Capítulo 06: formando palavrões na sopa de letrinhas

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☆ ☆  SEBASTIAN  HEARTLOCK  ☆ ☆


       O que Rebecca disse não foi nada demais, mas o jeito que a sua voz tornou-se dura me pegou de surpresa. Sua postura relaxada mudou no mesmo instante, como se uma muralha tivesse aparecido entre nós de repente. Não precisei ir além para saber que falar sobre o seu pai, estivesse ele morto de verdade ou não, era um assunto que estava restrito para mim.

Rebecca tomou um gole pequeno da sua bebida, erguendo o rosto para observar as luzes amarelas balançando com a brisa leve no terraço. Conforme os segundos em silêncio passavam, sua postura foi voltando a como estava antes devagar. Seus ombros relaxaram lentamente, seu olhar focado tornou-se gentil conforme vagou pelas lâmpadas uma por uma, distraindo-se no brilho dourado sem pressa.

O rosto dela ficava mais bonito quando ela estava assim, deslocada de qualquer momento presente ou passado, apenas admirando algo que goste. Normalmente suas expressões são sempre duras e carregadas de estresse, mesmo que ela não esteja estressada. Quando ela se permite relaxar de verdade, suas feições são completamente diferentes do comum; foi essa mudança do frio desinteresse para o mais caloroso interesse que me fez achá-la intrigante a princípio. Ela consegue ir de um extremo a outro sem meio termo ou falsas emoções.

— Quer ir lá em cima? — Indaguei, dando uma olhada no terraço antes de voltar a encará-la. Rebecca balançou a cabeça em negação com bastante veemência, o que me fez rir. — Você não gosta muito de pessoas, né?

— É tão notável assim? — Ela me olhou com deboche, deixando para trás seu humor azedo.

— Um pouquinho. — Sorri, respondendo no mesmo tom debochado. Ela apenas ignorou. — Me deixa curioso.

Rebecca me encarou com descrença estampada nas sobrancelhas arqueadas e o queixo levemente inclinado.

— O que pode ser remotamente curioso sobre não saber lidar com pessoas?

— Não é isso que me deixa curioso. — Murmurei, tomando um gole de cerveja bem devagar, pensando em como colocar o que queria falar sem afastá-la.

— Se demorar mais para dizer o que quer, vou ficar com torcicolo de tanto te encarar daqui. — Ela colocou a mão na lateral do pescoço, incluindo a cabeça em sua palma enquanto me olhava com atenção. Estava fazendo graça, sua expressão denunciava isso.

Mais uma vez, a mudança de intocável à alcançável me deixava intrigado.

— Você não gosta de lidar com pessoas, mas está aqui. Você foi à pizzaria, me deu seu nome e número. Isso me deixou confuso no início.

— Pensou que eu queria alguma coisa com você? — Ela sorriu.

— Não exatamente, mas precisa admitir que não me trata como um completo estranho.

Rebecca deu de ombros, tomando mais um gole do seu copo.

— Acredite no que quiser, menos que tenho qualquer interesse romântico ou sexual em você. Não é nada pessoal, eu só não quero nada disso no momento.

— Certo. Posso acreditar que o meu charme é tão avassalador que nem mesmo a sua ansiedade social resistiu a mim?

Rebecca me encarou com o mesmo olhar de deboche de antes, mas adicionando um pouco de desgosto na maneira como apertou seus lábios. Acabei rindo.

— Não se coloque em tão alta conta, Heartlock. — Ela balançou a cabeça em negação, terminando sua bebida com o último gole. — Não tenho ansiedade social, apenas prefiro me poupar de ver pessoas para além do trabalho. Você não tem nada especial, só quis sair da rotina e aqui estou.

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