Colorido em Preto e Branco

Capítulo 24

Sentado no sofá enquanto bebia mais uma cerveja, Alfonso fitava o teto do apartamento já que a TV ligada servia apenas como música de fundo, a gravata frouxa e o paletó jogado em um canto da sala. Passou horas remoendo aquele beijo, tanto que quando Christian chegou do trabalho já de madrugada o encontrou acordado.

Christian se sentou ao lado do amigo no sofá: Chegou agora?

Alfonso: Não. – Negou sem ao menos olhá-lo.

Christian brincou: Está de mal humor? A noite não foi como você esperava?

Alfonso: Peguei Anahí se agarrando com o ex.

Christian arregalou os olhos surpreso: O noivo?

Alfonso: Isso mesmo. - Respondeu amargo.

Christian: E você está assim por ciúmes ou por ter sido "traído"? - Perguntou fazendo aspas com os dedos.

Alfonso: Um pouco dos dois. - Assumiu com um suspiro – Mas foi melhor assim, pelo menos eu descobri como ela é de verdade antes que me envolvesse.

Christian: Se envolvesse ainda mais você quer dizer, porque eu o sinto informar, mas envolvido você já está meu amigo.

Alfonso passou as mãos pelo cabelo nervoso: Eu sei.

Christian: Tem certeza de que foi isso mesmo que aconteceu? A Any não me parece a pessoa que faz esse tipo de coisa.

Alfonso: Eu vi, Christian! Os dois estavam se beijando.

Christian: Deixou ao menos ela se explicar?

Alfonso: Tinha o que explicar?

Christian deu de ombros: Não sei. Mas pelo que você me contou esse ex dela não é muito confiável.

Alfonso: Não quero mais falar sobre isso. - Disse encerrando a conversa e se levantando – Vou tomar um banho e dormir. Quando acordar amanhã não quero mais escutar o nome dessa mulher, ok?

Christian: Ok. - Respondeu se dando por vencido – Boa noite.

Alfonso: Boa noite. - Desejou indo para o banheiro.

Mas se de um lado predominava a raiva por se sentir enganado, do outro a mágoa por tudo o que havia sido dito começava a sobrepor a tristeza pelo final de uma história que nem teve a oportunidade de começar.
A segunda-feira amanheceu ensolarada, Anahí estava a caminho do trabalho e usava enormes óculos escuros em uma tentativa quase inútil de esconder as olheiras pelas poucas horas dormidas no fim de semana. Ela olhava pela janela achando irônico que o céu estivesse tão azul enquanto sua vida passava por um momento tão cinza. Chegou na agência antes de Maite e foi direto para sua sala, talvez o trabalho a fizesse esquecer nem que fosse por algumas horas o acontecido na festa, já estava começando a se distrair em meio a tantos papéis quando a amiga passou como um furacão pela porta.

Maite: Me conta tudo! - Pediu ansiosa.

Anahí ergueu os olhos da tela do computador e a fitou: Você não está atrasada?

Maite: Estou e você não me parece com alguém que teve um excelente fim de semana. – Constatou preocupada – O que houve?

Anahí: Deu tudo errado. - Disse simplesmente.

Maite: Perdeu a coragem de se declarar? - Anahí negou com a cabeça - Fala Any!

Anahí: Ele pegou o Christopher me beijando.

Maite: O que? - Praticamente gritou se sentando na cadeira em frente a ela.

Anahí: Isso mesmo que você ouviu, eu ia falar com ele, mas não deu nem tempo.

Maite: Como isso aconteceu? - Perguntou abismada.

Anahí: Eu fui procurar um banheiro, Christopher me puxou para um quarto e começou a falar uns absurdos, chegou a propor que eu fosse amante dele.

Maite: Que nojo! Quando penso que já vi de tudo esse cara consegue me surpreender.

Anahí: É claro que eu neguei, mas ele começou a querer insultar o Alfonso e disse que ia me mostrar que era mais homem que ele, quando dei por mim ele já estava me beijando, até tentei me soltar, mas foi inútil.

Maite: Aí o Alfonso chegou...

Anahí: Exatamente. E disse umas coisas horríveis, falou que eu me fazia de vítima, mas era igual a Dulce e o Christopher.

Maite: Não acredito que ele falou isso! Que babaca!

Anahí deu de ombros: Bom, foi isso, no começo da noite eu até falei para ele que queria ter uma conversa depois do casamento, mas não deu.

Maite: Own amiga, por que você não me ligou? Eu só não apareci porque achei que vocês estivessem juntos e não queria atrapalhar.

Anahí: Não tem problema, eu estava precisando mesmo ficar sozinha e digerir tudo.

Maite: Ele disse mais alguma coisa?

Anahí: Que eu me tornei um nada. - Respondeu mordendo o lábio inferior como uma tentativa de impedir o choro que ameaçava vir novamente.

Maite: Sinto muito, sei que você estava gostando dele.

Anahí: Eu vou esquecê-lo.

Maite: Você não me parece tão segura quanto a isso.

Anahí: É porque não estou. - Confessou.

Maite a olhou sem reação e falou a única coisa que parecia se encaixar no momento: Vai passar, com o tempo você não vai nem se lembrar disso tudo.

Anahí: Espero que não demore. Prometi a mim mesma nunca mais chorar por homem nenhum e olhe o que aconteceu! Fracassei com sucesso.

Maite: Você não fracassou.

Anahí a ignorou: Não devia ter me permitido envolver.

Maite: Any, olha para mim. - Pediu e Anahí a encarou - Você não pode se privar das coisas boas por causa do que aconteceu com o Christopher ou com o Alfonso.

Anahí: Mas...

Maite a interrompeu: Nada de mas! Você é jovem, linda, bem sucedida, trabalha com o gosta... como pode falar em fracasso?

Anahí: Classificar minha vida amorosa como feliz seria uma mentira das grandes.

Maite: Isso é um mero detalhe. - Desdenhou - Já dizia minha mãe, antes só do que mal acompanhada.

Anahí sorriu de leve: Tia Dora sempre sábia!

Maite: É sério Any, não se deixe abater, ok? Se Alfonso não acreditou em você é porque ele não te merece.

Anahí: Obrigada pela força.

Maite: Oh, você ainda não viu nada! Após o expediente iremos exorcizar esses homens da sua vida! - Respondeu confiante e Anahí soltou uma risada, a primeira desde a noite de sábado.