⊱Quatorze⊰

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𝓟aramos em frente à minha casa.

Olhando-a agora, ela me parecia bem menor que antes, quase como se tivesse encolhido enquanto estive fora, todavia sabia que não tinha condições dela ter encolhido. Aquela sensação estava apenas na minha cabeça. Talvez depois de ter estado no apartamento de Henrique por mais de uma vez, fizesse eu ter tido aquela impressão sobre o lugar onde eu vivia.

Retirei o cinto de segurança, mas não desci de imediato do veículo. Henrique me encarava com um sorriso contido no canto da boca. Sentia algo novo brotando dentro de mim naquele momento, como se um vazio estivesse se instalando aos poucos por ter que ir embora. Mordi a parte inferior do meu lábio sem saber exatamente o que dizer antes de sair do carro.

― Bem, eu acho que isso é um adeus! ― disse por fim num tom mórbido.

― É, eu acho que sim!

Estendi a mão para que ele a apertasse e assim ele fez, então nos despedimos com um simples aperto de mãos. O vi contraindo os lábios logo após soltarmos as nossas mãos. Não disse nada. Nem eu. Sentia que faltava algo, mas não saberia explicar exatamente o quê. Minha cabeça estava afundada na mais completa confusão.

Precisava sair do carro para seguir para a minha casa, portanto abri a porta, colocando minhas pernas para fora, girando o corpo junto e por fim jogando o peso do meu corpo para a frente, até que pudesse sentir o chão firme nas solas do meu sapato. Fechei a porta do carro sem fechar a janela. Henrique colocou seus óculos escuros. Ele ficava bem daquele jeito. Ajeitou por fim as mangas da roupa e com um aceno acelerou para o seu destino.

O vi se distanciando cada vez mais naquele camaro preto. Tudo o que sobrara dele por fim, fora uma imagem na minha cabeça e uma nuvem de poeira, além daquele vazio que já havia sentido um pouco antes, crescendo cada vez mais no meu peito. Respirei fundo e decidi ignorar tudo aquilo. Precisava voltar para a minha realidade. Pôr a minha cabeça no lugar.

Segui pela estrada de pedras do pequeno portão de entrada até a porta de entrada da casa. Girei a maçaneta e abri a porta. Davison estava logo ali na sala assistindo TV, quando me viu, pausou o que quer que estivesse assistindo e por fim levantou-se para me receber. Fechei a porta atrás de mim. Não vi nenhum sorriso ou empolgação pela minha chega brotar no rosto de Davison, como das diversas vezes.

― André! ― disse ele num tom sério e tentei imaginar o que poderia ter deixado ele daquela forma, já que alegria era uma marca registrada no seu rosto. ― Nós precisamos conversar!

Meu coração gelou imediatamente. Davison não costumava falar naquele tom sério. A primeira vez que eu o ouvira falar daquele jeito, foi quando ele me contou sobre a sua doença há algumas semanas atrás. Tinha medo do que poderia sair de sua boca à partir dali.

― O que foi que aconteceu? ― indaguei preocupado.

― Quando pretendia me contar que você está saindo com Henrique Honorato?

Mal podia acreditar no que estava ouvindo sair de sua boca.

― Quem te contou isso? ― perguntei encurralado.

― Achou mesmo que as travestis fofoqueiras da recepção iam guardar seu segredo por muito tempo?

― Na verdade nem pensei nisso!

― Então isso tudo que elas disseram era verdade mesmo?

Fiz que sim com a cabeça.

― E não pensou mesmo em me contar?

― Eu não queria que você soubesse! ― respondi sinceramente.

― O quê? Por que não?

― Porque não queria que você soubesse que você era o motivo pelo qual eu fiz isso! ― revelei sentindo um peso se esvaindo dos meus ombros. ― Eu queria te ajudar a lidar melhor com a sua doença, além de ter uma garantia de manter essa casa e a nossa vida, já que você tinha sido demitido!

Quem dá mais por ele?Where stories live. Discover now