6: Homem Cambaleante

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Ficou difícil de explicar ao Bailey o motivo de eu precisar tanto dele, ele simplesmente não entende que eu não preciso explicar nada. Será que não pode apenas seguir o plano sem fazer tantas perguntas?.
Expliquei parte de tudo na noite em que ele invadiu meu quarto e quase me fez mijar na calça. Todos os dias ele tem vindo à minha casa depois da aula e durante uma hora inteira eu explico como tratar as garotas e controlar esse preconceito enraizado que ele tem. Confesso que isso tem me ocupado bastante e me ajudado a não pensar em Noah.

-- Não vou abraçar você na frente de todo mundo, esquece isso. O que vão pensar de nós?

-- Que somos um casal! Essa é a intenção. - falo quase rosnando de tanta raiva.

-- Sem abraço, sem beijo e sem pegadas de mão. - ele intima e franze as sobrancelhas.

Penso em roer as unhas, mas lembro que já não tenho mais nenhuma. Bailey me tira do sério a cada vez que consigo me equilibrar de volta, e isso acontece de dois em dois minutos.
Ficamos calados por alguns segundos até eu pensar em alguma outra coisa.

-- Tá, então... você vai passar seu braço por cima dos meus ombros enquanto estivermos juntos, ok? Pode fazer isso?

Ele dá de ombros e eu tenho vontade de socar seu rosto.

-- Ah, vai ter que me buscar pra irmos ao colégio juntos todos os dias também. - eu digo.

-- Você já tá querendo demais, eu não faço essas coisas idiotas. - Ele cospe isso como se fosse um doce ruim.

-- Mas vai ter que fazer, acha que vai enganar quem desse jeito?

-- Meus amigos vão me achar um banana. - ele fala com preocupação.

-- Antes banana do que idiota. - ele me olha zangado. - Escuta, você tem que ser meu namorado acima de tudo, me ponha acima de tudo, ok? É o que vou fazer por você também. Ah, e nada de brincadeirinhas escrotas com as outras pessoas.

-- Como eu vou sobreviver? - ele joga o pescoço pra trás mostrando impaciência.

-- Sei lá, arranja um caça palavras.

Ele ri debochado, serrando os olhos.

-- Quanto tempo isso vai durar? - ele pergunta. Eu não tinha pensado nisso.

-- Bom, tem que parecer real, então antes de assumirmos temos que ter um intervalo. Um mês antes de nos "conhecermos", depois disso a gente assume o namoro. - fasso aspas com as mãos

-- Não fala essa palavra. - ele diz enjoado.

-- Ah, para de frescura. - e mais uma vez, ele me olha raivoso - nesse meio tempo eu vou te dando aulas, mesmo sabendo que você corre um grande risco de reprovar. - eu falo, ele faz missão de vir pra cima de mim e eu me assusto.

-- Sábado eu trabalho na oficina do meu pai e cuido dos meus irmãos. - ele fala com cara de tédio.

-- Faz tudo isso sozinho? - pergunto.

-- Não interessa! - ele fala, pega a mochila e sai andando.

-- Sábado vamos estudar na oficina, se consegue fazer duas coisas ao mesmo tempo, também consegue fazer três... ajudo a cuidar dos seus irmãos!

Eu grito a última parte. Um silêncio se faz, e logo depois ouço-o bater a porta com força. Sorrio sarcástico. Não vou perder a oportunidade de irrita-lo, ele merece.

Os dias vão se passando. Eu procuro não sair muito com Sina e Noah, digo que estou ocupado toda vez. Evito também as aulas de teatro, e sim, é mais fácil fugir dos meus problemas do que enfrentá-los, eu vou dar um jeito de conseguir um atestado médico. Estou pensando em ir a um terapeuta, não posso fugir toda vez que vejo mais de dez pessoas aglomeradas num local que não da pra fugir tão facilmente.

Ainda Amo VocêWhere stories live. Discover now