| IV |

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SCOTT

Devo ir para o Oeste em memória a minha mãe. Ela tinha coragem, força, inteligência e era uma ótima líder. Mas essas coisas não são hereditárias. Queria fazer isso em honra a sua memória, em honra ao nome Willians, mas eu não sou ninguém mais que Scott Taylor. Alguém que teve a sorte de ser um dos 5%.

Encaro o teto. Não consigo pregar meus olhos. Sempre que os fecho me lembro dos gritos do homem que estava torturando. Pulo da minha cama de palha e visto minha capa com capuz por cima das roupas de dormir.

As luzes do andar de baixo estão apagadas, então acendo apenas o lampião elétrico que estava no meu criado mudo. Me dirijo a estante de livros e pego um que estava lendo a um tempo. Ao me sentar na cadeira, e colocar o exemplar sobre a mesa me deparo com um uma bolsa de tecido barato que conheço muito bem.

- Amber esqueceu aqui. - Murmuro sozinho.

"Bem," penso "eu posso ficar em casa e ler meu livro, ou aproveitar minha noite insone conversando com minha melhor amiga, tendo uma boa desculpa para chegar lá no meio da noite."

Pego a bolsa e abro a porta lentamente para evitar fazer barulho. Caminho em meio as ruas completamente vazias e escuras, passando pelos becos mal iluminados, que me lembro dos postes acesos até durante o dia no Oeste, esse era um dos motivos para eu cumprir a jornada que tanto postergava em aceitar, acabar com essa diferença gritante, ajudar os que são iguais a mim, iguais a Millie, iguais a meus antepassados, iguais a Amber, iguais a Charlie...

Chego em frente a porta de minha amiga e dou duas batidas de leve. Me encosto na parede ao lado e espero alguns minutos, mas ninguém responde. Fico por mais um tempo sentindo o vento gélido bater no meu rosto, me enrolando na capa grossa, quando decido que não vou mais esperar nesse frio.

Me concentro em gerar um jato fino de água de minha em direção ao centro da janela do quarto de Amber. Como eu esperava, não demora muito para que ela levantasse e olhasse para fora.

- Scott? - Ela sussurra alto ao abrir a janela.

- Abre a porta. - Respondo no mesmo tom.

Já dentro da casa, acomodados na mesa da cozinha, ela me pergunta:

- Por que está aqui?

- Você esqueceu isso. - Entrego a ela sua bolsa.

- Muito obrigada, claro que poderia ter vindo em um horário mais razoável, mas tudo bem.

- Não vim aqui só por isso... - Falo baixo - Vim aqui por que não conseguia dormir.

- Daí você resolveu me acordar? - ela gesticula pra si mesma.

- Sim... - Ficamos em silêncio por alguns minutos que pareciam horas, até Amber dizer:

- Então... Você vai embora amanhã...

- Sim, eu vou...

Ela fica em silencio, seus olhos estavam triste e a vê-la assim me deixava do mesmo jeito.

- Espero que não me esqueça

- Como poderia? - Sorrio e com um certo esforço ela faz o mesmo.

- Sabe de algo? Eu me lembro o exato momento que a gente se conheceu, - Ela desvia olhar e encara a mesa, sorrindo - o exato momento que eu coloquei meus olhos em você. Quando eu mais precisava de alguém, você esteve lá, meu ombro amigo. Mesmo com as circunstâncias, você me fez muito feliz, Scott. Eu sei que se tivesse outro jeito, você ficava aqui, desse lado, com a Millie, comigo e com a Nova Geração. Mas sabendo que isso não é possível, queria te dizer... - A expressão no rosto de Amber era indecifrável, por um segundo pensei ter visto lagrimas desapontando nos seus olhos âmbar, mas ela limpa o rosto e olha no fundo da minha alma. - Que eu sempre te amei.

A Peste de Best KendalWhere stories live. Discover now