10. nos holofotes da encenação

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Katy Perry tocava quando Bárbara chegou e já tínhamos terminado tudo no jardim. Tom e Pat levavam as panelas para fora enquanto Vanessa ajudava a colocar a mesa e Letícia tagarelava com Moana na cozinha sobre a preparação de sucos. Lucy apenas mexia no celular, largada no sofá.

Bárbara usava legging e uma blusa larga dos Bulls, mesmo que ela sequer goste de basquete. Olhou para o cômodo e além, para o jardim, depois para Lucy e eu, encostada na parede ao lado da porta da cozinha. Seu olhar distante perscrutou o meu e ela soube que eu sabia. Sua mandíbula moveu-se quando ela trincou os dentes, então ajeitou sua mochila e um rolinho preso por tiras embaixo do braço, antes de subir, sem dizer uma palavra sequer.

Respirei fundo, sentindo-me um pedaço de lixo.

— Pensei que suas expressões comuns fossem patéticas, mas até que gosto dessa em especial — disse Lucy ao passar por mim, sorrindo da minha desgraça antes de subir. Tive vontade de lhe arrancar os cabelos, mas não o fiz.

— Você parece que matou alguém, garota — pontuou Moana um minuto depois ao se aproximar.

— Matei, sim — resmunguei. — Minha dignidade.

A negra de olhos espertos os revirou, me puxando pelo cotovelo para o jardim e me fazendo sentar ao lado da cabeceira da mesa. Tudo estava tão bem organizado e bonito.

Tom e Sebastian continuavam a cena de casal sempre que Lucy aparecia, apelando para apelidos e sorrisos doces que escondiam puro e inegável deboche. Mas perto de Vanessa e Letícia eles eram apenas dois idiotas se cutucando e xingando.

— Vou chamar as meninas — disse Vanessa quando tudo estava realmente finalizado para o jantar, então sumiu dentro da casa. Letícia e Moana já voltavam a falar sobre coisas aleatórias, arrastando Pat para a conversar vez ou outra.

Sebastian ocupou lugar na cabeceira e obrigou Tom a sentar na cadeira à sua direita. Depois de um tempo percebi que era porque assim ele ficaria o mais longe possível de qualquer outra pessoa na mesa além de mim e Thomas primeiramente, depois de Pat e Moana, que sentavam uma de frente para a outra, com Letícia ao lado de Moana. Portanto, restava para Bárbara, Vanessa e Lucy os assentos na outra cabeceira ou ao lado de Pat, bem distantes de Sebastian. Perceber a proporção do cuidado de Sebastian em relação a Lucy me fez rir um pouco. 

Vanessa chegou um momento depois, sozinha. Olhou-me com pesar mal disfarçado.

— Bárbara não vai descer, Lucy decidiu ficar com ela.

Apertei os dentes, fechando as mãos em punhos sob a mesa sem perceber. Vanessa ocupou lugar ao lado de Pat e eu levantei, sem ouvir o que Sebastian falava. Caminhei firmemente até o andar de cima e bati à porta de Bárbara.

— Vanessa...

— Não é Vanessa, sou eu — interrompi minha irmã. Pude ouvir Lucy bufar e resmungar algo que não entendi.

— Não quero falar com você, Rebecca — retrucou Bárbara. — Muito menos comer com seus amigos.

— Ah, é? Então o que você vai fazer? Me ignorar pelo resto da sua vida? — Exclamei contra a porta.

— Não sei, talvez.

— Não seja ridícula, Bárbara. Me deixa entrar! — Bati novamente.

— Você a troca por seus amigos e ela é que é ridícula? — Lucy soltou. Senti tanta raiva que poderia tê-la atacado se não fosse por aquela porta.

— Não estou falando com você, Lucy — rosnei. — Bárbara, por favor.

— Só me deixa aqui, Rebecca — ela disse. Respirei fundo, encostando a testa na porta e respirando fundo novamente. Silêncio pairou de ambos os lados por um instante.

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