Cap. 58

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Pov Josh

O que faz uma pessoa má? O que torna o seu coração endurecido? O que faz seu psicológico ser afetado e as boas lembranças serem roubadas de você? Será que todos nós nascemos com uma pré-disposição a maldade, ou somos vítimas da circunstância. O que torna você a pessoa que é hoje? Será que simplesmente é uma maldita genética ou o meio em qual se é inserido.

Minha mãe foi vítima da circunstância, ela era uma das mulheres mais belas e bondosas do reino, amada por todos e invejada por todos, mas ela se escondia por trás de um sorriso gentil, enquanto seu coração latejava em uma dor pungente. Quando o sorriso bondoso, e a máscara de empatia não conseguiam mais esconder sua dor, ela se matou. E a partir daquela primavera, no dia 10 de maio, quando as flores renasciam depois de um longo período chuvoso, quando o sol brilhava entre as Campinas e as pessoas sorriam, exatamente as 9:15h as minhas circunstâncias começaram.

Tinha apenas cinco anos quando fiquei de frente com a morte, da sua forma mais cruel, jovem de mais para compreender, jovem de mais para aceitar. Foi exatamente naquele dia que meus pesadelos começaram, sempre tão vívidos, trazendo uma dor atroz, que era incapaz de esquecer. As memórias, o cheiro do sangue, a roupa branca manchada, o cheiro das Dálias misturado com o cheiro de sangue, seu rosto pálido e frio, nunca fui capaz de esquecer aquele cheiro, ainda era capaz de senti-lo, ainda podia sentir a sensação de meus músculos trêmulos e das lágrimas quentes em contato com minha pele gélida. Jovem de mais para esquecer.

Aos poucos fui esquecendo quem era
ela, as lembranças boas substituídas pela dor, seu cheiro floral substituído pelo cheiro do sangue, suas roupas sempre perfeitamente engomadas agora estavam manchadas de sangue e seu rosto corado sempre com um sorriso polido, agora era apenas um rosto pálido. Eu esqueci sua essência, sua voz, nada mais importava, enquanto aquela maldita lembrança corroía minha mente e domava meus pensamentos. E as circunstâncias me afetaram de tal forma que deixei de ser o Josh de cinco anos, que amava carrinhos e queria salvar o mundo e passei a ser o Josh que para sobreviver fazia uma nota mental de todas as coisas que queria fazer:

• Ler o livro do Harry Potter
• Brincar com Noah
• Cuidar do estábulo do palácio
• Viajar a Paris

Passei a escrever todos os dias em um bloco de notas as coisas que ainda
não tinha feito, e tentava seguir a risca e decidi que a esqueceria, esqueceria aquela maldita lembrança, mas nunca consegui. Você pode fugir de todos, colocar uma máscara e deixar que as pessoas acreditem que aquele é você, mas dá sua mente, dela, não há refúgio.

Toquei os cabelos negros de Any e sorri, ela estava com as costas encostadas em meu peito, nas mãos uma rosa. Ela virou seu rosto e sorriu, um sorriso sempre tão cortês, era isso que me pertubava em Any dês da primeira vez que a vi, ela era igualzinha a Isabel.

O mesmo sorriso gentil, a bondade expressa em seus atos, o altruísmo, ela escondia em gestos gentis as suas circunstâncias. Abandonar a escolas aos quinze anos, cuidar sozinha de uma recém nascida, enquanto via sua mãe sucumbir em uma depressão, a morte de seu pai. Todas as circunstâncias que teve que enfrentar sozinha, as pessoas agiam de maneira diferente a elas, eu construí um muro impenetrável e tentava a todo custo esquecer, Any cuidava das pessoas e tentava esconder suas lembranças por trás de um sorriso.

Any me trouxe de volta as boas lembranças que estavam esquecidas em minha mente, me fez ter vontade de viver e não apenas sobreviver, mas eu sabia que elas nunca seriam esquecidas, ao contrário do que as pessoas pensam o amor não torna a sua vida um "feliz para sempre", apenas torna as coisas mais suportáveis, mas os pesadelos, as cicatrizes que cortam sua pele, elas sempre serão lembradas.

Any: O que está pensando? Ficou tão calado de repente. - Sorri para ela. Any era uma nova lembrança, uma daquelas lembranças boas que fazem as cicatrizes serem esquecidas, em um dos raros momentos de paz.

Grávida de um príncipe - beauany ( concluída)Where stories live. Discover now