7: Krysley

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Você já se sentiu observado? É bom? Ou você é uma dessas pessoas que chama atenção não propositalmente, mas que adora ser vista por outras pessoas?
Bom, eu não sei se gosto disso, na verdade eu sempre gostei de ser invisível, é uma vantagem, acreditem. Ser invisível te abre portas que antes você não podia atravessar sem fazer barulho, de repente você não está alí e ninguém te vê.

-- O que tá acontecendo?

As pessoas se perguntavam enquanto Bailey e eu passeávamos pelo corredor, onde pessoas e mais pessoas abriam caminho pra tentar nos ver e entender uma situação embaraçosa que nem eu, o criador dela, estava entendendo direito.
Alguém arrancou minha capa da invisibilidade e agora todos podem me ver passando, a porta vai voltar a fazer barulho e eu serei impedido de entrar sem ser percebido.
Mas não era isso que você queria? Não foi isso que você pediu?

-- Ah!

Bailey pareceu ter lembrado de algo. Em poucos segundos descobri o que era, ele tinha feito o combinado; passou seu braço pelo meu pescoço e eu agarrei sua mão quase num desespero de tentar me impedir de sair correndo. Incrível como meu coração acelerou, incrível como eu ainda estava sob meus pés, mesmo correndo um grande risco de despencar a qualquer momento, mesmo que com minhas paredes desabando.

Sina e Noah me olhavam sem entender nada, mas tudo bem, eu também não entendia. Bailey parecia ser um ótimo ator, até mascou um chiclete quando chegou perto de Sabina, fingindo gostar daquela cena toda, fingindo gostar de mim, do estranho e fantasioso "nós". Sabemos que não é verdade, mas e daí? Ninguém precisa saber.

-- Acho que estamos conseguindo. - Bailey cochicha.

Concordo com a cabeça. Se eu tentasse falar, seria como um cd arranhado.
Até mesmo os professores pararam por um breve segundo para olhar o mais novo casal do colégio. Casal. Que estranho. Soa bem quando se trata de nós dois?.
Paramos no meu armário e eu logo busquei apoio na parede, me encostei mas ainda sentia o calor por dentro.

-- Então...

Bailey falou, me encurralando dos dois lados com seus braços.

-- Que é que você tá fazendo? - eu falo. Isso não estava nos meus planos.

-- Só finge que eu te contei algo super engraçado e ri bobamente apaixonado por mim. - ele diz.

-- Você quer que eu te enalteça? - eu retruco.

-- Não, eu quero que você aja como se tivesse ganhado, sei lá, um buquê de flores vermelhas com um cartão de amor com uma frase qualquer da Clarice Lispector.

Eu rio, mas não porque ele pediu, e sim porque achei a situação engraçada.

-- Sou alérgico à flores.

Eu digo.

-- E você literalmente não faz o tipo de cara que manda flores, nem que lê Clarice Lispector.

Termino sorrindo, agora propositalmente.

-- Não faço mesmo, mas quero dar a entender que sim.

Eu rio do jeito meio atrapalhado e sem sentido que ele faz quando se trata de Sabina e do que ela gosta, ele parece não entendê-la muito bem.

-- Ah, claro.

Por um momento esqueci que muita gente ainda olhava pra nós e fiquei mais espontâneo do que achei que poderia.

-- Quando se ama não é preciso entender o que se passa lá fora, pois tudo passa a acontecer dentro de nós.

Eu recito, enquanto o rodeio, o mais dramático que posso, e nesse breve momento de insanidade eu quase escorrego e dou de cara com o chão, mas sinto algo me agarrar rápido e forte o bastante para impedir que isso acontecesse.
Olho para Bailey no fundo dos olhos enquando ele faz uma expressão oblíqua, meio confusa que eu não consigo interpretar. Ele me larga assim que percebemos que as pessoas prestavam mais atenção agora do que no início.

Ainda Amo VocêWhere stories live. Discover now