4: Aula de Teatro

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Andei pelos corredores do colégio um pouco pensativo, se tudo der certo talvez eu possa me livrar das correntes que me prendem desde o sexto ano, ou ao menos minimizar a dor que elas me causam. Não é drama, é só uma colocação muito objetiva do que eu sinto. E não me julguem, eu já faço isso o bastante todos os dias.

Certo.

Eu sou uma pessoa naturalmente romântica, isso deve influenciar nas minhas ideias mirabolantes e nas borboletas que voam dentro do meu estômago, fazendo tour pelos meus sentimentos... ficou estranho né? Dei a entender que os sentimentos ficam no estômago, mas tudo bem, por que dizem que os sentimentos ficam no coração, o que é só mais outra visão romântica criada para justificar quando não somos correspondidos. Com certeza eles se localizam em um lugar que ainda não sei onde é, talvez tenha uma razão pra isso, se soubéssemos, seria muito mais fácil expulsa-los de nós.

-- Como vou falar com ele?

Eu me questiono.

Ao menos eu não me precipitei e enviei uma mensagem com a música "because of you" da Kelly Clarkson tocando no fundo. Por favor, parem de enviar mensagens de amor com essa música, ela nem fala de amor.

-- Olá, Bailey. Tudo bem?... não.

Muito bobo.

-- E aí, mano! Como é que vai o lance?

Ai, drogado demais.

-- E aí, cara?

Eu sou péssimo nisso, conversar não é meu forte. Eu nunca sei o que falar, sempre começo falando sobre o clima, é ridículo, nunca comece uma conversa falando sobre o clima.

-- Bom, meu nome é Kystian, eu sou o garoto que você enche a porra do saco desde o nono ano e eu queria dizer que te odeio do fundo do meu coração, mas nesse momento eu preciso de você, se importaria em me ajudar?... ai, meu Deus.

Bailey vem pelo corredor andando em passos lentos, estamos quase nos encontrando. Ele parece muito acabado. Usa um boné azul e caminha com as mãos ensacadas nos bolsos do seu casaco preto. Eu respiro.

-- É agora ou nunca.

Ando decidido em sua direção, estufo o peito pra parecer mais forte, levanto a cabeça pra não dar a entender que ele me intimida e então passo direto por ele.

-- Merda.

Por que preciso ser tão fraco?
Suspiro e me encosto nos armários.

Eu sempre tenho medo de situações, sempre com medo das pessoas, sempre sem coragem...
Parece que saí de um filme da Disney, onde eu espero constantemente que alguem venha me salvar, não consigo fazer nada sozinho.
Sabe, as vezes acho que a expressão sair do armário seja inválida pra mim, mesmo saindo do armário eu continuo nele, morando dentro constantemente.

-- Espera aí, o armário! - falo um pouco animado e atraio alguns olhares, rapidamente abaixo a cabeça e continuo andando.

É claro, como eu não pensei nisso antes?
Imediatamente retiro meu caderno de dentro da mochila e escrevo um bilhete.

Quer reconquistar Sabina? Me encontre no campo de futebol, de baixo das arquibancadas.

Ass: Sua salvação.

Perfeito. Sempre fui bom em me esconder por trás das coisas, escrever um bilhete não é muito dificil pra mim, desde que eu não tenha que lê-lo pra ninguém.

O sinal toca e eu espero que o corredor esteja vazio. Dobro e enfio o papel dentre as brechas de ar do armário de Bailey, em seguida saio correndo para a aula de teatro.
Aliás, acho que essa aula é super desnecessária, tem gente que odeia falar em público, tipo eu. Toda segunda é uma tortura culminante pra mim.

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