5: Ladrão

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-- Como é que é?

Bailey esbraveja. As pessoas do Chapter Shake olham pra nós, eu engulo meu milk-shake, tentando disfarçar e desviando o olhar para não o encarar. Imaginei que isso aconteceria depois que eu lhe dissesse o que tinha em mente, por isso o trouxe pra longe do colégio.

-- Repete que eu quero te quebrar no meio agora! - ele diz.

-- Da pra se acalmar? As pessoas estão olhando pra nós! Desse jeito vão achar que somos um casal de verdade. - eu digo, tentendo fazê-lo parar.

-- Nunca. - ele recua, mais calmo. - você deve ter enlouquecido, eu nunca aceitaria uma coisa dessas.

-- Por que? Até parece uma coisa de outro mundo.

-- Pra mim é.

-- Fingir ser meu namorado não vai tirar sua masculinidade de você! - eu grito.

-- Não sei como isso pode me ajudar com a Sabina... espera aí, agora eu entendi tudo... - ele olha pra mim assustado - você é um psicopata, seu filho da... você tinha interesse por mim esse tempo todo!

O quê?! Agora eu me senti ofendido.

-- Claro que não, eu não quero você. - faço cara de nojo - Eu só tenho interesse no que você pode representar, entende? - tento explicar.

-- Não, eu realmente não tô entendendo, e sinceramente, não tô afim de entender.

-- Escuta, se você fingir que é meu namorado de mentira vai ganhar vários pontos com ela.

-- Ah, óbvio! Ela vai adorar reatar com o ex namorado gay que ela acabou de terminar. - ele grita.

-- Você diz que é bi! Eu li uma pesquisa na internet e descobri que metade da população é bissexual e não sabe.

Ele ri, achando tudo muito absurdo. Será que é?

-- Não, isso é muito pra mim. Sem chance.

-- Se você fizer isso ela vai acreditar que você mudou e é livre de preconceitos banais, vai causar interesse nela. Me admira você, na condição de namorado dela, nunca ter percebido que ela é moderna demais pra você, contemporânea demais pra alguém com pensamentos tão arcaicos quanto os seus. - eu digo as verdades que ele precisava ouvir.

-- Eu não preciso de alguém pra me chamar de burro, já fazem isso o suficiente.

Ele tira dinheiro do bolso e joga em cima da mesa, me dá as costas e vai embora.

-- Eu chamei você aqui, eu pago! Tá vendo como você é ultrapassado? - ele continua andando - sem minha ajuda você nunca vai reconquistar ela!

Ele para, mas minhas palavras parecem não surtir muito efeito já que ele continua andando e cruza a porta sem ao menos olhar pra trás.

-- Idiota.

Sento-me novamente e começo a pensar em outro plano para esquecer Noah.
Com Bailey eu iria ganhar tempo e disfarçar o que sinto, se Noah me visse com um namorado não iria desconfiar que gosto dele, mas tô vendo que esse plano já era.
Burrice minha achar que aquele tosco iria aceitar essa idéia, eu também fui idiota.

Saí do Chapter Shake logo depois e vi de longe, bem no lugar que a minha bicicleta estava estacionada, uma palavra escrita de vermelho no chão.

-- "Bicha". Típico.

Agarro minha bicicleta e saio pedalando, sentindo o ar fresco de fim de tarde bater em meu rosto, andar olhando a beleza da cidade é libertador. Logo em seguida vejo um casal de velhinhos num banco, tomando sorvete de casquinha, me pergunto como eles se conheceram, se foi amor à primeira vista, e como e por que eles estão juntos até hoje. Será mesmo que as pessoas nasceram destinadas umas às outras?

Como no Fio Vermelho do Destino, uma velha lenda chinesa em que conta que cada pessoa carrega um fio amarrado em seu tornozelo ligado diretamente ao tornozelo de outra pessoa e não importa o que aconteça, essas duas pessoas vão se encontrar, como almas gêmeas predestinadas ao amor.
Fico imaginando se eu tenho uma dessas no tornozelo, se eu tiver, então meu par fez questão de cortar a do tornozelo dele só pra não ter que encontrar comigo um dia... Sina e Noah devem ter fios vermelhos que os ligam um ao outro.

-- Os Deuses devem ter esquecido de pôr um fio vermelho no meu tornozelo, só pode.

Chego em casa e vejo Hina dormindo no sofá com a televisão ligada numa série super boba, mas que funciona. Pego-a e a levo para o quarto. Será que Hina tem o fio?. Arrumo a bagunça que ela deixou no sofá, pego um lençol qualquer, ligo a TV e assisto um DVD do filme Pequeno Príncipe.

-- Mas o mais tristes era que eles se amavam, mas eram jovens demais para saber como amar.

Falo junto com o narrador. Sempre choro nessa parte. Geralmente eu só assisto a esse filme quando estou na fossa total, é justamente onde estou hoje. Minha vontade é de me isolar do mundo em uma ilha paradisíaca onde eu só pudesse ouvir o som calmo do mar, sem amor, sem sofrimento, sem ninguém.
Depois do filme escuto algumas músicas tristes da Tiê que possam me descrever nesse momento tão drástico e catastrófico da minha vida. Noah... meu primeiro amor destrutivo. O pior é saber que não vou esquecê-lo tão cedo.

-- É isso aí.

Eu falo a cada frase que a música me descreve. Pareço alguém que foi abandonado no altar e depois vem afogar as mágoas num barzinho qualquer até ele fechar.

Mamãe está de plantão no hospital, ela é enfermeira. Portanto, me deito na cama e fecho os olhos na intenção de dormir e esquecer desse dia bucólico e fatídico... mas cadê o sono? Será que devo queimar nossas fotos? Que angústia meu pai...

-- Meu Deus, me manda um sinal, senhor!

E de repente minha janela mexe.
Deve ser o vento, constatei, voltando a me concentrar em dormir, mas a janela mexeu novamente, dessa vez num ritmo mais frenético, alguém está tentando invadir.

-- É ladrão...

Não consigo me mexer, morro de medo de levar um tiro na cara se eu me mexer, qualquer movimento brusco pode ser fatal. A janela se abre e de repente alguém salta para dentro do meu quarto, alto e capuz preto cobrindo o rosto, certeza que era bandido. Não me mexia, não piscava, apenas ofegava e esperava pelo meu fim. Então o meliante tirou o capuz do rosto e eu o pude ver. Se caso saísse vivo poderia descrevê-lo para a polícia.

-- Caso eu aceite ser seu namorado de mentira, o que vai acontecer comigo?

Bailey me olhava com tanta contradição e esforço que achei que ele é quem tinha medo de mim.

...

É agora que a história começa a ficar tudo.

Votem no capítulo, por favor.

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