Mergulhado em um mar de sensações até então desconhecidas, eu quase me afoguei. Alcancei a superfície e consegui abrir os olhos que ardiam numa chama fulminante de águas salgadas e prazerosas.
-- Bailey, você disse...
-- Eu sei o que disse, tá bom? Apenas aja naturalmente.
Eu o empurrei em resposta ao seu "aja naturalmente". Quer dizer que ele me usou pra escapar da sua briga com Sabina e de quebra provoca-la? Em questão de qual ex está melhor?.
Minha respiração está mais ofegante do que o normal e eu sinto uma estranha sensação de vergonha e raiva queimando meu rosto.
-- Krystian...
-- Não.
Eu falei quando ele tentou se aproximar. Tudo está girando, eu olho as pessoas em volta e julgo que todos estão rindo de mim, ou é imaginação minha?.
De todos os modos, eu corri, subi as escadas sem nem saber onde iriam parar e adentrei na primeira porta que vi pela frente. Só então minhas lágrimas desceram e eu pude desabar sem medo de ser observado.
-- Vai passar, vai passar, vai passar...
Repito pra mim várias vezes.
Será que vai mesmo? Parece que meus sentimentos nunca passam.
-- Krystian...
Era a voz de Bailey.
-- Krystian, abre a porta.
-- Vai embora.
Falei entre o choro.
-- Não posso deixar meu namorado aqui. - ele me disse. Idiota.
-- Não somos namorados.
-- Mas as pessoas lá em baixo, incluindo a Sabina, acham que sim. - eu não acredito nisso.
-- Eu não sou a Sabina, nem todo mundo. Me deixa sozinho! - eu grito.
-- Por que? - ele diz alto.
-- Você não entenderia... ninguém entende.
-- Ah... - ouço-o respirar.
Sinto que ele sentou-se e se encostou na porta do lado de fora do quarto.
-- Sou muito ignorante pra perceber que você fica nervoso toda vez que precisa aparecer em público? Principalmente nos lugares pequenos? Também sou muito burro porque não percebo que você não sabe lidar com pessoas te olhando, e por isso a sensação do seu estômago queimar por dentro?
Como ele sabe disso? Essa pessoa não poderia ser eu.
-- Eu também sou um idiota por não saber que você torce pra que seus amigos liguem cancelando o cinema que marcaram a um mês atrás, e isso te deixa a semana inteira sem dormir.
É, sou eu.
-- Desde quando fala tão bonito?
Ouço-o sorrir.
-- Não é tão fácil. - falo depois de um tempo.
-- Eu sei que você tá apaixonado pelo seu melhor amigo, que também, não propositalmente, é namorado da sua mais que melhor amiga. É complicado mas...
Ele estava começando a me assustar.
-- Como você sabe disso? - eu pergunto, interrompendo-o.
-- Olha... todo mundo que pratica... bullying... precisa conhecer as fraquesas das suas vítimas, ou eles se tornam as próprias, é um ato falho.
Eu desabo com a declaração, choro inconsolavelmente, não sei o por quê.
Talvez estivesse segurando isso por muito tempo.
