10 - addio

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Pov Haku:

Ainda estava deitado encarando o teto acima de mim, pendendo a cabeça de leve para fora da cama. Por algum motivo minha mente estava em branco, talvez eu tenha pensado demais naquela briga e no Lucien e tenha me cansado.

Uma parte de mim também estava calma por ter Ryu do meu lado, estar com ele me dava a confiança que eu precisava, ele sempre pareceu forte e seguro de si, de uma forma que eu admirava quando era criança, mas agora entendo, é apenas um escudo para esconder seu verdadeiro eu. Poderia contar quantas vezes o vi chorar, e também poderia contar a velocidade que ele parava, eu queria dizer que ele poderia chorar as vezes, mas provavelmente Ryu acharia graça.

Mas seria hipocrisia se eu o julgasse, nós dois, tínhamos uma válvula de escape dos nossos medos e traumas, ele tinha muitas, e eu tenho o Lucien. Ou tinha. Todas as pessoas devem ter algo que preferem esquecer, que mudam o foco para se distrair da realidade.

Tento afastar os pensamentos, se eu continuasse pensando demais começaria a me martirizar novamente. Eu sabia muito bem porque optei por manter segredo sobre Miwa, era muito mais sobre mim do que ela, eu só tinha medo de perder as pessoas, eu queria agradar. Percebi, isso era deprimente, eu era deprimente.

Escuto o som de uma porta batendo com força, as janelas tremem com o choque. Resmungo para mim mesmo cedendo à curiosidade. Rolo da cama de forma preguiçosa para o piso gelado, caminhando em passos leves para a porta, entreabrindo e passando por ela silenciosamente, o corredor estava consideravelmente escuro para passar despercebido. Quando chego no final escuto as vozes agora audíveis, era Miwa e...

- eu quero que saia da minha casa. - era Lucien.

Eu podia enxergar sua silhueta atrás dela que estava de costas para mim. Seguro na quina da parede o limite do corredor escuro para a sala, nenhum dos dois notaram minha presença. Mas eu podia olhar para Luci, e cada fibra do seu corpo parecia rígida, ele deveria estar lutando para manter a compostura.

- Luci mas me deixe explicar. - ela tentou segurar seu ombro, mas ele desviou. - você entendeu tudo errado.

- eu entendi muito bem a sua Miwa. - retira o telefone do bolso.

- O Lucien é bondoso demais para pensar coisas ruins sobre mim, mesmo, ele enxerga qualidades nas piores pessoas. O Haku é só uma pedrinha do meu sapato que eu vou chutar pra longe e o Lucien vai ser só meu depois disso...

Ele pausa o áudio mesmo de costas eu podia imaginar a raiva estampada no rosto de Miwa agora.

- aquele desgraçado. - sussurrou. - ele está mentindo!

Lucien nem sequer moveu um músculo, para a mentira descarada, se os olhos de Miwa eram escuros e vazios como um abismo, os de Lucien eram azuis frios e petrificados como gelo, e se ele algum dia olhasse assim para mim, eu provavelmente teria medo, porque seu olhar sempre foi caloroso e atencioso comigo.

- Miwa eu juro que se não sair da minha casa agora eu não vou me responsabilizar por meus atos, eu estou pouco me fudendo se é minha aluna. Faça um favor para nós dois pegue suas coisas e saia.

- Me diz ao menos por que? Por que não me dá uma chance? - quem não a conhecesse sentiria pena. - eu fiz tudo isso por você, eu me vesti, eu falei, eu me comportei tudo para te agradar.

O sangue fervia em suas veias, ouvir tudo aquilo saindo com tanta naturalidade de sua boca... Era como se seus ex-namorados estivessem falando agora. Todos aparentavam os mesmos, interesseiros, possessivos, agressivos e problemáticos, e agora todos estavam em uma única pessoa a sua frente. Parecia que Lucien era um radar ambulante para eles estava cansado de ser usado, de ser feito de marionete e manipulado, Porque esperava demais das pessoas, confiava demais em quem era um ser humano imundo.

𝕆𝕙 𝕐𝕖𝕒𝕣 𝔹𝕒𝕓𝕪Onde histórias criam vida. Descubra agora