Capítulo 29 - Você sente isso?

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— Jackson... — Chamei atenção de meu namorado e apontei com a cabeça para o meu pé. Eu mexia todos os cinco dedos dos pés. Minha garganta estava embargada. Todo mundo na sala olhou na direção de onde Jackson estava olhando.

— Louvado seja Deus... — O pastor Phill foi o primeiro a falar.

— Meu Deus, eu não acredito. — Sussurrei sentindo as lágrimas caírem deliberadamente. Meu sorriso estampado no rosto.

Jackson já estava ajoelhado ao meu lado e segurava a minha perna. Ele fez pressão com o dedo na minha panturrilha e o meu sorriso aumentou de tamanho.

— Sente isso? — A voz dele também estava saindo falha por causa do choro contido.

— Sim! — Eu respondi de ímpeto e muito mais alto do que deveria.

Então todos da sala explodiram em felicidade. Todo mundo estava muito emocionado e glorificavam a Deus enquanto sorriam sem ainda acreditar. Jackson por sua vez acariciava a minha mão e me olhava com aqueles olhos verdes marejados. 

— Você quer tentar ficar de pé, meu amor? — Perguntou sem conseguir esconder a animação. Eu concordei com a cabeça. Estava com medo, mas queria tentar.

Jackson me ajudou a levantar devagar. Eu conseguia sentir cada movimento, como se meu corpo finalmente tivesse acordado. Quando fiquei de pé comecei a chorar compulsivamente, abraçada ao meu namorado. Depois ele me soltou e segurou a minha mão, pedindo para que eu movesse meu pé em sua direção. Eu fiz isso uma vez e depois outra, e depois outra. Ainda doía muito aquele esforço, mas ali estava eu! Finalmente de pé, com as forças da minha perna.

— Deus, muito obrigada, Deus! Muito obrigada, Senhor! — Glorifiquei tanto que eu tinha certeza que ficaria rouca no dia seguinte.

Voltei para a cadeira pois não queria me forçar tanto nesse primeiro momento. O pessoal que estava com o violão começou a tocar uma música animada de agradecimento. Todo mundo batia palma e louvava a plenos pulmões. A sala se encheu da presença de Deus e tudo o que eu conseguia repetir para mim mesma era que: a graça de Deus era verdadeiramente suficiente para mim.

[...]

Pedi para que Jackson marcasse uma consulta com Link, mas que não comentasse com ele que eu tinha voltado a andar. Provavelmente eu precisaria ainda de algumas sessões para recuperar 100% da naturalidade dos movimentos e decidi que não adiaria esse processo, mas que gostaria de fazer uma surpresa para o meu querido amigo.

Chegamos no hospital comigo ainda na cadeira de rodas, para não levantar suspeitas nem borburinho que estragasse minha ideia. Tínhamos também um par de muletas para me ajudar a chegar chegando na sala de Atticus. Subimos até o andar do ortopedista que era meu fisioterapeuta nas horas vagas e então Jackson entrou na frente. Fiquei na porta ouvindo a conversa dos dois.

— Link, a Camille decidiu de última hora que não viria. Eu tentei convencê-la, mas ela não deu o braço a torcer.

— Sério? Eu agendei um dia inteiro para ela, estava empolgado com nosso encontro. — Ele lamentou. 

— Desculpa, cara, é que está bem difícil pra ela esses dias.

— Eu imagino.

— Mas assim, já que ela não vem, eu tomei a liberdade de agendar com outra paciente que precisa muito te mostrar uma coisa. Espero que não se incomode.

— Não, cara, que é isso. Sem problemas. — Ele disse com a voz mostrando seu desânimo.

— Eu vou chamá-la então.

Ouvi Jackson dizer e seus passos se aproximaram. Levantei da cadeira e me pus ao lado da porta. Ele abriu a esquadria e sorriu em seguida.

— Pode entrar, o doutor Link já vai te receber!

Com apenas a ajuda da muleta caminhei emocionada para dentro da sala. Link estava com a cabeça abaixada, anotando alguma coisa em sua caderneta preta e quando levantou o olhar sua boca se abriu de surpresa.

— Desculpa o teatrinho, mas achei que assim ficaria mais emocionante. — Falei com a voz embargada do choro. 

— Meu Deus, Camille! Não acredito! Que coisa boa! — Ele caminhou até mim e me abraçou. Depois me soltou e olhou para o meu rosto. — Quando isso aconteceu?

— Ontem à noite. Link, eu estou tão contente!

— Cara, isso é maravilhoso! Precisamos comemorar. — Ele voltou a me abraçar e beijou o topo de minha cabeça. Em seguida olhou para Jackson e levantou a mão direita. Os dois fizeram um high-five enquanto sorriam. Eu estava muito feliz. 

[...]

Chegamos na sala dos médicos depois que Link já tinha convocado todo mundo para uma reunião de emergência. Sem contar mais detalhes sobre o que queria conversar com eles, manteve tudo em sigilo até que que entrasse. 

— Alguém aqui bipou uma cirurgiã do trauma? — Abri a porta com um enorme sorriso no rosto. Meredith foi a primeira a reagir dando um gritinho estridente e vindo me abraçar. 

Em seguida todo mundo se agitou e começou a comemorar. Alex estava chorando e eu não pude deixar de implicar com ele por causa disso. 

— Não sabia que o doutor Karev chorava… — Comecei. 

— Ah, cala a boca, O’live! — Ele disse enxugando as lágrimas. — Eu estou tão aliviado, tão feliz. Isso é maravilhoso! 

Meu amigo me abraçou e naquele momento senti mais do que nunca o quanto, em pouco tempo, me tornei parte desse lugar, dessa família. Mesmo com todos os obstáculos e dificuldades que enfrentei aqui nesse hospital, os ganhos e aprendizados foram totalmente superiores. Eu cresci não só na minha vida profissional, mas na minha vida pessoal e espiritual. Eu conheci pessoas incríveis, conheci o Jackson por quem estou apaixonada… Deus me trouxe para mais perto Dele através dos momentos difíceis e até mesmo alcançou outras pessoas nesse tempo. 

— Agora a nova chefe do trauma vai voltar pra ativa. — Owen me abraçou sorrindo e eu segurei a sua mão. 

— Eu acho que o trauma não poderia ter um chefe melhor do que você, Hunt. De verdade. Fico feliz em ter te substituído por um tempo, mas não posso aceitar o cargo de volta. Ele era seu desde o início. 

— Me desculpe interromper, mas eu acho que tenho uma solução para isso. —  O doutor Richard falou, sem fazer questão de esconder que estava ouvindo a conversa. — As demandas do trauma têm se tornado cada vez maiores com a obra de ampliação que está em andamento. Então, eu não vejo problema em termos dois chefes para esse departamento. O que acham? Vocês formam uma boa dupla?

Eu e Owen nos olhamos e rimos. Sem dúvida formamos uma boa dupla! Já tínhamos trabalhado juntos em condições precárias e fazer isso agora no Seattle Grace seria a realização de um sonho. 

— Garanto que você nunca viu uma dupla melhor. — Hunt assegurou. 

— Muito obrigada, Doutor Richard, pela oportunidade. O senhor não vai se arrepender. 

Ele apertou a minha mão e em seguida deu um tapinha de leve no meu ombro, repetindo o gesto com Owen antes de se distanciar. Eu continuei recebendo as felicitações e o amor de meus colegas de trabalho, ao passo que meu coração ficava cada vez mais quentinho com as emoções. 

A nova chefe do TraumaWhere stories live. Discover now