XVII. Seventeenth.

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[#017] DÉCIMO SÉTIMO — Aquela sobre os cacos de um coração partido.

Algumas semanas se passaram desde aquele incidente de depois do show.

Jeongguk estava diferente.

Um diferente ruim.

Sentia que nós estávamos um pouco distantes, e sabia que pelo menos uma pequena porcentagem de culpa por isso acontecer pertencia ao estúpido empresário e a maldita conversa que teve com o Jeon no camarim.

Não havia muito que eu pudesse fazer além de tentar confrontar meu namorado sobre isso, mas Jeongguk estava impenetrável.

Raramente nos víamos, que dirá termos uma conversa!

Por isso, quando escutei o telefone residencial tocar à noite, nem me dei ao trabalho de levantar da cama. Pouco depois do primeiro toque, Namjoon já tinha ido atender por nós.

Estava refletindo no quarto, observando o teto na maior tranquilidade, pensando se em algum momento as coisas voltariam ao normal entre Jeongguk e eu.

No entanto, quase cai da cama quando o Kim mais velho praticamente arrombou a minha porta.

— É a avó do Jeongguk. — Anunciou.

Estranhei de imediato. Jules nunca havia ligado pra mim, especialmente de madrugada. Aquilo era muito esquisito.

E tudo piorou quando analisei melhor a expressão de Namjoon, percebendo o quanto ele parecia preocupado.

— O que ela quer? — perguntei, já andando ao lado dele até o telefone.

— Hm… É melhor ela mesma te falar.

Ele ficou na cozinha, longe do alcance de minha visão.

Peguei o telefone e o aproximei timidamente e com um tanto de receio de minha orelha, percebendo imediatamente que Jules estava chorando no outro lado da linha.

— Jules? O que aconteceu? — questionei, e naquele momento já estava apavorado.

Tudo piorou quando soube o motivo do choro da mulher.

[ 🍒 ]

Vinte e quatro de novembro. Ironicamente, o mesmo dia que Freddy Mercury morreu em mil novecentos e noventa e um.

O destino tinha um humor ácido.

Eu segurava o guarda-chuva acima da cabeça de Jeongguk para evitar que ele se molhasse com a chuva. Porque sim, naquele dia os céus comumente ensolarados e azuis de San Francisco estavam escuros.

Tudo parecia triste.

Marcel, o avô de Jeongguk, descobrira tarde demais que tinha um tumor maligno na cabeça. Os médicos fizeram tudo que puderam, mas ele infelizmente faleceu pouco tempo depois do diagnóstico.

As lágrimas desciam em silêncio pelo rosto do Jeon. Seu olhar estava inexpressivo. Ele parecia um robô.

Seokjin passou o braço por cima de seus ombros, o abraçando de lado. Yoongi fez o mesmo, assim como Maria e Bonnie. Jimin estava um tanto assustado com toda a situação, encolhido perto de mim.

Jules estava inconsolável. Ela iria ficar com os pais de Jeongguk lá em Nova York por algum tempo, até que se recuperasse pelo menos um pouco.

— Conversamos com o empresário e ele vai ganhar duas semanas de pausa. — O Min sussurrou no meu ouvido. — Ji e eu já combinamos tudo com o Namjoon. Acho que vai ser bom se você ficar com ele nesses próximos dias.

— Certo. — Assenti.

Ele bateu suavemente no meu ombro e voltou para perto de Jeongguk.

Seriam dias difíceis.

Se o Jeon fosse capaz de amar alguém em sua vida, esse alguém era Marcel.

Desde a primeira vez em que lhes vi juntos, eu soube que possuíam uma ligação especial. Na última vez que puderam estar juntos, eu vi nos olhos do Jeon; eu vi o quanto ele amava seu avô e o quanto estava triste por perdê-lo.

Algo em Jeongguk morreu naquele dia.

[ 🍒 ]

Como previsto, os dias que se seguiram foram complicados.

Jeongguk não estava bem.

Precisava praticamente enfiar comida e líquido em sua garganta à força para que se alimentasse e se mantivesse saudável.

Arrastava-o para o banho, tirava-o da cama e até mesmo tinha de ajudá-lo a se vestir.

Ele não parecia estar vivo. Parecia que estava apenas existindo.

Então, no dia em que eu voltaria ao meu apartamento, antecessor do final do curto recesso de Jeongguk, o maldito empresário nos ligou. Tinha, inclusive, acabado de chamar um táxi 'pra mim.

Observava Jeongguk pendurado ao gancho do telefone, ainda sem esboçar qualquer ânimo — embora conseguisse ouvir a voz do outro homem de longe; seja lá o que fosse, provavelmente iria lhe dar muito dinheiro e reconhecimento.

E realmente foi.

— E aí? — perguntei, manso, quando ele colocou o aparelho de volta no gancho.

— A Euphoria foi convidada a fazer uma tuor na Europa. — Disse, cruzando os braços e se escorando na parede. — Nós vamos ficar fora cerca de dois meses.

— Isso é incrível, Guk! — exclamei; indo abraçá-lo, mas estranhei o fato de ele ter recuado e me afastado. — Hm? O que foi?

— Você não vai com a gente, Taehyung.

— Ah, eu já imaginava. — Falei, sendo compreensivo com a situação. — Sem contar que tenho a faculdade… Enfim, não estou chateado nem nada do tipo. Relaxa.

Sabe, de todas as formas que imaginei que fôssemos chegar ao fim, essa estava em último lugar.

— Você não 'tá me entendendo. — Seu olhar era frio. — Agradeço por ter ficado comigo nesses últimos dias e por todo o resto, mas sinto que este é o momento em que nós seguimos por caminhos diferentes.

Lembro que quase consegui escutar todos os pequenos cacos do meu coração caindo no chão e se partindo em pedaços menores ainda. Senti uma dor insuportável no peito e meus olhos se encheram de lágrimas, mas não me permiti derramá-las na frente dele.

— O quê? — perguntei, desacreditado.

— Você me ouviu. — Reafirmou. — Estou terminando com você, Taehyung.

O interfone do apartamento tocou e o Jeon atendeu, logo anunciando que o meu táxi já tinha chegado.

Peguei as malas. Meu orgulho me impediu de pedir ajuda ao outro, o qual já estava tranquilamente acomodado no sofá, bebendo uma latinha de refrigerante da Cherry Cola.

Mas havia pelo menos uma dúvida que eu gostaria de tirar antes de ir. Somente uma.

— Jeongguk. — Chamei.

— Hm? — perguntou sem me encarar.

— Você me amou em algum momento?

Suas órbes brilhantes me fitaram.

Como sempre, porém, Jeongguk não me respondeu. Ele apenas ficou me olhando enquanto eu deixava seu apartamento — e, de quebra, sua vida.

Não olhei 'pra trás. Bati a porta.

Mas a pose de durão caiu no mesmo instante que pisei no primeiro degrau.

As lágrimas correram soltas.

Com um pouco de dificuldade, peguei o celular no bolso, o abrindo e discando o número da única pessoa que tinha certeza que iria apenas me ouvir, sem tentar me fazer correr atrás do Jeon no aeroporto como em um estúpido clichê.

Irene.

Chamou algumas vezes. Ela atendeu quando eu cheguei ao térreo.

— Alô, Tete?

— Rene… — Choraminguei, entrando no táxi, o qual já me aguardava na entrada do prédio. — Eu te prometi que não ia ligar de madrugada dizendo que ele partiu o meu coração. Pois bem, é apenas o fim de tarde.

cherry cola | taekookWhere stories live. Discover now