Epilogue.

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[#019] EPÍLOGO — Aquela sobre uma realidade onde você ainda me ama.

Taehyung estava confuso.

Já estava sentado no fundo daquele restaurante tão elegante há quase uma hora, bebendo o seu terceiro drinque da noite. Não era dessa forma que ele tinha planejado passar aquela sexta-feira.

Wooshik lhe ligara e dissera para ele ir até ali e ter um pouco de paciência. Logo, o Kim mais velho imaginara que fosse porque o outro estava de volta à San Francisco e desejava encontrá-lo mais uma vez. Quem sabe, poderia até ter mudado de ideia e considerado sair romanticamente consigo.

Mas Taehyung já não era mais tão paciente quanto costumava ser há alguns anos atrás.

— Hm-hum. — Um homem subiu no pequeno palco que havia mais à frente no restaurante. — Essa noite, iremos ter, além de um show muito especial, a apresentação de um vídeo. — Uma tela desceu aos poucos na parte de trás do palco e as luzes foram diminuídas. — Aproveitem!

O Kim suspirou, entediado. Apoiou o rosto na mão, e ficou girando o canudinho no copo com a que ficou livre.

Na tela, uma animação simples começara a rolar. Eram bonequinhos de palito até que fofinhos, não poderiam negar.

— Sabe — uma voz surgiu —, há vinte e dois anos, eu escolhi o sucesso ao invés do amor verdadeiro. Ao longo de minha vida, eu sempre tive dificuldade de compreender e expressar o que sentia, de definir quais deveriam ser as minhas reais prioridades.

"Ah, não", Taehyung pensou. Ele conhecia aquela voz.

— Esse detalhe me fez perder muitas pessoas. — Continuou. — Mas nenhuma dessas perdas doeu tanto quanto vê-lo me dar as costas naquele fim de tarde.

Engoliu em seco. Puta merda, isso não podia estar acontecendo pra valer…

— No momento em que você fechou a porta, eu desabei. — Disse. — Eu chorei, gritei, quis correr atrás de você, mas eu fui um idiota. — Suspirou. — Isso é o meu maior arrependimento. Me persegue até os dias de hoje porque… — Os bonequinhos da animação, que antes agiam conforme a narração, agora se separaram, indo cada um para um lado. — …eu te amo. Eu sempre te amei, desde a primeira vez em que te vi até hoje.

A tela subiu de volta para cima e o narrador veio até o centro dele com um violão em mãos. Todas as pessoas ali presentes entraram em choque.

Jeon Jeongguk, o JK da Euphoria, estava bem ali, diante de seus olhos.

— Essa música foi escrita há mais de vinte anos atrás, para a pessoa que já amei de verdade. — Ele acomodou-se em um pequeno banquinho.

Quando os olhos de Taehyung encontraram os dele, foi como se uma corrente elétrica fortíssima atravessasse seus corpos. As faíscas da paixão que sentiam um pelo outro jamais se apagaram.

Jeongguk começou a tocar, a melodia não era nem calma nem agitada.

— Essa eu fiz 'pra nós dois bêbados dançando numa festa de gente rica e sem graça — cantou —, essa eu fiz 'pra toda letra dos Bee Gees que eu decorei porque você disse que gostava, essa eu fiz 'pra sua avó só porque ela é tão linda e sempre sabe o que dizer, essa eu fiz 'pras tuas quedas na calçada, tua risada alta, essa eu fiz 'pra você.

Taehyung não sabia o que fazer.

Não sabia se corria ou não.

Escutou seu celular vibrar em cima da mesa e, pela barra de notificações, viu que Wooshik havia lhe enviado um link por mensagem.

Poderia usar isso de desculpa e fugir dali 'pra ver o que era. Simples. Mas então por que não conseguia se mexer?

— Essa eu fiz 'pra cada lugar que a gente se beijou, essa eu fiz 'pra minha jaqueta jeans, 'pra minha blusa do Taz, 'pra toda a roupa que você tirou. Essa eu fiz 'pra todo show lotado em que eu me perdi na letra porque eu pensei em você, essa eu fiz 'pra cada estrela linda que por baixo da língua você me fez ver.

Sentiu algo molhado percorrer suas bochechas. Estava chorando?

— Essa eu fiz 'pra cada passo nosso, cada dia lindo da nossa história. E sendo essa sobre o nosso amor, há também de ser sobre o dia em que você foi embora. — A melodia ficou mais calma. — Sobre minha blusa do Taz desbotada, sobre sua avó tão muda quando eu ligava, sobre eu bebendo sem você do meu lado, sobre eu chorando quando lembro que fui o errado…

Mais uma vez, fizeram contato visual.

Taehyung quis… Ele nem sabia. Queria mil e uma coisas ao mesmo tempo, estava completa e desesperadamente perdido.

— Eu já tinha desistido de mim, a minha vida é sempre assim. — Prosseguiu. — Eu tinha uma vida sem cor, você coloriu tudo e ainda sim te afastei… — Uma breve pausa seguida de um suspiro. — Mas essa eu fiz 'pro nosso amor, oh, oh, oh. Essa eu fiz 'pro nosso amor, Taehy.

Não dava mais.

Ele sentia que ia explodir.

Agarrou o celular, largou qualquer quantia sobre a mesa e se retirou a passos apressados.

Jeongguk já havia lhe visto dar-lhe as costas para si antes.

Mas, dessa vez, não iria cometer o mesmo erro burro de mais de duas décadas atrás.

— Taehyung! — abandonou o violão e saiu correndo em disparada atrás de seu amado, decidido. — Taehyung, por favor!

Avistou o Kim não muito adiante, mas ele não se virara, por mais que fosse óbvio que estava lhe escutando.

— Taehyung! — gritou de novo, dessa vez com toda potência que sua voz lhe permitiu.

Ele parou de andar.

Lentamente, virou-se, de braços cruzados.

Jeongguk já tinha enxergado ele nos dias atuais, mas não tão de perto. Não envelheceu como a maioria, parecia ainda estar na casa dos vinte anos.

Taehyung sempre fora um deus.

— O quê? — ele perguntou. — Anda, me diz, o que você quer de mim? Quer que eu volte 'pra você agora, porque compôs uma música 'pra mim? É isso?

— Não. — Respondeu, se aproximando de pouco em pouco.

— Então o quê? — descruzou os braços, os batendo nas laterais do próprio corpo. — O que você quer, caralho?

Estavam frente a frente. Olho no olho.

Aquelas malditas galáxias estavam vivinhas nas órbes escuras do Jeon, e isso irritava Taehyung, mas também fascinava. Ele sempre seria meio rendido por aquele bastardo que, agora, tinha cabelo preto e longo; jamais diria em voz alta, mas combinou com ele.

Tudo sempre ficaria bom em Jeon Jeongguk.

— Não posso ter o que eu quero, Taehyung, já é tarde demais 'pra te pedir isso.

Ele ia chorar.

Já estava de olhos marejados.

Os braços do Kim coçavam. Ele queria abraçá-lo, dizer que poderia pedir qualquer coisa que ele daria um jeito de conseguir, mas não se rebaixaria a esse nível. Não era nenhum capacho, não mais.

— Só queria pedir perdão. — Disse. — Por não ter sido sincero com você no passado, por ter escolhido a merda da fama ao invés de ficar contigo. Eu só queria que soubesse que penso em você todos os dias.

Se Taehyung fosse um pouco para frente, os seus lábios tocariam os do Jeon. Se lhe desse as costas, provavelmente nunca mais o teria tão perto como naquele momento.

Um passo definiria o futuro dos dois. Estava apenas em suas mãos. Ou melhor, pés.

— Sabe — começou —, assim como a sua música favorita dos Scorpions, I still loving you, Jeongguk. Mesmo hoje.

— Mas amar não é sinônimo de final feliz.

— Eu sei bem. A vida não é um conto de fadas. Nós quem escrevemos nossas próprias histórias.

Dito isso, o Kim tomou sua decisão.

cherry cola | taekookWhere stories live. Discover now