𝙉𝙊𝙎𝙎𝙊 𝙇𝘼𝙉𝘾𝙀 𝘾𝙍𝙄𝙈𝙄𝙉𝙊𝙎𝙊

• 08 •

Jasmine

Hoje o dia estava sinistro pra caralho. O movimento na favela estava intenso, várias bandidos subindo e descendo o morro com várias armas na mão. Ainda era pela manhã, eu estava saindo para trabalhar, mamãe foi passar uns dias lá com minha avó em Angra dos Reis, então apenas fechei tudo e segui caminho para o trabalho.

Movimento era intenso. Nunca vi tanto homem com arma pra cima como hoje. Claro que já teve isso em outros tempos, mas hoje estava intenso demais e como cria da favela que sou, sei que coisa boa não é.

Então segui meu caminho e pedi proteção ao meu papai do céu para que nada de pior acontecesse comigo e na favela.

Entrei no hospital e diferente de lá, o dia aqui estava mais tranquilo. Comecei meu procedimento como o habitual. Hoje eu estava na ala infantil, então tudo se encontrava tranquilo, eu amo essa ala, essas crianças são tudo pra mim. Cuido delas como se fossem meus filhos.

O dia passou tão rápido que já se encontrava a noite. Estava no meu horário, no entanto, eu esperava a colega chegar mesmo para poder finalmente ir embora.

Não sei como foi isso, mas do nada as coisas aqui começaram a ficar fora do controle, muitas pessoas baleadas chegando. Senti uma sensação ruim se instalar dentro de mim.

Peguei meu celular e a primeira coisa que fiz foi abrir o Twitter.

           🐦 @Tudo sobre Favelas RJ

       Guerra entre policiais e traficantes na nova holanda. Ainda não temos as informações concretas do que realmente aconteceu, mas sabemos que já tem vários feridos e alguns mortos.

Um frio gélido me subiu a espinha. Sei que minha mãe não está por lá, mas pela pouca notícia que tenho, o negócio está pegando fogo na favela, muitos de lá já se foram. É horrível. É inacreditável que no meio dessa guerra toda, tem muitas pessoas inocentes indo embora por meio de bala perdida.

            🐦 @Tudo sobre Favelas RJ

       Moradores acusam Policiais Civis de não darem opção para os traficantes se entregarem. Segundo o vídeo, eles estão encurralados, desejam se entregar, mas os agentes não permitem.

Eu estou perplexa com tamanha violência. Eu não acredito que em menos de alguns segundos, houve  tantas mortes assim.

Saio dos meus devaneios e ligo ligeiramente para a minha mãe.

─ Mãe?

─ Filha, tudo bem? Estou preocupada com as nossas coisas.

─ Eu também, mãe. Mas fica aí, não sai daí, eu vou deixar as coisas se acalmarem e vou lá em casa ver se está tudo ok. Vou para outro plantão aqui no hospital porque o fluxo aumentou.

─ Apenas tome cuidado.

─ Não se preocupe. ─ digo e em seguida desligo a ligação ao se despedir dela.

Saí da ala infantil começando o meu trabalho por aqui e haviam muitas pessoas com ferimentos graves, até crianças. Eu só queria que isso passasse, sério, meus pensamentos estavam todos lá, na minha casa, minhas coisas que tanto lutei para conquistar junto da minha mãe. O meu maior medo era isso. Pra muitos não é nada, para nós que lutamos tanto no dia a dia para ter nossas coisas, é horrível, o meu medo era entrar policial ou até mesmo os caras lá querendo fugir deles.

[...]

Já era pela amanhã quando o fluxo do hospital se encontrava mais estável. Eu estava muito cansada, com sono, não tinha notícias de quase nada, vinte e quatro horas sem dormir não é pra poucos. Olhei no meu celular e falaram que lá encerraram a operação e que a polícia conseguiu pacificar uma boa parte.

Saí do hospital pegando um uber até a entrada da favela. O sentimento ruim me angustiava por dentro. Recebi várias mensagens de Lawara avisando que estava no Salgueiro porque as coisas pegaram lá no morro ontem e ela correu pra lá.

Cheguei na entrada da favela e diferente das outras vezes, quem estava na barreira eram os policiais. Tentei passar por eles, mas fui parada, apenas respondi de onde era e eles deixaram eu seguir caminho.

Meu coração estava palpitando dentro do meu peito incessantemente, senti minha vista escurecer, meu corpo tremer, de longe eu vi os vidros da minha casa todos quebrados. Senti lágrimas vir em meus olhos, inundando minha vista, mas o pior estava por vir, quando abri a porta, eu não consegui falar mais nada, não estava acreditando no que meus olhos estavam enxergando.

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Betagem e revisão por Fada_Jimin

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