ficar livre do grupo de adolescentes. Todas as perguntas prestes a serem feitas estavam expostas em seu semblante, então, eu tinha duas opções: a) enrolar e não lhe dar resposta alguma e ficar ouvindo suas especulações o dia todo, ou b) cortar logo esse assunto de uma vez.

— Nada demais. Ele é só um cara com quem topei quinta-feira. Ele me ajudou a recuperar minha bolsa que um garoto tinha roubado. — Dei de ombros, fazendo pouco caso quando sabia como ela iria reagir.

Você foi assaltada? — Ela arregalou os olhos, quase gritando. — Por que não me disse nada?

— Foi coisa boba. De verdade, não sofri um arranhão sequer.

— Certeza? Não está mentindo para me deixar menos preocupada?

— Não.

Bárbara não acreditou completamente na minha palavra, mas também não insistiu, talvez porque minha aparência não demonstrava qualquer diferença.

Observei minha irmã mudar sua abordagem e logo soube que meu plano de redirecionar o foco daquela conversa havia falhado.

— E aquele cara? Você não costuma dar corda para qualquer um, nem lembro a última vez que te vi falar com um homem assim antes. Por que a mudança?

— Ele me ajudou. Vou comer uma pizza com ele para agradecer pela ajuda e matar esse assunto de vez.

—  Toda aquela conversa sobre segundas intenções não parecia papo de quem pretendia apenas comer pizza e agradecer. — Barbara estreitou os olhos para mim. — Fala a verdade, que se interessou por ele.

Olhei bem minha irmã, focando em seus olhos, e falei devagar, como quem conversa com uma criança.

— Eu não tenho interesse nele. Entendeu?

— Ah! Não seja assim! — Seus ombros caíram, enquanto sua expressão era de puro sofrimento. — Por que você é tão incoerente? As pessoas não conversam daquele jeito só porque querem comer pizza. Cara algum viria te ver e te chamar para comer pizza se não estivesse interessado em você! E você deu corda.

— Eu já deixei claro que não quero nada, ele que sabe o que faz com isso. E eu não dei corda, estava apenas conversando!

Bárbara colocou as mãos no rosto, respirando fundo antes de voltar a me olhar, com seus olhos pequenos.

— O fato de que você provavelmente está dizendo a verdade me irrita.

— Problema seu. — Comecei a pegar os livros infantis já catalogados para colocar nas estantes. — E eu ficaria muito feliz se você mantivesse esse acontecimento somente entre nós. Não quero suas gêmeas falando de mim pelas costas. Ainda mais sobre algo que significa nada.

A mudança de assunto mudou os pensamentos de Bárbara por um momento.

— Elas não são minhas gêmeas — retrucou, de cenho franzido.

— Tá — bufei, sabendo que o caminho que tomava era o mais rápido para fugir daquela conversa.

— Ah! Você está com ciúmes! — Ela riu. — Para com isso, Becky. Sabe que Lucy e Vanessa não substituem você.

— Lucy pode ter uma opinião controversa — murmurei, depositando os livros sobre a mesa perto da estante mais próxima para começar a guardá-los.

— Lucy é um pouco presunçosa, mas gosta de você.

— Claro. — Revirei os olhos. — Ela adoraria me enfiar em um bueiro para sempre.

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