Capítulo 20 - Aceita um chá?

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A confeitaria ficava há poucos metros da minha casa. Era o lugar onde Mai e eu costumávamos tomar café da manhã quando ela começou a trabalhar no escritório. E de cinco anos pra cá, aquela torta de morangos se tornou a sua favorita. Por isso, eu sabia que apesar do seu mal humor por causa do aniversário, aquele era o presente perfeito pra amenizar a fera.

- Ora ora, voltou rápido menino! – Charlie falou assim que me viu sentado a mesa.

- Digamos que houve um... acidente com a tonta anterior. – Respondi com um sorriso. – Será que poderia conseguir outra? Sei que só trabalham com encomendas, mas é pra Mai.

- Eu não negaria nada pra minha menina. Ainda mais sendo aniversário dela, vai ter sua torta.

Charlie é o dono da confeitaria. Um senhor, por volta dos 80 anos, muito simpático e que apesar da idade, insistia em continuar trabalhando. Como estávamos sempre por ali, Charlie acabou adotando os dois jovens na casa dos 20 e poucos anos, acho que por isso sempre seríamos os seus meninos. Teve um tempo em que o negócio não andava bem e Mai e eu acabamos ajudando a reerguer trabalhando ali aos finais de semana sem cobrar. Hoje graças a Deus, a loja anda bem, mas caso precisasse com certeza Charlie poderia contar com a gente.

- O que vai querer? O de sempre?

- Não, pra mim só um cappuccino, depois vou conseguir arrancar da Mai um pedaço da torta.

- Isso se você tiver a sorte de encostar um dedo nessa torta. – Charlie sorriu. – E essa jovem bonita o que vai querer? Aliás até que enfim trouxe a sua namorada, finalmente alguém pra endireitar o meu garoto!

Foi nesse momento que eu perdi a voz. Charlie sempre me alfinetava com essa história, aliás, tanto eu quanto Mai costumávamos ser cobrados quanto a isso. Ele vive dizendo que já estamos na idade de formar família e bla bla bla. Teve até um tempo que ele pensou que eu e ela pudéssemos namorar, mas logo percebeu que isso nunca aconteceria. Nossa relação era especial demais pra ser perder assim.

- É, hum... eu não... quer dizer... ele é meu chefe. – Nick conseguiu dizer graças a Deus. Já estava vendo Charlie enchendo a garota de perguntas.

- Oh sério? E que crime você cometeu pra merecer isso querida? – Charlie acariciou os cabelos dela e Nick sorriu pela primeira vez e puxa! Eu tinha que admitir que era um belo sorriso!

- Também não sei, mas deve ter sido algo muito grave a ponto de levar uma tortada na cara. – Ela respondeu o fazendo rir.

- Ah não... não me diga que a torta de aniversário foi parar em cima de você! – Charlie arregalou os olhos surpreso e ela gargalhou. Acho que a raiva estava indo embora, ao menos é o que eu espero.

- Dos pés a cabeça! – Concordou. – Foi um jeito um tanto humm... diferente de experimentar a torta.

- Ah não seja por isso! Vou te trazer agora mesmo um pedaço e um chá que super combina com ela. – Charlie anunciou. – Eu gostei dela, não estraga nada. – Ele sussurrou no meio ouvido, deu duas batidinhas no meu ombro e então saiu.

Eu espero que Nicole não tenha escutado a última parte. Seria constrangedor e acho que minha cota de passar vergonha no dia já estava preenchida.

O pedido veio logo em seguida e ela pareceu verdadeiramente encantada com a torta de morango. O primeiro pedaço que ela provou a fez fechar os olhos e o gemido de aprovação me surpreendeu. Quantas pessoas conseguem provar algo e parecer tão.... tão... oh era melhor nem pensar ou isso iria nos levar pro caminho errado.

- Eu estava pensando... esse seu plano de comemorar o aniversário da Mai no parque de diversões a noite não tem como dar certo.

- E por que não?

- Bem Chris... o senhor Chavez com certeza não irá gostar.

- E o que tem isso? Por acaso ele é casado com ela?!

Se Nick não estava preparada pra levar uma tortada na cara, eu muito menos estava pra levar um banho de chá. No entanto, foi exatamente isso que aconteceu. Nem deu tempo de desviar, quando percebi já estava coberto pelo chá que ela acabava de cuspir.

- O que... oh céus... me desculpa. – Pediu tão surpresa quanto eu. Olhei ao redor e éramos o centro das atenções no momento, mas também, não é de se estranhar, afinal quantas pessoas levam uma cusparada daquela? Que jeito diferente de oferecer chá!

- Bem... eu não queria chá, mesmo assim obrigado. – Peguei um guardanapo. – Espero que não tenha feito isso pra se vingar do bolo, mas mesmo assim, foi um belo troco não? 

- Eu não...

- Relaxa, só estou brincando com você. Não leve o que eu digo tão a sério... quer dizer, quando estivermos no trabalho aí sim você precisa levar a sério. – Resolvi deixar claro para não confundir a garota.

-Que menina meu amigo, não a perca de vista. – Charlie me jogou uma toalha e foi ótimo pra esconder o rosto agora vermelho. Por que os amigos têm sempre que fazer a gente passar por esses constrangimentos hein? As pessoas precisavam entender que fazer os outros passar vergonha não era nenhum pré-requisito pra uma amizade. – Aqui sua torta, traga Mai no sábado depois do evento. Se eu puder dou uma passada lá pra ajudar.

- Nem pensar meu amigo, você já fez mais do que deve. – Charlie resolveu oferecer o café da manhã pra todos os voluntários que vão participar da sessão fotográfica. Vamos levantar uma verba pro abrigo de animais e eu espero que seja um sucesso.

– Você também vai querida?

- Estão falando da sessão de fotos pro abrigo?

- Sim, como você sabe?

- Mai me convidou. Eu... espero poder ajudar.

- Com esse rostinho de anjo querida? Deveria se inscrever pra participar do leilão. – Charlie informou e tentei chutá-lo sem sucesso.

- Que leilão? – Perguntou curiosa. Tarde demais, agora não tinha como escapar.

- Durante o dia serão tiradas as fotos com os voluntários com os animais. A noite as fotos serão expostas e aqueles que desejarem podem participar do leilão beneficente.

- Humm e o que vai ser leiloado? – Está aí a pergunta que eu temia. Charlie e eu nos olhamos sem saber qual a melhor forma de explicar. – AH não, não me diga que... são os próprios voluntários? – Arregalou os olhos de chocolate.

- Não é o que você está pensando... quer dizer é... melhor dizendo, não é. – Cocei a cabeça sem nem eu mesmo entender o que estava falando.

- O que Will quer dizer é que vai ser leiloado uma dança, um jantar, um passeio do durante o dia... enfim, o que o voluntário quiser oferecer. Não há uma regra. O importante é se sentir confortável.

- Humm... interessante. – Foi o que ela disse e me pareceu um tanto enigmática. O que será que aquela cabecinha de terrorista está planejando? Porque uma coisa é clara, se ela conseguiu colocar a minha assistente pra correr, então podia qualquer coisa. - Muito obrigada Charlie, vou pensar no assunto. - Prometeu e meu amigo assentiu nos deixando a sós.

Eu não estava certo se foi uma ideia Mai chamá-la para o evento. Sim, quanto mais gente ajudando a salvar o abrigo melhor, mas por outro lado, eu tenho dúvidas se Nicole não irá causar qualquer tipo de confusão. De qualquer forma agora seria impossível voltar atrás, primeiro porque foi Mai que convidou e segundo que ela não permitiria uma grosseria dessas e eu sempre penso duas vezes antes de irritá-la. Além do mais, me sentia um pouco em dívida com a garota a minha frente, tanto pelo bolo na cara e também, não podia me esquecer que independentemente do método, ela conseguiu me manter longe da louca da Celine. O que só me dá uma alternativa: aguardar os próximos acontecimentos.

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Bem, acho que a Nick inventou um novo jeito de servir chá hahha

Quem inventou o amor?Where stories live. Discover now