Capítulo 2- Jacob

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Por mais que eu ame cinema e tenha frequentado ele quase a semana inteira, pela primeira vez aquela sala escura me incomodava, eu estava lado a lado com um garoto que eu não sabia nem o nome dividindo um pote de pipoca e apressiando o quão lindos seus olhos negros ficavam com a luz do telão refletindo-os, e por uma fração de segundos vi seu pescoço virar e ele me flagrar naquela escuridão eu o encarando. Naquele momento agradecia a escuridão por impedi-lo de me ver corar.

Foram exatamente uma hora e quarenta de tortura ao seu lado, todas as vezes que nossos braços se encostavam ou nossas mãos se esbarravam rumo ao pote de pipoca era como levar um choque em um fio desencapado. Eu já tinha esperiencias com garotos claro, mas o único menino que já fui ao cinema era Wesley que era como um irmão para mim. Aliás, quem ele pensava que era para me levar para uma sala de cinema e assistir um filme chato!?

Mas quando deixamos a escuridão do cinema não disse nada disso a ele.

-O que achou do filme?

-Um pouco lento demais, eles poderiam contar aquela história em trinta minutos de filme...- Foi tudo o que eu disse.

- Dá próxima vez eu escolho comédia...- Ele disse rindo.

Vai ter próxima vez? Ignorei meu pensamento com um comentário:
- Eu rasgo o ingresso na sua cara. - Ele acabou me jogando mais um sorriso.

- Para uma pessoa que não curte comédia você é bem engraçada. - O que ele queria dizer com isso!? Eu tinha cara de palhaça com cabelos roxos?

- Por que ontem ao invés de me provocar você não perguntou se eu queria sair com você? - Parei nossa caminhada ao fazer essa pergunta.

- Por quê? Você iria colocar um vestidinho e saltos altos? - Dessa vez não tinha escuridão para esconder meu rosto vermelho.

Com esse comentário dele eu me toquei que eu sempre vim aqui de jeans e blusas de bandas de rock aleatórias.

- Aposto que você não é o tipo de menina que usa vestidos e salto alto.- Complementou enquanto olhava alguns pôsteres dos próximos filmes.

Não quis levar aquilo como um insulto mas algo dentro de mim me disse que eu tinha de retrucar.

- Por que você não escolheu a Sabrina ? Ela é gata , deu em cima de você e com certeza usaria vestido e salto alto. -Falei um pouco alto demais.

Ele riu. Seu sorriso de canto e capaz de me fazer esquecer todas as suas provocações, o sorriso que hoje é uma lembrança que quero rasgar.

- Talvez um dia você entenderá. - Foi tudo o que ele disse.

Um dia , próxima vez... Deixa de ser exibido, quem disse que nos veríamos de novo?

Mas eu medi minhas palavras e não disse aquilo.

- Você é sempre assim... engraçadinho? - Perguntei quando voltamos a andar.

- Só quando estou com fome. - Ele apressou os passos mas eles continuaram firmes me deixando um pouco para trás. -Vamos comer alguma coisa, eu pago.

Eu pago. Em qualquer outra ocasião eu daria uma festa por essas duas palavrinhas mas agora eu tinha achado ele ridículo.

- É assim que você quer sair com uma dama de vestido e salto alto? Deixando ela para trás!? - Alertei ele apenas para provocar.

- Você tá de tênis, aliás, seu cadarço está desamarrado. - Eu devia ter estranhado pelo fato dele não ter olhado para trás mas mesmo assim eu fui conferir o cadarço e acabei caindo nessa pegadinha ridícula. Quantos anos ele tinha? Dez? Bufei de raiva e tentei acompanhar seus passos largos, como ele era alto.

Katherine Purple.Where stories live. Discover now