⊱Dez⊰

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stávamos descarregando.

Haviam comprado muitos suprimentos para as crianças abandonadas daquela instituição. Já havíamos descarregado bastante coisa, mas ainda parecia brotar cada vez mais da terra. Aquilo realmente era impressionante. Meus ombros já estavam cansados, mesmo não sendo apenas eu e Davison que estávamos descarregando. Haviam mais cinco pessoas com a gente. Três homens e mais duas mulheres.

Dois dos homens eram gêmeos e às vezes tentava realmente adivinhar quem era quem por serem idênticos sem dizer nenhuma palavra, esperando que os dois se tratassem pelos nomes para ver se havia acertado ou não, mas eu estava totalmente errado. Não era muito bom em adivinhações na minha vida inteira. Nem com chutes. Minha professora de matemática que o diga. Também nunca gostei de futebol. Não para jogar, porque eu tinha dois pés esquerdos e os meninos me zoavam muito e nunca passavam a bola para mim. Eu já superei isso. Nunca mais joguei futebol.

As duas mulheres que estavam conosco, eram casadas uma com a outra. Elas eram mais altas que eu e também mais fortes, já que eu era meio magricela. Elas tinham um corpo e tanto. Seus braços davam dois do meu com toda certeza. Uma era negra de cabelos bem afros amarrados em um coque mal feito acima da cabeça. A outra era loira com um cabelo cortado em um channel. Tinha olhos verdes e uma expressão séria. Suas sobrancelhas arqueadas a deixavam com uma expressão ainda mais bruta, mas ela havia se mostrado bem legal até ali.

O outro homem era o típico homem de academia. Estava com uma camisa regata vermelha e estava sempre endeusando os músculos. Tinha quase certeza que fora chamado ali apenas para se mostrar, talvez para se apresentar para alguém a quem prometera ajudar no descarregamento. De qualquer forma era deplorável olhar para ele. Ele se achava muito gostoso mesmo tendo uma cara de gnomo de jardim.

Quando finalmente fizemos uma pausa, resolvi ir até o banheiro tirar a água do joelho. Já fazia algum tempo que estávamos trabalhando. Pelo menos o almoço seria por conta da própria instituição aos que ajudaram no descarregamento e assim que passei pelo corredor próximo à cozinha, senti o cheiro temperado pairando naquele ar e se condensando à minha respiração. Minha boca encheu-se inevitavelmente de água, mas ainda não estava pronto, pois ouvi uma das travestis gritar que faltava mais algum tempo.

Assim que cheguei ao banheiro, despejei toda a urina da minha bexiga, fechando os olhos com a sensação de alívio que se instalou sobre mim. Assim que terminei, lembrei bem de fechar o zíper. Eu sempre tive problemas com zíperes. Eu acabava quase sempre esquecendo de fecha-los e alguém, quase sempre Davison, me alertava sobre o zíper aberto, me fazendo fechar. Com o zíper fechado, lavei minhas mãos e às sequei, saindo do banheiro logo em seguida.

Caminhando pelo corredor, me deparei com um pequeno rosto conhecido. Uma garota de cabelos ondulados castanhos e pele cor de chocolate segurava um bebê de mesma cor. Ela parecia concentrada demais naquele bebê em seus braços para me notar. Resolvi me aproximar dela, então só assim chamei a sua atenção. Ela elevou seus olhos castanhos até me encontrar se fixando em mim. Dei um leve sorriso, mas ela continuou seria me fitando, até que aos poucos os cantos de seus lábios foram se movimentando até formar um meio sorriso.

― Sou o André, lembra de mim? ― perguntei dando um pequeno aceno.

― Lembro sim! ― confessou ela com uma voz rouca. ― Você foi um moço que falou comigo na recepção quando eu estava grávida ainda!

― Isso! ― disse empolgado por ela ter se recordado de quem eu era mesmo lhe dirigindo a palavra apenas uma vez e tão superficialmente. Achava que nem ao menos ia lembrar de mim. ― Sou eu mesmo!

― Esse é o seu filhinho?

― Sim!

― E qual é o nome dele?

Quem dá mais por ele?Onde histórias criam vida. Descubra agora