Capítulo 04: Lucy e o enigma de Heartlock

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       Ao chegar em casa, encontrei Bárbara na cozinha preparando chá e algumas omeletes; assim que me ouviu entrar na cozinha, seus olhos voltaram-se na minha direção com um brilho astuto, fazendo-a parecer um gato espreitando um rato que gostaria muito de encurralar.

— Olha só — entoou —, cheguei antes de você.

— Demorei a encontrar um táxi.

— Vanessa me deixou aqui há uns quarenta minutos. Lucy saiu com um cara que conheceu na praça de alimentação... Enfim, o filme foi legal. Tinha sangue demais e explosões demais para mim, mas consegui me entreter. — Ela sorria docemente ao se virar para me olhar, recostando na bancada com sua xícara de chá entre os dedos. Os olhos grandes ainda me fitavam com curiosidade mal disfarçada.

— E a pizza?

Encostei na geladeira e dei de ombros enquanto tomava um grande gole de água, sentindo o sabor do coquetel perdendo a força em meu paladar.

— Estava boa — murmurei, tampando a garrafa. — Mamãe ligou, perguntou por você.

— É, falei com ela alguns minutos atrás. E o carinha estranho? Ele deve ser legal, já que você ficou fora de casa durante três horas.

Franzi o cenho, mexendo os ombros antes de me virar para guardar a garrafa com água na geladeira. Estava torcendo para que ela deixasse esse assunto morrer, mas sempre era pedir demais dela.

— Por que você parece tão para baixo? Ele não era legal?

Bárbara mudou de posição onde estava, sua postura tornando-se um pouco rígida ao me encarar com as sobrancelhas enrugadas.

— Não... Ele é legal. — Respirei fundo, tirando minha jaqueta para subir. — Legal como ninguém com quem me encontrei antes. Esse é todo o problema.

— Como assim? Se ele é interessante, ótimo! Vocês podem tentar algo.

Revirei os olhos, arrancando os sapatos a caminho da saída.

— Uma pessoa ser interessante não significa que eu precise namorá-la, Bárbara.

— Ser amiga, então! — Ela revirava os olhos. — Você parece chateada.

Suspirei pesadamente, pois sabia que ela tinha razão, mas nem eu compreendia o motivo da minha chateação.

— Você disse que queria ser como eu, não é? — Estendi as mãos, como quem diz "observe-me". — Esta sou eu. Sem amizades legais ou paqueras, porque evito todos eles. Vou dormir.

— Mas Rebecca...

— Boa noite, Bárbara.

Ao chegar no quarto, tirei a roupa e me joguei no colchão sem mais cerimônias. Sentia-me inútil, uma coisa estúpida e avariada, que sequer podia fazer amizades normalmente.

Desde a infância tive a impressão de pertencer a outro planeta, outra civilização além desta, e por muitos anos esperei ser retirada desta realidade para ser devolvida ao meu devido lugar. Evidentemente, isso nunca aconteceu, e precisei aceitar que o meu mundo é este, assim como a minha realidade. Se me sinto parte dela ou não tornou-se insignificante.

☆☆☆

       Na manhã de domingo, Bárbara tagarelou durante o café da manhã sobre uma saída para beber alguma coisa; um plano voltado para garotas. Tentei com muito custo fazê-la me tirar desse grupo, mas ela estava irredutível, foi assim que acabei com um encontro marcado na sexta-feira, no mesmo grupo que a dupla dinâmica e mais duas amigas de Bárbara. Iríamos a um bar descoberto por Lucy recentemente onde, segundo ela, servem ótimas bebidas.

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