Como descrever sentimentos que antes não eram sequer pensados? A noite anterior foi moldada pelas bordas de repletas emoções, reviravoltas e embates épicos. E eu que achava que a minha vida passava longe de ser uma novela.
Virei a noite em claro, quase não fechei os olhos, fiquei repassando os detalhes.
Calma aí Krystian, você tem que organizar seus pensamentos e suas emoções, afinal você é ou não é um virginiano nato? Prós e contras, sinto ou não sinto?
-- Eu não posso sentir isso agora. Qual é meu problema?
Levanto da cama e escovo os dentes, nem tomo café. Minha barriga estava se contorcendo por dentro em milhões de fragmentos de emoções. Eu ainda tenho unha pra roer?
Olho pela janela, Bailey estava ali parado, de óculos escuros e com todo o seu perfume interior encantador. Fecho as cortinas rapidamente assim que o vejo me olhando, respiro fundo caminhando até a porta e saio.
-- Cara de paisagem, cara de paisagem...
Cochicho enquanto ando em sua direção. Sorrio, falsos sorrisos, falsa plenitude, falsos hábitos... eu sou um péssimo ator.
-- Por que não atendeu minhas ligações? - ele perguntou assim que chego onde ele estava.
-- Fui dormir cedo. - minto.
-- Você atualizou seu status meia noite. - ops.
-- Esse é meu cedo. - sorrio tentando disfarçar meu tombo.
-- Até acreditaria em você se eu não tivesse te ligado três vezes às dez, dez e meia e onze e meia da noite. - melhor eu parar de mentir, a situação está ficando constrangedora. O mais engraçado de tudo é que ele me olha calmo, muito calmo.
-- Talvez nesse meio tempo eu tenha parado pra fazer um lanche... às dez, dez e meia e onze e meia.
Tentei parar e falhei miseravelmente. Eu sou um mau mentiroso que adora mentir, é tipo você querer tirar dez na prova de matemática sendo que você não estudou nada no dia anterior.
-- Cê tá me ignorando, Krystian?
Ele sorri e me encurrala no carro, pondo os braços dos dois lados e bloqueando minha passagem. Droga, agora minha respiração não está funcionando direito, droga de novo, minha barriga está queimando.
-- Eu só queria ficar um pouco sozinho. - eu falo então, era verdade dessa vez.
Não consigo manter meu olhar por muito tempo no dele, algo nele me fazia corar, me fazia ficar vulnerável.
Nossos rostos estão próximos e eu sinto uma vontade extraordinária de beijá-lo, mas tenho medo de levar um soco se o fizer.
-- Sabina me ligou ontem, quis conversar sobre nós.
Tinha que ser. O clima foi por água a baixo. Como ele pode ser tão cego?
-- Tá, a gente pode ir pra escola agora?
Eu me desvencilho dos seus braços.
-- Você quem manda, namorado.
Ele adentra no carro com um sorriso sacana no rosto.
-- Essa história maluca nunca poderia ter dado tão certo.
Eu reviro os olhos e tombo para o lado no banco, fiquei o caminho todo calado. Quando saio do carro me deparo com Noah vindo até mim.
-- Qual é o seu problema?
Ele grita e empurra Bailey.
-- Como pôde expor o Krystian daquele jeito?
-- Noah... do que você tá falando? - eu pergunto. Sina aparece nesse exato momento.
