11: Amor de Verão

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Estou cansado. Estou cansado de sempre correr atrás. Por que tem que ser assim? Eu preciso de algo que me levante quando eu cair, que me levante sem as cordas que machucam minhas mãos. Ninguém vê que eu estou vulnerável, as pessoas só pisam o tempo inteiro.

Acha que não está doendo só por que eu não estou gritando? Ou você que não escuta quando eu grito?

Minhas lágrimas não paravam de cair, o tempo inteiro, quanto mais eu tentava cessá-las, mais elas caíam. Minha alma está devolvendo tudo que eu a fiz engolir por longos anos. Como a primeira vez que vi Sina e Noah se beijando, aquilo doeu tanto, mas eu fingi que estava tudo bem, afinal, quem se importa se não está?

Engoli lágrimas quando meus pais se separaram, quando ouvi que era uma aberração do meu próprio pai ao contar que era gay. Engoli todas, mas agora parece que elas vieram, todas de uma só vez.

A verdade é que eu sou uma total bagunça que ninguém se atreve a mexer, a arrumar.

-- Krystian...

Ouço alguém me chamar. É o tal professor.

-- Não vou voltar pra lá. - eu lhe digo.

Ele se senta ao meu lado, arrancando um pedaço de grama seca e enrolando no dedo enquanto olha para o nada.

-- Josh.

Eu o olho.

-- Como?

-- Me chamo Joshua, você não deve lembrar de mim.

-- Não mesmo.

Essa conversa distraiu minhas lágrimas, que finalmente deixaram de cair. Ele tira de dentro do bolso um bilhete velho e gasto e me entrega. Eu olho desconfiado, abro o bilhete e começo a lê-lo.


Olá, Josh.

Me chamo Krystian, o garoto que mora em frente à sua casa. Bom... eu não sei como te dizer isso, mas sinto que vai ser libertador, igual quando encontrei meu cachorro que se perdeu por três dias inteiros. Quero que saiba que não sou um psicopata, mas fico incomodado quando vejo você e sua namorada da janela do meu quarto, e eu penso que você é tão legal, mas aí ela é tão comum. O que você viu nela? O que ela tem que te atraiu e te faz suportar sua indecisão entre algodão doce rosa ou azul?... Soube que vai se mudar. Eu gosto de você, na verdade eu gosto de você desde o dia em que me mudei pra cá. Vejo você lavar o carro do seu pai, sabe, mesmo que você não goste de mim, saiba que eu estava lá o tempo todo, em todas as festas, em todos os momentos. Quando a garrafa parou bem na sua cara e você teve que beijar a Any. Embora você seja quatro anos mais velho que eu, eu sonhei casando com você ontem. Você parece tão maduro quando está com seus amigos. Chorei por você anteontem no quarto. Eu só acho que deveria existir mais garotos como você, você é lindo e eu adoro ver seu cabelo loiro voando quando o vento bate em seu rosto. Se eu protagonizasse um filme da Disney você seria meu príncipe perfeito, mas no momento, você está sendo meu mais doloroso exemplo de amor. Agora eu queria que nunca tivesse te conhecido, porque olhar para a sua casa vazia será difícil, mesmo que a lua que iluminava a sua porta seja a mesma, você não estará lá sorrindo, sentado, falando no celular.
Viaje sabendo que alguém te amou.

Krystian, da casa frente à sua.

Eu olho para Josh sem saber o que dizer, corado. Ele tinha sido o meu primeiro amor, isso antes de Noah, o mais doloroso até então. Tinha apenas treze anos na época e ele dezessete. Era meio bobo, escrevi porque achei que nunca mais nos encontraríamos. Agora me veio uma nostalgia. As noites que passei frente à janela do meu quarto, o espionando, ouvindo suas conversas com seus amigos, as noites que ele passava em claro estudando. Ele nunca me percebeu mas eu estava lá, vigilante e esperançoso. O amor que eu sentia por ele tinha forma, gosto e era inocente, como tomar banho de mangueira num dia de verão ensolarado. Era como brincar com seus amigos de bexiga de água. Era um amor de verão, que se foi com ele.

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⏰ Last updated: Aug 19, 2020 ⏰

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