18. uma rainha de pedra e um rei de copas

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Não sei quanto corri até conseguir enxergar um táxi, mas já estava ensopada e nem o capuz do casaco servia de algo. O carro parou a alguns metros de distância e precisei correr mais um pouco para chegar até ele. Mas não fui a única.

— Eu pedi este! — Disse a mulher com o guarda-chuva vermelho. Eu estava prestes a lhe implorar que me deixasse entrar e fugir daquele temporal, mas me calei quando vislumbrei quem era sob o sobretudo escuro e cachos dourados.

Lucy pareceu surpresa ao perceber que a louca usando pijama embaixo da chuva era eu.

— Rebecca? — Ela entoou. — O que está fazendo?

— E-eu preciso chegar ao... Não importa. — Dei de ombros, tirando o cabelo ensopado do rosto antes de olhar ao redor. Precisava encontrar outro meio de transporte ou completar o caminho correndo, mas não pretendia dar à Lucy mais munição contra mim.

— Bárbara me contou! — Lucy exclamou sobre o barulho da chuva. Quando a olhei, não havia qualquer veneno em seu olhar. Havia apenas resignação, algo que nunca tinha vislumbrado antes nela. — Sobre Sebastian. Ela disse que você não estava bem... E eu fiquei realmente intrigada com o fato do bartender bonitão não ser gay e ainda preferir você...

— Mas em algum lugar da sua mente obscena, o fato de ele gostar de mim apenas acaba reforçando sua convicção de que ele poderia ser gay?! — Repliquei, franzindo o cenho ao tentar completar seus pensamentos. Lucy sorriu, não debochada ou tirando sarro de mim, apenas o sorriso de alguém que tinha escutado algo que aprovara ou achara engraçado.

— Talvez... — Ela deu de ombros. Seu sorriso não existia mais quando abriu a porta traseira do táxi e acenou com a cabeça para mim. — Pode pegar este. Eu me viro.

— Sério? — Surpresa devia estar estampada em todo meu rosto, pois era assim que eu sentia. Lucy assentiu.

— Já perdi um ou dois caras muito legais por ignorância e orgulho, Rebecca. Então, quando Bárbara me contou sobre tudo... Não sei, comecei a ver você de outra maneira. Tá, eu sempre tive um pouco de inveja por você ser perfeita demais. Saber que não é... acho que colocou as coisas no lugar certo.

Engoli em seco. Aquela não podia ser Lucy. Ela acenou novamente na direção do carro.

— É melhor ir. Imagino que não tenha dinheiro aí, então, eu pago a corrida. O carinha atrás do volante já é um conhecido meu, confiável.

Eu custei a descongelar e entrar no táxi. Lucy fechou a porta para mim e eu baixei o vidro rapidamente.

— Obrigada — entoei. Ela apenas assentiu.

— Espero que dê tudo certo.

— Eu também — murmurei, estremecendo. Lucy se afastou e eu fechei a janela novamente. Depois que passei o endereço para o moreno atrás do volante, recostei no banco e respirei o mais fundo que pude. O que tinha acabado de acontecer? Minha cabeça estava girando.

Cheguei no bar longos e torturantes minutos depois. Nem mesmo a música pop exalando do painel do carro faziam muito para me distrair da chuva lá fora. O trajeto foi uma grande tortura.

— Obrigada — exclamei antes de sair do carro e correr para as portas do bar. Assim que apareci, as pessoas em mesas mais próximas me olharam. Meu pijama escuro e longo não era feio, mas ficava óbvio que era um pijama. O casaco era cinza, com capuz largo cobrindo meu cabelo ensopado, grudado nos fios.

Comecei a abrir e fechar o zíper do casaco numa espécie de tique nervoso, até vislumbrar quem eu procurava. Sebastian acabava de voltar para trás do balcão após entregar alguns copos de cerveja, usava jeans escura e camisa jeans de botões e mangas, combinando com o par de tênis Converse. Contando meus passos, foquei em caminhar naquela direção. Não pensei em mais nada. Não pensei na parte de mim que queria apenas dar meia-volta e fugir. Simplesmente não pensei.

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