XVIII. Eighteenth.

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[#018] DÉCIMO OITAVO — Aquela sobre os diferentes pontos de vista de uma mesma tragédia.

— E o que aconteceu depois? — Wooshik perguntou, quase caindo do banquinho onde estava sentado ao lado de Taehyung no bar de tão inclinado que se encontrava, compenetrado na história.

Taehyung suspirou tristemente.

— Fui à casa de Irene. — Contou. — Eu passei o restante daquele dia chorando nos braços dela e acabando com seus sorvetes e chocolates.

O mais jovem dali sentia as lágrimas descendo por suas bochechas, as secando constantemente apenas para que fossem substituídas por outras.

Realmente, contos de fadas não existem na vida real, raros são os finais felizes.

— E… quanto a ele? — perguntou. — Digo, ele nunca tentou te contatar? Sei lá, te mandou um cartão-postal de algum lugar que visitou nas viagens? Voltou à locadora?

— Sim. — Mordeu o lábio inferior. — Jeon ligou para minha avó algumas vezes, mas desligava antes de dizer qualquer coisa de fato. Isso me deu esperança por um tempo, mas ele parou de fazê-lo.

— Só isso?

— Eu me demiti da locadora logo depois que isso aconteceu. — Explicou, mexendo nos próprios dedos. — Mark me contou que uma vez ele foi até lá depois de uma tuor no Japão, tarde da noite. Ele não chegou a entrar, apenas olhou do lado de fora. — A voz do Kim tornou-se mais baixa. — Por alguma razão, Jeongguk sempre volta 'pra cá, mas nunca para mim.

Wooshik assentiu, genuinamente triste.

— Bonnie largou a banda porque o empresário não estava permitindo que ela fosse à reabilitação. — Explicou. — Nós nos reencontramos e nos tornamos amigos próximos desde então.

— Sempre me disseram, pelo fandom, que ela é incrível.

— E realmente é. — Sorriu, mas logo tornou-se sério novamente. — Eu não sei quando aconteceu, mas em algum momento eu passei a odiar Uma Linda Mulher, as músicas do Queen, filmes de terror, praias, a Califórnia, a cor das cerejas… Sinto muito, sei que é seu patrocinador, mas eu odeio a Cherry Cola. — Suspirou. — Tudo que me faz pensar nele me deixa tão irritado…

Taehyung colocou a cabeça entre as mãos, se abaixando um pouco.

— Mas, ao mesmo tempo, lembrar dele me deixa tão feliz… — Não percebeu quando começou a chorar. — Pensar naqueles olhos que pareciam conter o universo inteiro, na risadinha fofa, em como ele ficava bonito quando sorria… — Se ergueu, encarando o jornalista. — Eu odeio não conseguir sair desse lugar porque é 'pra cá que ele vem depois dos shows, eu odeio amar aquele desgraçado; odeio o fato de continuar amando ele sabendo que ele nunca me amou.

Respirou fundo, engolindo o choro.

— Quero parar de falar por aqui. — Anunciou, já se levantando de onde estava. — Eu tenho um bebêzinho com problemas para respirar sozinho em casa, já deveria ter voltado há muito tempo.

— Ah, você tem um filho? — os olhos de Wooshik se iluminaram com a possibilidade de Taehyung ter adotado ou tido uma criança por meio de barriga de aluguel com outro homem em algum momento. Ou mesmo tentado algo com uma mulher, nunca se sabe.

— De quatro patas.

Oh.

— Até mais, Wooshik.

Quando Taehyung estava deixando o bar, acenando para Warrick e sendo rapidamente seguido por Bonnie, Wooshik também se levantou. Ele se apressou e agarrou o pulso do Kim, que lhe encarou confuso com sua atitude.

— Muito obrigado por me contar sua história, de verdade. — Falou, tímido ao sentir o celular vibrando em seu bolso, sinal de que a gravação antiética que vinha fazendo ainda estava rolando. — Eu... Desejo tudo de bom pra você.

Taehyung sentia os cacos de seu coração balançando dentro de seu peito, sentia suas feridas antes quase cicatrizadas agora ardendo, suas mãos suavam, sua cabeça doía… Ele estava uma bagunça.

— Não tem de quê. — Disse, apenas.

[ 🍒 ]

Wooshik já havia digitado toda a grande história de amor, dos melhores aos piores detalhes, censurando apenas os nomes dos envolvidos e as cenas mais quentes por respeito a Taehyung.

Respeito. Ele sequer pediu autorização ao homem para contar aquelas coisas.

Mas o importante era finalizar o trabalho, certo? Bastava só ele enviar o arquivo finalizado ao seu superior e estaria livre de San Francisco, daquele calor insuportável e daquelas malditas praias.

No entanto, ali estava Wooshik, encarando o computador como se fosse um bicho de sete cabeças.

Ele lera todas as palavras daquela história — mais de uma vez — e percebera certas coisas que alguém cego pela paixão, como Taehyung, e alguém confuso, como Jeongguk, jamais perceberiam.

Aqueles dois se amavam.

Não precisava ser um grande gênio para perceber que as letras que Jeongguk escrevia para a banda, aquelas que os fãs tanto teorizavam sobre, eram totalmente iguais à certas coisas que o Kim mais velho lhe contara.

Jeon também lembrava de casa detalhezinho, porque ele também não esquecera do outro.

— Se eu não fizer isso — dizia para si mesmo, andando de um lado para o outro com uma taça de vinho em mãos —, eu nunca vou me perdoar! Eu preciso pelo menos tentar!

Taehyung já havia sofrido todos esses anos sem saber se fora realmente amado, ele não merecia passar o resto da vida sem uma simples resposta!

Com esse pensamento, Wooshik se colocou em frente ao computador, digitando o email que a banda de Jeongguk usava para contato no destinatário ao invés do de seu chefe, junto de um humilde pedido…

[ 🍒 ]

Parte do rapaz estava surpresa por ver que Jeongguk, o super astro da atualidade, estava realmente diante de seus olhos.

Não só isso, Jeongguk se prontificou a contar sua versão da história e ainda permitiu que ela fosse publicada, contanto que o nome de Taehyung — e somente o dele, pois Jeongguk em si já não ligava para nada do que diziam a seu respeito — fosse censurado.

Por ser uma figura de prestígio, a Magic Shop enviara maquiadores, um pessoal para iluminação e filmagem e ainda disponibilizara um estúdio enorme para a gravação de um vídeo desse relato.

Era isso que Wooshik observava naquele momento: Jeongguk sendo tratado como uma peça frágil, como um bibelô fora da estante, por uma onda de staffs.

Mesmo que tudo que soubesse sobre o cantor viesse de outros fãs ou de Taehyung, Wooshik conseguia notar que Jeongguk não era mais a mesma pessoa confusa que foi durante a época em que teve aquele sórdido relacionamento com o Kim. A aura dele estava diferente, quase radiante.

Parte do jornalista temia pelo que estava por vir, temia pelo que Jeongguk estava prestes a contar. Mas, mais do que tudo, Wooshik queria dar uma conclusão para as dúvidas que atormentavam Taehyung até os dias de hoje, queria dar respostas aos seus questionamentos, mesmo que essas respostas não fossem aquelas que Taehyung — e ele próprio — realmente gostariam de ouvir.

— Tudo pronto, Wooshik. — Um dos staffs anunciou.

Wooshik foi até seu lugar, ao lado da câmera, dando um sinal silencioso para Jeongguk começar a se preparar para falar.

Suspirou, torcendo para estar fazendo a coisa certa ali.

— Três, dois, um…

— Agora — Wooshik começou a dizer assim que a gravação começou —, vamos ver o outro lado da moeda.

cherry cola | taekookWhere stories live. Discover now