Capítulo 27 - É claro que eu aceito!

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Os dias se passavam e eu continuava a fazer as sessões de fisioterapia com o Link, que abria mão de uma cirurgia ou outra pra poder ter horário pra mim. Isso me deixava péssima. No meu ponto de vista não estava evoluindo muito. Claro que a cada sessão aumentava um pouco mais o tempo em que eu conseguia me manter em pé, mas ainda não tinha conseguido dar um só passo sequer. O pastor Phill e o pessoal da igreja vinham sempre me visitar e Jackson trazia aquela positividade e esperança de que eu me recuperaria rápido. Porém já faz uma semana que faço fisioterapia e nada. 

Além dos danos na coordenação motora, eu também precisaria utilizar o oxigênio portátil até que meus pulmões se acostumassem à nova realidade. Eu lutava para que o medo e a amargura não tomassem conta do meu coração, mas era cada dia mais difícil. 

— Camille, seus sinais estão estabilizados, você está se adaptando bem ao oxigênio portátil, então nós achamos que em alguns dias te daremos alta. — Ouvi Meredith falar e aquele pensamento me assustou. 

— O quê? Mas eu não consigo andar ainda. — Disse imediatamente. — Vou ter que usar cadeira de rodas?

— Bom, não temos motivo para te manter internada só por causa das sessões de fisioterapia. Você poderá vir nos dias agendados. Além do mais, se você começar a se envolver com outras atividades no dia-a-dia, talvez auxilie no processo da coordenação motora. 

— Meredith está certa, amor. Se você começar a ir aos cultos, conversar com outras pessoas, ver ambientes familiares, tudo isso pode fazer com que você seja estimulada. — Jackson falou. 

— Eu não quero sair por aí numa cadeira de rodas. — Minha fala saiu tão amarga que eu podia sentir o gosto ruim em minha boca. 

Bom, eu não podia evitar. É claro que eu estava feliz por ter acordado e por tudo o que aconteceu enquanto eu estava em coma, mas eu não quero aproveitar tudo isso estando em uma cadeira de rodas. Eu quero minha vida de volta! Não poderia sequer voltar à chefia do trauma, terei que me contentar em atender consultas de rotina e… Jackson não vai querer uma companheira inútil como eu serei. Minha cabeça não estava preparada para isso. Eu me questionava se Deus tinha me acordado só para que eu vivesse mais um drama. Não já chega de situações incômodas na minha vida?

— Ok, vocês são os meus responsáveis, façam o que achar melhor. 

Eu disse e me virei com dificuldade para o outro lado da cama, ficando de costas para Meredith e Jackson. Senti as lágrimas descendo e rapidamente as limpei com o dorso da mão. 

[...]

Hoje era o dia em que eu teria alta. Não estou animada, mas ao menos o falatório de Jackson de como seria legal e todas as coisas que ele queria me mostrar estavam distraindo os meus pensamentos. Talvez não fosse de todo ruim. Meredith assinou minha papelada e os médicos e enfermeiras fizeram um corredor para se despedirem de mim. 

Jackson empurrava minha cadeira de rodas que já tinha um espaço para colocar o tubo de oxigênio que ia encaixado no meu nariz e preso entre minhas orelhas. Eu estava de máscara, mas as pessoas podiam sentir a minha gratidão à elas pelo meu olhar marejado. Elas aplaudiam enquanto eu passava por elas e me desejavam uma boa recuperação. 

— Isso foi a coisa mais linda do mundo! — Comentei no elevador, enxugando minhas lágrimas. 

— Tá vendo, meu amor? Todas essas pessoas estão torcendo por você. 

Ele se abaixou e beijou o topo da minha cabeça. Eu fechei os olhos e senti o carinho dele. Jackson me ajeitou no banco da frente e dirigiu até o nosso prédio. Eu vim o caminho inteiro calada, observando as coisas ao meu redor. A cidade já se movimentava com o novo normal e as coisas aos poucos se adequaram. Isso me fez sorrir e lembrar da providência de Deus em nossas vidas. 

Quando chegamos na porta do meu apartamento Jackson se virou para mim, antes de abrir a porta. 

— Por favor, não fique brava. — Ele disse em um sussurro e depois abriu a porta. 

Todos os meus amigos apareceram e gritaram um surpresa, levantando balões e alguns confetes. Eu olhei surpresa para todos eles e sorri. Estava feliz e me sentia demasiadamente amada com aquele gesto. Olhei para Jackson que me olhava apreensivo, talvez pensando que eu não gostaria de todo aquele alvoroço no meu primeiro dia de volta pra casa. Eu agarrei sua mão e então sorri, puxando-o para baixo, para que nossos lábios pudessem se tocar. 

— Obrigada. — Sussurrei. 

Ele sorriu e aos poucos meus amigos vieram me cumprimentar. Havia algumas pessoas da igreja e eu fiquei muito feliz de vê-los conversando de forma simpática com o pessoal do hospital. 

— Eu estou muito aliviado que você esteja aqui. Foi horrível ter que entubá-la e depois ver que você não acordava. — Karev começou a falar, mas rapidamente sua voz ficou embargada. Ele tossiu. — Enfim, que bom que você acordou, Camille. Sentimos muito a sua falta. 

Eu estava tão emocionada que mal conseguia responder. Eu só assentia e sorria, sentindo o quanto eles me amavam e o quanto eu era querida por aquelas pessoas incríveis. Alex se distanciou acompanhado de Wilson e eu lembrei que Jackson havia me contado sobre eles quando eu ainda estava em coma. Era bom vê-lo envolvido com outra pessoa, uma pessoa que o fizesse querer coisas melhores para a sua vida. Eu estava feliz por eles. 

Vi April, Matthew e Hariet caminharem até mim. Abri um sorriso enorme ao ver que a pequena queria se acomodar no meu colo na cadeira. 

— Tia Camille! — Ela exclamou levantando os bracinhos e Jackson rapidamente a colocou sentada ali. Ela então agarrou o meu pescoço e me deu um beijinho na bochecha. 

— Oi, princesa! Como você está? — Falei com voz de criança e a abracei de volta. 

Nós ficamos conversando um pouco ali e em seguida April me puxou para um lugar mais reservado. Eu acho que nunca tinha ficado a sós com ela, mas aquilo não me incomodava. A não ser que ela começasse a me perguntar como eu estava me sentindo a respeito da cadeira de rodas. Eu não queria falar sobre isso com ninguém e tinha imposto um limite até com Jackson sobre isso. 

— Como tem sido para você? Digo, a recuperação… — Ela parecia um pouco sem graça e então eu suspirei. Iríamos entrar nesse assunto mesmo?

— Difícil. — Me resumi a dizer e percebi que ela ia falar mais alguma coisa, mas foi interrompida por Jackson propondo um brinde. 

— Eu gostaria de um minuto da atenção de todos. — Ele bateu um garfo em sua taça e eu sorri. Graças a Deus que ele começou a falar justo naquela hora. 

Rolei a cadeira até o centro da sala e prestei atenção ao que ele iria falar. 

— Eu acho que todo mundo aqui já sabe que eu estou perdidamente apaixonado por essa mulher ali. — Ele apontou para mim e todo mundo sorriu. Eu sorri também, sentindo minha bochecha queimar. — Eu estive tão aflito achando que nunca mais iria poder te ver sorrindo, que nunca mais iria ouvir o som da sua voz ou que nunca teria a chance de te pedir em namoro, oficialmente. 

Era verdade! Parei para refletir que até aquele momento não tínhamos tido um pedido oficial, mas agíamos como namorados desde o primeiro beijo. Nesse momento Jackson caminhou até mim e tirou uma pequena caixinha de dentro do bolso de sua calça jeans. Meu coração começou a bater desesperadamente mais rápido do que o normal e eu dei graças a Deus por aquele tanquezinho de oxigênio que estava me proporcionando ar durante aquela situação. 

— Camille, eu comprei esse presente antes de você entrar em coma. 

Ele então abriu a caixinha e me mostrou um colar lindo em forma de coração. A pedra que formava o coraçãozinho era lilás e a correntinha era de um dourado bem brilhante. Era muito linda. Em seguida ele se ajoelhou. 

— Eu queria ter feito esse pedido há muito tempo. Tinha planejado um jantar à luz de velas e eu iria cozinhar para você… Mas eu sei que os planos de Deus são muito melhores que os nossos. — Ele suspirou e em seguida sorriu. Seu olhos brilhavam com o marejar das lágrimas. Eu estava na mesma situação. — Então, meu amor, você aceita ser minha namorada? 

— Ai meu Deus, Jackson! É claro que sim! É claro que eu aceito! — Eu falei com um pouco de dificuldade devido a tantas emoções e então ele me abraçou, me beijando em seguida. Todo mundo aplaudiu e eu não conseguia explicar o tamanho da minha felicidade!

A nova chefe do TraumaOnde histórias criam vida. Descubra agora